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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

" Em busca do Bem perdido "

Cristina Ribeiro, 09.10.18

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Escritores há, e deles alguns livros, que valem bem sigamos aquela máxima de Nelson Rodrigues "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre ". Assim é para mim, quase na mesma medida que Camilo, Tomaz de Figueiredo, e assim são alguns dos livros que dele já li. Como o Dicionário Falado, aquele em que nos fala dos Franciscos Gomes que lhe ensinaram muito do que sabia. De cada vez - e já foram algumas - que a ele volto, dou com entrelinhas em que não tinha reparado, tão rica é a escrita Tomaziana.
Agora mesmo, atrás de uma pesquisa por ela sugerida, dou com um sítio na Internet, novo para mim, deveras interessante, que me leva a devassar correspondência vária ou a revistar Bravães, onde já fui num Outono como o d'hoje, que tão bem diz com as palavras e sentir do homem que muito amou o seu pátrio Minho...

Num jeito que está longe de ser só meu,

Cristina Ribeiro, 12.07.15

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ponho de lado - só vou ali ler umas linhas! - o livro que tenho em mãos, e torno ao deleite de assistir, naquela noite na Toca do Lobo, à agitação que se gerou à volta da prima D. Maria do Socorro, quando a velha senhora tirou do saco aquele aparelho mágico que deixou que a Conceição, a Carolina e a Laura, moçoilas nada afeitas a tais modernices, espreitassem as " vistas " vindas das Estranjas, como a grande torre de ferro, que o Dioguinho dizia estar em Paris; é o cosmorama que o mano Francisquinho me trouxe das suas andanças lá por fora, dizia a prima...

Os « Franciscos Gomes » de Tomaz de Figueiredo ( 2 )

Cristina Ribeiro, 18.06.14
 
" Esperemos que a RDP ainda guarde as charlas radiofónicas do Tomaz, que deram origem depois à edição impressa do Diconário Falado. Que bom que era podermos ouvi-lo! ", escrevia há tempos um caríssimo amigo na caixa de comentários do blogue. Como me lembrei desta esperança quando há pouco liguei a televisão - só politicozinhos, desses que fazem a politicazinha que inça o nosso quotidiano. Programa de verdadeiro serviço público, como deveria ostentar a televisão estatal? Pois continua a sonhar!...

Os Franciscos Gomes de Tomaz de Figueiredo

Cristina Ribeiro, 18.06.14
 
Atesta Castilho nas « Escavações Poéticas » ser Francisco Gomes, homem do povo, " saído jamais dos seus montes, um dos mais chapados clássicos ".
Por seu lado, é nos Arcos de Valdevez e na Aldeia de Cima, as suas terras " sentimentais ", que o escritor nortenho, um eterno curioso e amante da nossa Língua, busca, e sempre encontra, matéria para alimento dos sempre presentes caderninhos de capa preta, onde alistava os vocábulos e expressões que o povo acalentava à revelia das academias.
Romanisca ( faceira, gaiteira ) ou regateiras-de-Abril ( chuvadas inesperadas, de pedraço muitas das ocasiões ),são exemplo de vocábulos e expressões que desesperava não achar nos dicionários. Nem no seu fiel Morais.
Da boca da senhora Lucília, ou da Maria Rodrigues, as escutava, quantas vezes ao serão, frente à lareira. Sempre com o pensamento no Dicionário Falado que um dia escreveria. Esse Dicionário a que volto mais uma vez.

Um dicionário único ( 2 )

Cristina Ribeiro, 25.02.14
 
« Licante »?; « Lapador »?; « regateiras-de-Abril »?; « arroz de goldras »?; « comer focinho de porco »?.........................
 
 
Livro póstumo, este, publicado em Dezembro de 1970, mas sobre o qual João Araujo Correia havia já escrito dois anos antes, n'O Comércio Do Porto, porque, necessariamente, acompanhara a sua génese, a sua elaboração, fruto do " enamoramento pelo vocabulário regional ainda vivo nos Arcos de Valdevez [ " terra de coração " do escritor bracarense ] e, aqui no Douro, em Aldeia de Cima, donde é oriundo, por qualquer costela, e aonde vem, de tempos a tempos, visitar Fausto José ".
 
São termos e expressões que colhe junto do povo, e que, por mais que procure a sua origem e sentido, esbarra com o silêncio dos dicionaristas, os quais " por vezes,sabem ainda menos que um - apre, que analfabetos! - e outras, frequentes, dão raia. ..."; é ainda junto desse povo chão que ele busca, e encontra, as tão apetecidas significâncias.
 

Um Dicionário único (1)

Cristina Ribeiro, 17.02.14

É uma expressão frequente cá nesta zona do Minho. Por mim, a primeira vez que ma atiraram foi aquando do exame da quarta classe: " comeste focinho de porco! ". Constava da prova a feitura de um trabalho em que deveríamos mostrar as prendas de mãos de cada um. Entre as raparigas era de uso bordar ; para o efeito tinha a minha mãe adquirido em retrosaria um pequeno pano com o desenho de um morangueiro - havia de guarnecer com linhas coloridas, enfiadas em agulha, um vistoso morango que saía de entre um par de folhas. Mas as minhas mãos não haviam sido talhadas para tal labor! E só com muita benevolência as examinadoras me despacharam com um " razoável " nesse, para mim, trabalho hercúleo. No fim do exame, de que me saíra bem nos restantes quesitos, fui brindada com aquele dito pela D. Maria, a minha professora. Foi esta expressão que fui reencontrar quando pela segunda vez me lancei na leitura do Dicionário Falado de Tomaz de Figueiredo: mãos pecas, desajeitadas, " maninhas ".

" Poeta de Portugal "

Cristina Ribeiro, 28.10.13
Que instinto te acorda e guia,
Da noite com que afliges
Esta tristeza sozinha
E amargurada do vale, 
Para a montanha distante,
Quando,
Como um audaz caminheiro,
Fugindo do cativeiro,
Alegre o sol vem cantando
Em sua estrada real?
...................................
......................................
 

Que era grande amigo de Tomaz de Figueiredo, fez-mo saber um amigo comentarista. Até então não sabia nada de Fausto José.
Acerca de uma visita a Ucanha e a Tarouca, falou-me em Armamar, no Douro, e que teria feito muito bem se tivesse subido um bocado até à Aldeia de Cima, onde o poeta acolhia amiúde o escritor de Valdevez. Fiquei com vontade de a visitar, claro, mas foi sempre um destino adiado até que me propus rever a, certamente - como vim a confirmar - já restaurada ermida de S. Domingos, ali vizinha ( freguesia de Fontelo ), e que se encontrava em obras de restauro.
Procurei os seus poemas e soube que a Câmara de Armamar os reeditou não há muito tempo. Mas não descansei até o encontrar, integrado na antologia « Líricas Portuguesas », coordenada por Cabral do Nascimento. Dela esta « Névoa ».

Revisitando Tomaz de Figueiredo.

Cristina Ribeiro, 02.03.12

No prefácio escreve Aníbal Pinto de Castro: " Não  sei de outro prosador que, como Tomaz de Figueiredo, tanto e tão bem tenha tocado música com as palavras da poesia".

                      Nada mais certo! À medida que me vou familiarizando com o solitário - « Que noite de solidão! Que solidão a minha! Só a conversar com sombras menos que fantasmas » - da Casa grande e gélida - « Deixa-te ficar aqui ao lume, porque para ti, bem o aceito, há-de estar muito frio.»- , quanto mais testemunho aquele monologar amargurado, qual  Senhor  Shakespeareano de Elsenor, em que se dirige à " mulher tanto mais amada quanto mais ausente", mais escuto a poesia, que nunca dissocia da música - «..meu amor, minha música, meu céu imaginado, Beatriz.... Ouve, que vou tocar-te um sonho que sonhei ».

"- Bem, Júlia, fecha a porta

Cristina Ribeiro, 02.03.12

                                 

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O que eu cá fico a conversar comigo.(...) A  conversar com ela própria, bem a senhora o tinha dito. Passada certa idade, as pessoas vêem sempre à roda um nevoeiro de sombras, vivem de diante para trás. Então naquela noite...Rezara e rezara, fiara e fiara, até espiar a roca, fora finalmente deitar-se, por ter de ser, quando não pouco tardaria em trazer as horas trocadas: o dia a ser noite, a noite a ser dia.

Um nevoeiro de sombras... E então naquela noite, em que dera e redera voltas na cama, em que ouvira todas as badaladas do relógio, até ao luzir da manhã... Que temporal ia fora, Santo Nome do Senhor ! Pois quem houvera de o cuidar, depois de tão quieto dia de sol ! Pelo alto bem ouvira grasnar corvos, sim, já era sinal de ventaneira brava, de trovoeira grossa"

             ( "Insónia" - «Novelas e Contos» de Tomaz de Figueiredo )

 

Mais um livro do Mestre minhoto, a fazer as delícias...

Abrir o volume à sorte, e encontrar sempre este purismo na escrita, esta limpidez na linguagem.Ouvir gente nossa a falar de coisas nossas...

« Se era fogo? Pois era.

Cristina Ribeiro, 02.03.12

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Ali numa daquelas casas só de lojas e de guerindés no telhado ».

Um vocábulo mais que me era desconhecido. Não, nunca o tinha visto mais gordo, em palavra escrita, ou sequer ouvido.

                 Como sucede quando leio Camilo, o Dicionário é a todo o instante folheado. Mas nanja! E foram vários a que perguntei. Esqueço;  - "perguntarei a uma pessoa mais antiga, pode ser..."

É então que, logo a seguir, o Tomaz vem em meu auxílio: « Que são guerindés?  Aquilo que chamais mansardas, e devíeis chamar trapeiras, ao menos. E guerindés até parece que os estamos a ver. Dessas tais palavras que falam...».