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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Alfredo Pimenta e o iberismo

Cristina Ribeiro, 19.12.17

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" Que as circunstâncias de um momento possam conduzir-nos a uma cooperação ocasional, compreendo; mas transformar essa precariedade, essa momentaneidade, em perenidade e sistema, em princípio e norma de vida, só pode pretendê-lo quem desconheça por completo a História de oito séculos de Portugal, ou a conheça mal- que é, ainda, pior. (...) Entre a hostilidade,que formalmente condeno, e a tese ( que António Sardinha foi buscar a Oliveira Martins ), de uma política militar e diplomática comum, que decididamente rejeito, há lugar para a única posição sensata que a História justifica: a da simpatia fundada na compreensão recíproca da independência plena dos nossos respectivos interesses. "

A portugalidade de Teixeira de Pascoais

Cristina Ribeiro, 13.12.17

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( Serra do Marão )

" Cada Pátria tem o seu Verbo, e uma alma inconfundível, portanto " Teixeira de Pascoaes, ' O Génio Português ' " Um dos aspectos mais curiosos do nacionalismo de Teixeira de Pascoaes ( no sentido lato de encarecimento dos valores nacionais ) é a ligação indissociável que o autor estabelece entre a Língua, a paisagem ou a alma do povo " Maria das Graças Moreira de Sá, ' Cadernos do Tâmega '

E, de novo em hora incerta, Portugal a falar-nos, nas palavras de António Correia d'Oliveira.

Cristina Ribeiro, 01.12.17

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" Portugal assim dizia/ Quasi sempre em dôr tamanha!/ Assim prégou aos seus filhos/ Novo Sermão da Montanha.// Honra os teus Mortos. E' deles/ Que tu vens. Deves-lhe culto/ Que são os vivos? - A Sombra/ Dos Mortos que fazem vulto// . - Povo! Povo! eu chamo... Escuta/ Repara em mim: vê e pasma/ Sombra e chagas do que fui.../ Fiseram de mim um fantasma// Onde irei? A ser escravo?/ Velho e rôto vagabundo/ Aos encontrões, ás esmolas/ Aos enxovalhos do mundo...// Povo! em ti, confio e espero/ Como foi no tempo antigo/ Has de salvar-me...Ou ao menos/ Saberás chorar comigo// "

" Vocês sabem lá... "

Cristina Ribeiro, 20.02.15

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Eram da Holanda, esses dois casais amigos que tanto gostavam de passar o mês de Agosto numa casa que temos lá no Alto Minho. Numa dessas estadias entre nós, estávamos nos anos 80 do século passado, numa altura em que se anunciava já a adesão de Portugal à CEE, uma das senhoras disse que os portugueses ainda haviam de se arrepender de dar tal passo; que não sabíamos o que nos esperava... E ainda estávamos longe da União Europeia -do Tratado de Maastritch -, do Acordo de Schengen, do Tratado de Lisboa, o tal que só quem sabemos achou " porreiro "...

« És Português, filho meu. E basta! ninguém é tanto »

Cristina Ribeiro, 18.06.14
" ... António Corrêa de Oliveira, é, porém, especificamente português. As figuras que apresenta e levanta, os horizontes que desvenda, a própria atmosfera ao mesmo tempo fervorosa, heróica e melancólica evocada nos poemas, pertencem, de raiz, a Portugal. ( ... ) ... entusiasta pela nossa gente, os nossos costumes, as nossas paisagens "
João Ameal

Caminhos do vale em monte,
Caminhos do monte em serra:
Como eu vos sei, passo a passo,
Caminhos da minha terra!

Como eu vos amo e conheço,
Caminhos dos pinheirais, 
Onde hão-de vir os meus filhos,
Por onde andaram meus pais.

Altos caminhos da serra,
Quem vos abriu e riscou?
- Ou foi sombra de águia, aos voos
Ou foi Jesus que passou... -

Caminhei... De pequenino,
Fui de ladeira em subida; 
Agora, vou a descer-vos, 
Caminhos da minha vida!

Que triste e bom, ao voltar,
Ao descer lá dos altos cimos,
Ir encontrando as pegadas
Dos passos com que subimos...

Não há caminho em nossa alma,
Não há caminho no chão,
Sem eco, sem sombra, ou saudade
Dos tempos que já lá vão.

Todas as veias do corpo
Ao coração vão parar:
- Caminhos, veias da terra
Ao derredor do meu lar! -

" Neste momento caótico da nossa Pátria,

Cristina Ribeiro, 25.11.13

é necessário que todas as forças reconstrutivas se organizem e trabalhem, para que ela atinja rapidamente a sonhada e desejada harmonia. ( ... ) Renascer é dar a um antigo corpo uma nova alma fraterna em harmonia com ele. O Passado é indestrutível; é a treva onde o homem mergulha as raízes do seu ser, para dar à  nova luz do futuro a sua flor espiritual.

A Pátria portuguesa viveu; atravessou depois alguns séculos de morte. ( ... )

É preciso chamar a nossa Raça ao sentido da sua própria vida, e poderá gritar entre os Povos: Renasci!

Ora, esta obra sagrada compete ao espírito português, a todos os portugueses que encerrem no seu ser uma parcela viva da alma da nossa Pátria. ( ... )

E então um novo Portugal, português, surgirá à luz do dia. "

 

Teixeira de Pascoaes

A Grécia foi a arca, Portugal a barca

Cristina Ribeiro, 05.11.13
O pensamento e o movimento. O movimento é o pensamento.
Portugal é o nome de Portugal e não de outra coisa fora dele. O nome está revelado, o que nos parece é que a plenitude significativa está em trânsito. Ainda não sabemos qual a profundidade deste símbolo, Portugal. Pode não ter, sequer, qualquer profundidade, para além do que nos é dado daber.
Contudo, as potências actuais do espírito português estão intactas: o lirismo, o sentido do metafísico (a ideia de que há mais mundo, e mais universo, e mais futuro...) a consciência do enigma, a tensão da saudade, alma da nossa natureza, e também uma literatura singular, e ainda, no princípio e no fim, a vocação de um pensamento filosófico que não se esgota no sistema, antes se recria mediante a arte poética.
Sendo Portugal o nome de Portugal, este nome en-se apresenta-se-nos também como um mesmo para o outro, quer dizer: o nome de Portugal não se esvai em si mesmo, e não vale para si mesmo, antes vale para o outro. Português já foi adjectivo para sinonimizar cristão, e Portugal já foi nome para a Igreja, sobretudo a Oriente, em que os povos evangelizados não distinguiam entre Portugal e Igreja, mas tudo isso era recebido através de um mesmo e único nome: Portugal. A revelação, aletêia, raro se resume a um acto instantâneoe decisivo. Em geral, a revelação é como uma viagem: vamos andando e vendo, vendo e andando, por forma que a revelação só se conclui no final. Caso a viagem tenha final.
Ora, a viagem simboliza, e de que modo, o sentido português de pensar todas as coisas. Dizia o poeta: «não evoluo: viajo». Abismal diferença filosófica entre evoluir e viajar! como e evolução fosse, alfim, mutuação na fixidez e, pois, um fixismo, e viagem fosse, alfim, transformação no movimento e, pois, um dinamismo! Por isso dizemos que tudo se acha por revelar. O que nos foi dado saber acerca de Portugal ainda é, apenas, um acerca, um ad cerca, uma aproximação, mas longe ainda de nos ser possível olhar para o dentro de dentro, para o santo dos santos. Aqui, e mais uma vez, nos parece uma similitude parcial com o povo de Israel. Também ele, cativo, progride, mas sem que lhe seja dado chegar ao interior. O Messias continua tão distante como no princípio do tempo. E todavia, para Israel, «o Senhor virá».
N'Os Lusíadas, o Velho do Restelo é uma alegoria da Europa. Diz a Europa a Portugal: não saias de casa, não partas em viagem. Fica. E Portugal partiu. Mancebo da Europa, cavaleiro do Graal, aventureiro do sonho, viajeiro do infinito, sem saber para onde ia, nem se regressava, nenhuma dessas coisas fazia parte do jogo. Importante é viajar, descobrir, trazer as trevas à luz. O símbolo português é a âncora. Deveria ser o único símbolo aposto à esfera armilar na bandeira portuguesa. Toda a viagem lusíada acha símbolo na âncora, que não serve apenas para fixar o navio, mas serve para exprimir esperança.

Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 137.