"Que, no alto do principal de seus livros, confessasse Stendhal havê-lo escrito para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal..." Inicia assim o primeiro livro que li de Machado de Assis: «Memórias Póstumas de Brás Cubas»; o outro foi «Quincas Borba», e o Paulo Cunha Porto já me aconselhou vivamente a leitura do «Memorial de Aires». Sobre o escritor brasileiro escreveu José Osório de Oliveira: " Foi um autodidacta, que se formou na Biblioteca do Gabinete Português de Leitura(...), viveu sempre longe dos grandes centros de civilização literária, prodigalizou-se em colaborações jornalísticas, e, já na fase de maturidade, passou a ser, e ainda hoje é, o mais original escritor do seu país. tendo a sua obra sido marcada pela quase ferina análise da alma humana." Autor de vários títulos, universalmente reconhecidos, como atestam as numerosas traduções das suas obras mais representativas, " por dois factos- além daquele, primordial, que é a pureza da linguagem-, está Machado de Assis indissoluvelmente ligado à literatura portuguesa: a influência que sofreu de Garrett, do qual colheu a lição de sobriedade, clareza e ática elegância, e a que, como crítico, exerceu sobre Eça de Queirós, pois que, moralista e com uma, embora contida, concepção dramática da vida, ao analisar «O Crime de Padre Amaro», apontou-lhe como grande defeito, o facto de parecer comprazer-se na pintura de um caso de amoralidade". Esta opinião terá calado fundo no espírito do escritor português, como resulta da sua obra posterior.
Abril de 2008