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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Pinharanda Gomes: Pascoaes e a alma da Europa

Cristina Ribeiro, 26.12.17

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( ... ) na visão de Pascoaes e mesmo de Pessoa, ( a Europa ) constituía um desordenado conjunto sem forma própria, qual " massa amorfa " esperando a hora de ser tendida. ( ... ) Os pequenos países, desde que possuam uma identidade cultural e uma autonomia de pensamento, podem subsistir e sobreviver através das pressões dos grandes, embora as ameaças económicas levem os povos ao receio e ao temor. Pascoaes, e com ele os principais pensadores da ' Renascença Portuguesa ', seguidos, de modo diferente, mas no essencial convergente, pelos ideólogos do Integralismo Lusitano, deu relevo às culturas pátrias. in ' Nova Águia '

O escritor como revelador de mundos.

Cristina Ribeiro, 22.02.15

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" Meu querido amigo: sempre que o negócio da aguardente me leva aí, à tua encantadora terra, descubro, em cada viagem, em cada saída para essas encantadoras quintas, de carro, a cavalo ou a pé, inéditos encantos em paisagens e costumes, belezas que decerto vos escapam, a vós, indígenas descuidados. ( ... ) não tendes olhos para o dionisíaco esplendor que vos cerca, andais sempre de viseira caída, sempre as pupilas baixas a fossar no lodo " Ao ler esta passagem de mais um livro do autor cuja obra, magnifica obra, por ora me ocupa - Sem Método -, de João de Araújo Correia, eis-me novamente a subir as serras desse Douro alcandorado, na esteira do meu quase conterrâneo poeta, aquele João Penha, que aos amigos Gonçalves Crespo ou Guerra Junqueiro perguntava porque se deslocavam eles, se como ele não careciam de sair do confortável sofá para viajarem para onde a sua vontade os levasse - disso os seus amados livros se encarregavam.

Continuando a viagem há pouco encetada com Séneca,

Cristina Ribeiro, 27.01.11

através das cartas que escreve, o encanto imorredouro dos clássicos, desta feita na forma de uma chamada de atenção a Lucílio, que acusa de volúvel na amizade, no passo em que o diz desconhecedor do que, verdadeiramente, é esse sentimento.

" Dizes-me que entregaste a carta a um amigo teu, para me trazer, mas em seguida aconselhas-me a não trocar impressões com ele sobre quanto te diz respeito, pois nem tu próprio o costumas fazer. Quer dizer, na mesma carta deste-lhe e recusaste-lhe o título de ' amigo '. Ora bem, se tu usaste esta palavra não no seu verdadeiro sentido mas antes em sentido genérico, e lhe chamaste " amigo " tal como a todos os candidatos chamamos " respeitáveis cidadãos ", ainda é aceitável; se consideras, porém, amigo alguém em quem não confias tanto como em ti próprio, então cometes um erro grave e mostras não conhecer o significado da verdadeira amizade . "

 

É bem o  « filósofo da condição humana », como lhe chamou o Padre Manuel Antunes, que nos fala de valores inerentes ao ser moral que habita em cada um de nós.

Muito consciente da maior das ignorâncias em Filosóficas,

Cristina Ribeiro, 27.01.11

 

 

 

muito fruto da total inaptidão de um " professor ", daqueles que a confusão que se instalou no ensino no seguimento do 25 de Abril encarregou de leccionar uma disciplina em que, claramente, se sentia como peixe fora d'água, o interesse que mais tarde essa matéria me suscitou foi sempre sendo objecto de um " mais tarde ", até porque consciente da dificuldade do autodidactismo em tal sede. É assim que, nomeadamente do estoicismo apenas retenho, de leituras avulsas e muito superficiais, noções muito vagas, excessivamente vagas. Vem este mal-amanhado arrazoado a talho de foice, pois que entre os livros que ontem me calharam em sorte, um título me atiçou a curiosidade a pontos de com ele iniciar a leitura que uns dias de férias permite; « Cartas a Lucílio », de Séneca, de quem sei apenas ter sido um dos maiores expoentes dessa escola filosófica, de onde retiro este saboroso excerto: " Tanto aquilo que me escreves como o que oiço dizer de ti fazem-me ter boas esperanças a teu respeito: não viajas continuamente nem te deixas agitar por constantes deslocações. Um semelhante deambular é indício de uma alma doente.: eu, de facto, entendo que o primeiro sinal de um espírito bem formado consiste em ser capaz de parar e de coabitar consigo mesmo. " E convenço-me de que esta " amostra " promete belas viagens.

 

Em busca de leituras nunca perdidas.

Cristina Ribeiro, 27.01.11

 


 

 

Continua o labor de colocar os livros na estante, mas, uma vez limpo, é mais um livro que não via " há séculos ", de que  tenho boas recordações, e lá me sento a folheá-lo, a reler bocados de uma escrita bem conhecida, pois que nele aparece já o Proust que encontrei, e nele me espelhei, mais tarde no « Em Busca do Tempo Perdido »; a melancolia introspectiva que despontava já, as memórias de infância a que então voltaria.

E, como a manta  que tecia aquela que nunca deixou de acreditar no regresso de Ulisses, nunca mais a tarefa a que deitei mãos chega ao fim.

 

Como um Poema na noite escura

Cristina Ribeiro, 01.12.10

 

 

«Noite de agonia. Sofrimento moral e sofrimento físico conjugaram-se para castigar-me a alma e o corpo. O demónio da solidão veio visitar-me e tive de acender a luz para expulsá-lo.  Manhã abominável como a noite. Mas bastou uma palavra tua para deter-me no caminho a que regressava. Foi como se a clara luz dos teus olhos dissipasse as minhas sombras»

(João Bigotte Chorão, in « Diário Quase Completo)

Dos livros.

Cristina Ribeiro, 09.05.10

 

Quando me preparava para ler este livro, resolvi procurar alguma crítica na internet, mas o que encontrei foi este ~pungente lamento, que mexe com quem quer que goste de livros:

 

A Luís Forjaz Trigueiros

 

João Bigotte Chorão descreve a sua perplexidade perante a desagregação de uma bilbioteca num leilão. "Não me foi dado ver ali o amor do livro, o livro como instrumento de cultura, mas o livro considerado como «mercadoria» valiosa, se tem boas gravuras, encadernações de luxo ou é de uma tiragem especial, em melhor papel, numerada e rubricada. De modo que nós, que amamos sobretudo os livros pelos autores e pelos temas, sentimos um certo mal-estar quando os ouvimos licitar como se estivéssemos na lota do peixe. Não poucos livros são depreciados como o chamado «carapau do gato», escreve na carta dedicada a Luís Forjaz Trigueiros.

 

Meu querido Amigo,

Lá se cumpriram os fados: a sua biblioteca – parte da sua biblioteca – já se dispersou por várias mãos e o mesmo aconteceu (como dizer-lhe?) a um núcleo significativo do seu rico acervo epistolar. Conhecendo o seu escrúpulo em tornar públicos escritos privados – e terá sido esse escrúpulo a fazê-lo hesitar quanto ao destino da sua correspondência passiva, que nós gostaríamos de ver preservada em organismo adequado –, mais nos dói que tantas cartas sejam como folhas varridas pelo vento e em mãos que talvez as não estimem. Se fosse o meu Amigo a dispor desse epistolário, certamente manteria a sua unidade, com a eventual triagem de alguma carta mais confidencial ou reserva da sua consulta por um determinado período de tempo.

Estive – e pode imaginar com que sentimento de desconforto – no leilão. Não me foi dado ver ali o amor do livro, o livro como instrumento de cultura, mas o livro considerado como «mercadoria» valiosa, se tem boas gravuras, encadernações de luxo ou é de uma tiragem especial, em melhor papel, numerada e rubricada. De modo que nós, que amamos sobretudo os livros pelos autores e pelos temas, sentimos um certo mal-estar quando os ouvimos licitar como se estivéssemos na lota do peixe. Não poucos livros são depreciados como o chamado «carapau do gato».

Como foram à praça também livros meus, com dedicatória, adquiri-os, obviamente, por módico preço. Ninguém para os disputar, não se tratando de autor consagrado nem de edições de encher o olho. Num deles – um diário – chamou-me a atenção uma passagem assinalada à margem, como se, por um sentido premonitório, adivinhasse o leitor atento o que havia de acontecer à sua livraria: «[…] além do meu fraco instinto de bibliómano, logo me desanima a ideia de ver dispersa, sabe-se lá por que dramáticas razões, uma biblioteca que alguém, amorosa e pacientemente, formou».

Aflorava por vezes, na sua conversa, a desencantada consciência de que nada restaria depois da sua morte. Crítico, ensaísta, cronista, jornalista, ficcionista, histórias da literatura há que nem uma linha lhe concedem, como se não tivesse existência literária. E, além de tudo quanto escreveu, há toda a sua acção cultural, intermediário que foi entre homens de várias gerações e diversas convicções. Sem perda das suas, era um homem de diálogo. Isso igualmente se vê na sua extensa correspondência passiva, agora (não sei de nojo com que o conte!) vendida a retalho. Quantas cartas, e de grandes escritores, com expressões de simpatia e admiração, e quantos correspondentes lhe batiam à porta para ouvirem uma palavra de estímulo ou lhe pedirem uma recomendação. Não é verdade que nos anos 40 a 60 tinha boas relações nos meios literários e da imprensa?…

Lembro-me que o seu tão admirado Afonso Lopes Vieira dizia de Garrett – o «divino» Garrett! – que, ainda mais notável pelo que escrevera, o fora pela estrada que abrira na literatura portuguesa. O garrettismo, ou melhor, o neogarrettismo tem, ainda hoje, quem siga na esteira do mestre. Aí temos, entre outros, o Luís Forjaz Trigueiros das Paisagens Portuguesas, tão nosso e tão europeu e civilizado. E aí temos mais um exemplo de como os valores nacionais não se opõem aos valores universais, antes são parte de um todo.

Ao testemunhar a dispersão do seu rico espólio literário, senti, meu caro Amigo, como que o vento gelado do Eclesiastes. Há um tempo para juntar e outro tempo para dispersar. Mas há quem tenha o dom da previdência que lhe permite acautelar os bens – mesmo os bens de valor sobretudo intelectual ou afectivo – para além da própria morte. Há um tempo de perder e outro tempo de ganhar.

Com um abraço que gostaria que fosse de conforto, despede-se
o seu muito grato

João Bigotte Chorão

Outubro de 2003

 

 

No mesmo alfarrabista onde, há tempos,em plena rua, numa banca improvisada,

Cristina Ribeiro, 27.04.10

comprei um livro sobre Olivença, olhei com uma pontinha de inveja o senhor que, quando me preparava para pegar no livro « A Lâmpada que não se apaga », de Adolfo Simões Müller, sobre Florence Nightingale, a enfermeira da Guerra da Crimeia, se me antecipou e arrematou o único exemplar.

Mote para lembrar todos os outros livros juvenis que li do escritor: « As Aventuras do Trinca Fortes », sobre Camões, « O Capitão da Morte » sobre o  explorador inglês Walter Scott, « O mercador da Aventura », sobre Marco Polo, o livro sobre Madame Curie, cujo título não recordo, e alguns mais, que a memória não reteve.

" Aos tropeções nos pedregulhos da rua,

Cristina Ribeiro, 27.04.10

que o calcetamento de Olivença ainda é contemporâneo dos Templários, embrenhámo-nos no coração da cidade. A magestosa torre de menagem (...) e, contraste percuciente para a nossa sensibilidade luzíada: o letreiro em língua castelhana acavalita-se sobre a mancha enegrecida dum venerando escudo português "

 

Há dias assim. Sai-se de casa a fim de passear pelas ruas ensolaradas, mas frias, a pedir cachecol e luvas, e logo na principal artéria comercial de Braga, pedonal, - Rua do Souto- , deparo com uma banca onde um senhor -de Vila Verde, venho a saber depois - dispôs uma boa dezena de livros, a maioria deles com a capa solta, quando não rasgada. Paro frente a um, com a chancela da Portugalia Editora, da autoria de Matos Sequeira e Rocha Junior. Datado de 1924, fala de uma Olivença um pouco diferente da que conheci, mas nem tanto assim. Volto para casa com o livro na mão, e enquanto o frio lá fora, adivinho-o, se intensifica, vou-me aquecendo nestas páginas já um tanto vetustas.

" Se já viveste em Coimbra algum tempo, leitor,

Cristina Ribeiro, 23.01.10

 

has-de lembrar-te, de certo, d'aquellas deliciosas e amenissimas noites, com que Deus felicita a cidade letrada, desde que a primavera principia a espalhar flores por cima dos jardins e dos prados, até que o outonno se pôem a desprender dos ramos das arvores a folhagem amarellecida ".

Começa assim, com uma escrita que encontro atractiva na simplicidade descritiva de um ambiente sentido tão português, o livro que, em boa hora me aconselhou o caro Atrida: « A Caldeira de Pero Botelho ». Num primeiro momento, e porque desconhecia o escritor recomendado, Arnaldo Gama, pensei que facilmente o encontraria nas livrarias, mas logo o aconselhador me iria desenganar: talvez o encontrasse num alfarrabista, em tendo sorte... Fui então pelo caminho mais fácil: perguntar ao meu pai, ele mesmo inveterado frequentador desses templos de livros que não se encontram já no mercado livresco; e é que tinha mesmo! A recomendação de o tratar bem, pois que duma primeira edição, de 1866, se tratava... Coisa de bibliófilos, essa de assim valorizar primeiras edições. Eu, a quem importa apenas o que no livro posso ler, será que um dia vou ceder a tal culto? Para já pouco me importa o ano em que foi editado, porém, com tal professor não me atrevo a dizer " nunca ".

Mas o objectivo primeiro deste apontamento é o de falar nas grandes potencialidades da blogosfera, dentre elas a de dar a conhecer novas penas.