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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Como Gostava da História Pátria!

Cristina Ribeiro, 01.07.17

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" O pelourinho de Montalegre levantava- se na praça que ainda hoje tem o seu nome: o Largo do Pelourinho, situado no centro da vila. Pouco depois de 1890 foi transferido para o Largo do Toural... ; segundo Herculano ' o pelourinho é padrão e símbolo da liberdade municipal '... " . Era um autodidacta. Só com a Escola Primária, isso não o impedia de discutir a História de Portugal com quem quer que fosse. Um interesse imenso pela História Local levou-o a encher estantes com monografias de muitas das nossas terras, como esta. E gostava de as ler antes de visitar cada uma delas. Um gostar que herdei e Lhe agradeço todos os dias. O seu sonho era ter os conhecimentos que o habilitassem a fazer a da terra natal -S. Martinho de Sande. A Torre do Tombo, na Capital, tornou-se, então, um lugar de visitas frequentes, e era grande o contentamento quando encontrava, naquela casa que já fora dirigida por um seu conterrâneo, algum documento sobre a sua " pátria pequena".

Está inscrito no meu ADN, disse-lhe.

Cristina Ribeiro, 13.01.12

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Em conversa com uma amiga do facebook, disse que o amor pela História me está nos genes porque herdado do meu pai, um apaixonado pelos feitos e desventuras pátrios, que faz com uma grande parte da sua enorme Biblioteca seja ao tema dedicada. Autodidacta, pois não pôde ir além da Quarta Classe ( " mas bem feita ", como diz ), quando se trata dessa parte da historiografia sente-se como peixe dentro d'água.
E, desde a nossa mais tenra idade, tratou de inculcar esse amor na não pequena prole, o que, muitos anos depois, voltaria a fazer, agora com os muitos netos.
Era, assim, frequente a visita a museus, igrejas, e outros locais onde podíamos apalpar o pulso da vida dos que nesta terra nos antecederam. A lembrança mais remota que destas incursões guardo é a de uma visita, barulhenta e  agitada, à citânia de Sanfins, no concelho de Paços de Ferreira.

Na fotografia, a sépia, uma mulher jovem, de traços finos num rosto dominado por expressivos olhos castanhos,

Cristina Ribeiro, 25.01.11

 

 

aparentando entre 25 e 26 anos.

Por essa altura, disse-mo depois a filha, minha mãe, tinha já três filhos. O marido, carpinteiro e garfeiro, atravessara o Oceano, buscando no outro lado, numa fábrica de tabaco, o sustento de todos, que aqui não encontrava. Cartas atravessavam o Atlântico, mas a mulher achava que podia fazer mais para mitigar as saudades que o seu homem protestava a cada volta do correio.
Um dia vestiu a roupa de Ver-a-Deus, apanhou a camioneta para a cidade e dirigiu-se a um estúdio fotográfico: dali sairia com o retrato com que queria surpreendê-lo.Nele, trazido até nós, muitos anos depois, nenhum dos dois viva já, havia muito tempo, por um neto do dono da fábrica de tabaco, um pormenor que ressalta: sobre o coração a mulher prendera um raminho de amores-perfeitos.Eles falariam por ela quando a carta, que acompanhava a fotografia, chegasse ao seu destino, naquela América que já fora portuguesa. Mais eloquentes do que qualquer palavra que nela escrevesse.

Sabedoria de avó.

Cristina Ribeiro, 29.05.10

 

Quando estava na escola primária, aproveitava para, durante o recreio, matar a sede na casa dessa avó, que morava mesmo ao lado da Escola; sempre que lhe pedia um copo de água, ela dizia: -" não bebas água que faz mal; vai antes ao pipo...", e quando eu lhe respondia que lá em casa já me tinham alertado para os perigos de beber vinho em tão tenra idade, ela dava meia-volta e murmurava: -"modernices! "...

Que perda!

Cristina Ribeiro, 27.05.10

 

                                                                                               

 

Se fosse viva, a minha avó materna teria mais do que 120 anos: tinha a idade suficiente para ter passado por todos aqueles tumultos que marcaram os primeiros anos do século XX em Portugal. Tenho tanta pena de, na minha inconsciência da quase adolescente que era nos seus últimos anos, a sair de uma infância a que já chamei dourada, apesar dos pesares, longe ainda de me fixar naquilo que, alguns anos mais tarde, iria evidenciar-se na pessoa em que me estava a tornar - o gosto supremo de remexer no passado -, não ter conversado com ela sobre as muitas histórias que viveu. Tantas, avó, tantas, certamente. Quantas saudades.