Bem do fundo da memória.
Cristina Ribeiro, 07.01.13
Da primeira visita à Casa de Ceide, era muito pequena ainda, ficaram-me duas coisas: uma, já o disse, foi aquela cadeira de baloiço; a outra era uma imagem mais esbatida ainda, mas que sempre me intrigou - poderia, deveria, mais tarde, ter satisfeito a curiosidade, mas, não sei porquê, pois que nem é esse o meu costume, não o fiz: lembro uma taça cheia de bolinhas de papel amarelecido, mas, talvez porque fosse grande a impressão causada pela cadeira onde o escritor se suicidou, não ouvi a explicação do guia.
Há dias, lia as últimas páginas de um livro de Bulhão Pato, « Sob os Ciprestes », achei que tinha descoberto a proveniência desses papéis.
São essas últimas páginas dedicadas a António Feliciano de Castilho, a quem Bulhão tratava por Mestre, e que, tal como os outros citados no livro, dormia já à sombra dessas árvores.
Fiquei a saber que o escritor cego tinha o hábito de, sempre que tinha as mãos desocupadas, cortar fitas de papel, que depois enrolava até fazer com elas pequenas bolas.
Ora, Castilho era um grande amigo de Camilo, e visitou-o na casa perto de Famalicão. Não custa a crer que, a mesma Ana Plácido que mandou erguer o obelisco em honra do Poeta, tenha guardado esses papéis como recordação dessa visita...