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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Ao ver este campo, lavrado, gradado,

Cristina Ribeiro, 31.05.10

 

 

 

 

 e com as sementes do milho na terra já - ao lado, os lavradores foram mais expeditos, e já se vêem as plantas verdes, numa corrida desenfreada, para que nelas surja e cresça a espiga que o sol há-de dourar -, mais uma vez o lamento de quem vê, quase de ano para ano, esta paisagem tão nossa a ficar aceleradamente com menor espaço, e a ser substituída pela aridez do betão, que, até há não muito tempo, lhe era estranha. E a minha irmã, que ouve este queixume, lembra o tempo, não distante, em que estes pedaços eram continuados, em extensões de terra cultivada, onde os olhos descansavam, naquele que era o resultado de um trabalho gostoso - via-se no olhar dos camponeses, adivinhava-se nas suas palavras felizes - .

Pedaços que persistem, apesar dos pesares, por teimosia de alguns que lutam para que este Minho não desapareça na uniformidade a que muitos querem ver Portugal reduzido...

Tem razão compadre!

Cristina Ribeiro, 22.03.10

 

 

 Na Sexta-feira, ia eu carregada com vários sacos, quando um daqueles velhos lavradores de quem tenho falado, que do campo me vira pousar os ditos com frequência, a fim de recobrar forças, largou a enxada com que preparava a terra para o plantio do batatal, como me disse depois, quando inquiri,e veio perguntar-me:-" a comadre precisa de ajuda? " Comecei por ficar perplexa com tal tratamento, vindo de alguém que não conhecia, mas logo vi da bondade do mesmo. Depois de lhe agradecer, e dizer da não necessidade de ajuda, falei-lhe no quão bonito se achava o campo, todo aos talhões, e ele divagou sobre o tempo em que toda a aldeia era assim: " um brinco! ; agora...agora a gente moça não quer trabalho, mas emprego ".

Despedi-me e vim a matutar na sabedoria deste nosso povo simples.

Feliz!

Cristina Ribeiro, 27.01.10

 

Encostado à enxada, o velho, magro, de pele tisnada pelo sol, sorria;  os olhos sorriam também: o orgulho naqueles talhões cultivados com alface, tomate, ervilhas...

No céu, a lua começava a  surgir, timidamente ainda, horas, portanto, de ir para casa, onde a sua Lucinda o esperava com uma sopa feita com hortaliça que as suas mãos haviam plantado e cuidado...

Pôs a enxada aos ombros e pôs-se a caminho, cantarolando...

Havia algumas horas já que deixara de chover.

Cristina Ribeiro, 07.11.09

 

 

 

               

 

 

No céu algumas nuvens ainda, mas agora com muitas abertas, por onde o sol começava a aparecer, a medo primeiro, com mais força depois. No campo " cor de limão ", que, uma semana atrás, tinha visto branco, alguns dos poucos lavradores que por cá ainda " fazem " a terra. As galochas que trazem calçadas denunciam o encharcado do terreno.. Pergunto ao António: - Estão a preparar alguma sementeira? ; ri-se da minha ignorância. - Como é que pode semear o que quer que seja, com a terra assim empapada? Não, estão só a ver se não houve estragos na erva, por mor de alimentar o gado.

Só lá para Março, depois de se meterem as batatas à terra, começam as sementeiras do milho e do centeio. Nessa altura a chuva aparece sempre, mas já terá passado o perigo das geadas... Com a chuva que agora cai, que Deus a dá, certamente eles estarão amanhã outra vez, a ver o estado da erva; " por mor de alimentar o gado".

 

Janeiro de 2009