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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Porque já é Outono...

Cristina Ribeiro, 07.11.16

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Que azáfama que ali vai! É tempo de podar as árvores que nos acolheram no Verão à sombra das suas folhagens. E um sentimento de tristeza: a catalpa amiga que vejo do meu quarto, onde me refugiava nesse tempo de canícula agora totalmente nua, agora despojada das folhas largas, magnânimos verdes leques ... No chão a roupagem outonal que trajou até há bem pouco tempo, amarela aqui e ali, mas verde ainda, num verde desbotado talvez... Uma certeza porém, a consolar a visão castanha, de tronco ferido: mal o Inverno comece a despedir-se elas, as folhas verdes, muito tenrinhas no começo, muito delicadas ainda, voltarão e com elas a alegria da paisagem verde...

Num jeito que está longe de ser só meu,

Cristina Ribeiro, 12.07.15

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ponho de lado - só vou ali ler umas linhas! - o livro que tenho em mãos, e torno ao deleite de assistir, naquela noite na Toca do Lobo, à agitação que se gerou à volta da prima D. Maria do Socorro, quando a velha senhora tirou do saco aquele aparelho mágico que deixou que a Conceição, a Carolina e a Laura, moçoilas nada afeitas a tais modernices, espreitassem as " vistas " vindas das Estranjas, como a grande torre de ferro, que o Dioguinho dizia estar em Paris; é o cosmorama que o mano Francisquinho me trouxe das suas andanças lá por fora, dizia a prima...

" Está do vosso agrado, o cabritinho? "

Cristina Ribeiro, 20.02.15

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Perguntava a sorridente dona do restaurante da beira-da-estrada, onde paráramos, adiantada que ia a hora para calarmos o esfomeado estômago; porque isto de apreciar paisagens de encher o olho não era de modo a satisfazer o vazio que há muito sentia, ia dizendo... E pronto! lá estávamos nós frente a crepitosa lareira, enquanto lá fora o céu muito azul convivia com o frio que enchera de neve a serra que da janela nos espiava, numa brancura imaculada. Estávamos, mais uma vez, em terras de Barroso. Vilarinho de Negrões, havíamos nós lido na tabuleta à entrada da acolhedora povoação. Que sim, o manjar estava de jeito a ninguém botar defeito...

Ler. Sempre gostei de ler, desde que aprendi a fazê-lo.

Cristina Ribeiro, 23.04.14

E esse meu gostar sempre foi incentivado pelo meu pai: do mesmo modo que é agora o meu, adulto já, gostava de  livros infantis, pelo que saíram da sua então pequeníssima estante os primeiros livros que li, antes ainda de recorrer à Biblioteca Itinerante da Gulbenkian. Gostava de ler,  e de ver os filmes que passavam na televisão, domingo à tarde. Era do que mais gostava.

Veio depois a fase de gostar de escrever: escrevia diários em cadernos escolares, e nas férias escrevia - e gostava de receber - cartas aos amigos. Até que, quando fiz 16 anos, a turma me ofereceu um Diário a sério, lindamente ilustrado. Quando o acabei, voltei aos cadernos escolares, e agora, que tinha ido para Lisboa, já não esperava pelas férias para escrever cartas.

 Como acontece com muitos adolescentes, começara a escrevinhar aquilo que, pomposamente, chamava de poemas. Mas depressa me deixei disso, por cedo ter chegado à conclusão de que quem nasceu para sapateiro, a mais não deve almejar. Voltei, pois, aos meus cadernos de escrita diarística, para consumo interno, sempre com os livros dos meus autores preferidos ao lado. Preferências que, naturalmente, se renovavam com o passar do tempo e das próprias leituras. Mas as palavras escritas, pelos outros, ou por mim, sempre me foram necessárias.

" Há tanto tempo a não via, e que saudades, Deus meu! "

Cristina Ribeiro, 30.09.13

A meio da manhã resolvi passear um bocado por esses caminhos, desfrutar deste tempo magnífico com que São Martinho nos tem presenteado;  emociona tanta beleza: no céu, muito azul, mas também nas árvores, cujas folhas adquiriram cores que vão do vermelho escuro ao dourado, passando pelo laranja...

         Estava neste contemplar, e embrenhada nestes pensamentos, quando vejo passar uma carroça, puxada por um burrico, carregada de sacos que logo vi estarem cheios  de milho: o moleiro, de uma outra aldeia, viera buscar as espigas para moer o grão no moinho de água, disse.

Numa altura em que os poucos lavradores da terra  moem o cereal no moinho eléctrico que têm em casa, esta foi uma visão que enriqueceu o meu dia.

O Klaus e a Kinski.

Cristina Ribeiro, 15.10.10

 

Escrevi este postal, noutro blogue, pouco depois da Kinski ter sido atropelada; hoje transcrevo-o porque logo de manhã vi, no caminho para o trabalho, um gatinho muito parecido com ela: preto e de patinhas brancas.

 

"Lentamente, com um olhar de intensa concentração, levantou-se e dirigiu-se para mim, como Tarquínio galopando arrebatadamente; depois equilibrava-se e estendia a pata dianteira e acariciava-me a face como eu costumava acariciar-lhe o queixo- uma carícia humana vinda de um gato" (Sylvia Townsend Warner).

Juro que não falei à Sylvia na minha relação com o Klaus, mas é mesmo assim: "nem mais nem menos, Maravilhosa!"

Por ter querido abarcar o mundo todo, pois que não lhe chegava o que lhe fora destinado, tão aventureira que era, e tão arredia, a gatinha preta- a Kinski- foi, há já uns tempos, atropelada; não soube calcular os riscos...

Nitidamente prenhe, esta gatinha estava bem escondida, na orgia de plantas,

Cristina Ribeiro, 30.05.10

                                                                                 

e flores que atapetam o lindíssimo miradouro, que, na costa norte da ilha de S. Miguel, concelho do Nordeste, permite abarcar aquela imensidão de mar que nos separa do continente; com medo, talvez, que fizéssemos mal às suas crias, mostrava-se anormalmente arredia, sempre a fugir da objectiva que, tão teimosamente como ela, a perseguia...; até que o Paulo conseguiu captar a sua confiança, e até lhe arrancou esta pose de felina " formosa e segura "...

«Pela Noite Dentro»

Cristina Ribeiro, 07.11.09

 

Chegada agora mesmo do Quénia, aonde fui transportada pelo filme « Algures em África », voo directamente para Viena aonde vou ouvir ( milagres da Tecnologia DVD ) o Concerto de Ano Novo;.Não tardará, espraiar-me-ei pelas margens do " Schone Blau Danau ", que fui encontrar cinzento ao passar pela cidade de Maria Teresa, e mais azul, mas por certo muito longe do encanto imortalizado pelo irmão Strauss, uns anos depois, na outrora também Absburguesa Budapeste.

 

Janeiro de 2009

E por falar em baile...

Cristina Ribeiro, 25.10.09

 

Foi numa sala cheia, uma sala que imagino com algo da grandiosidade do S. Carlos, e que lembra apontamentos da ópera de Budapeste, que há dias assisti à magnífica prestação do Ballet Imperial Russo, o qual integra várias Escolas de bailado desse país que nesta arte dá cartas, integrando, inclusive, elementos do Teatro Bolshoi, no bailado com a música de Tchaikovsky, « O Lago dos Cisnes » : uns " cisnes ", leves, leves, de uma delicadeza de gestos... E o facto de a sala estar cheia que nem um ovo mostra a fome destes acontecimentos que por aqui grassa.

 

Dezembro de 2008

" Prognósticos só no fim "

Cristina Ribeiro, 23.10.09

 

deveria ter pensado a amiga ontem à noite, antes de profetizar um dia cinzento para hoje. Vento está, que bem vejo pela janela as folhas, que caíram das árvores que já foram verdes, a rodopiarem no ar, num bailado muito do reino delas, inimitável mesmo por um Barishnikov... Céu azul semeado de nuvens, é o que encontro depois de uma noite longa, musical, mas com muita conversa à mistura. Um fim-de-semana também se faz com estas coisas, não tão comezinhas assim.

 

Novembro de 2008