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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Viagens na minha Terra ( 9 de Março de 1914 )

Cristina Ribeiro, 03.03.15

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" Ao cabo de um trecho relativamente plano e arborizado, surge, no cimo de um cabeço, a vetusta povoação, ainda cingida por alguns dos antigos cubelos e panos de muralha medieva. A vila tem todo o ar de uma terra morta, esquecida do resto do mundo. As ruelas, toscamente empedradas, têm um estranho ar sonolento. Aqui e além, um velhote que aquece os pés ao sol, ou duas mulheres que conversam, com voz anasalada e sotaque antigo. Subindo por uma dessas quelhas, depressa se encontra o alto onde outrora assentava o castelo. No local, todo escalavrado, apontam-se os restos do tal palácio do malfadado Cristovão de Moura. " Sant'Anna Dionísio

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N

Feriado

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Já, há alguns anos, passara o fim-de-semana prolongado do feriado do 1º de Dezembro naquela região de Castelo Rodrigo. E como é especial comemorar aí a Restauração da nossa independência! Desta vez o céu estava mais azul, as pessoas que por lá vimos continuavam a poder contar-se pelos dedos duma mão, mas o entusiasmo por estarmos em terra quase sagrada, esse também era o mesmo que naquele dia já longínquo. Agora na serra da Marofa pudemos ver, por entre um mar de oliveiras, algumas amendoeiras em flor. Uma saudade, porém: já não estava lá o Pai, para o Zé Miguel, um sobrinho ainda criança por então, lhe perguntar: "- Avô, que castelo vamos ver hoje? "; na véspera tínhamos visitado já Castelo Mendo e Castelo Melhor.

Viagens na minha Terra ( 22 de Junho de 2013)

Cristina Ribeiro, 03.03.15

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" Longe do bulício do mundo, num isolamento profundo e silencioso, a aldeia parece adormecida no aconchego de um vale da formosa serra da Mourela, entre os penhascosos relevos do Gerês e do Barroso. Modesta e recatada, não há decerto povoação mais castiça, onde tudo é expressão de uma vida simples. Na intimidade do seu viver, duma fraterna comunidade, não ganhou raízes por estes sítios a erva ruim da Inveja, ou a raça daninha do Egoismo. Todos os seus vizinhos convivem em suave harmonia, como se constituíssem uma única família. ( ... ) Terra de humildes agricultorers e de robustos pegureiros, repartem seu labor entre os prados e a serra. ( ... ) A pouca distância da povoação, num impressivo recanto, subsistem as ruínas de um modesto Convento Beneditino, cuja fundação parece datar do séc. XII. " Esta a « Impressão » que, estava-se nos inicios dos anos sessenta do século passado, a aldeia de Pitões das Júnias, e as suas gentes, deixaram em Marques da Cunha. Não era a primeira vez que visitava a aldeia, ou o mosteiro, e nessa descrição do jornalista pude ver que por lá o demónio do " progresso " - como actualmente é por quase todos entendido - se tem mantido afastado: de uma das vezes, era fim de Abril e a serra estava coberta de grossa camada de neve, foi ocasião de conviver de perto com a população, quando, numa fuga ao frio, entrei numa casa onde me tinham dito podia comer queijo e presunto. Foi à roda de uma fogueira que eu e os meus amigos travámos deliciosa e aconchegante convera com os « vizinhos » de que fala aquele companheiro de andanças de Sant'Anna Dionísio.

Viagens na minha Terra ( 22 de Junho de 2013 )

Cristina Ribeiro, 03.03.15

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" Emendadas umas nas outras ", as memórias...

Estar a caminho da comunitária aldeia de Pitões das Júnias, num caminho rodeado de cores- o sempre presente verde da serra, o amarelo das maias e do tojo, o roxo da urze , o azul das florinhas que não soube identificar, e, claro, aquele céu, muito azul também. Um cavalo castanho, e a lembrança daquele poema de Reinaldo Ferreira, que li pela primeira vez na escola: Quero um cavalo de várias cores/Quero-o depressa, que vou partir./ Esperam-me prados com tantas flores, / Que só cavalos de várias cores / Podem servir. Quero uma sela feita de restos / Dalguma nuvem que ande no céu./ Quero-a evasiva - nimbos e cerros - / Sobre os valados, sobre os aterros, / Que o mundo é meu. Quero que as rédeas façam prodígios: / Voa, cavalo, galopa mais, Trepa às camadas do céu sem fundo,/Rumo àquele ponto, exterior ao mundo, / Para onde tendem as catedrais. / Deixem que eu parta, agora, já, / Antes que murchem todas as flores. / Tenho a loucura, sei o caminho, / Mas como posso partir sozinho / Sem um cavalo de várias cores? .

Viagens na minha Terra. ( 13 de Abril de 2013 )

Cristina Ribeiro, 03.03.15

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Era mais uma incursão pelo deslumbrante concelho de Montalegre, onde, ao virar de cada curva - literalmente! - salta mais uma surpresa, que nos faz suspirar de admiração. Estávamos em Abril, e o frio a recomendar mais um agasalho; durante toda a semana chovera, e o resultado da " rega de Deus " via-se bem nos campos, onde a erva crescia a olhos vistos; o gado estava satisfeito, saltava à vista. O sol começava a dar sinais de querer esconder-se: era chegada a hora de encetarmos o caminho de regresso, depois de um dia muito cheio. Para trás ficara já Paradela do Rio, e com ela o rio Cávado. À esquerda um desvio e uma placa: Sirvozelo. Um caminho pedregoso e logo em frente uma capela, uma linda capela, como é de uso naquelas bandas - S. Mamede o seu patrono. Encravada na rocha, é uma aldeia feita de granito e silêncio. Seres vivos, por ali, só os animais: ovelhas a pastar, o burro preso ao poste ou o pónei junto da mãe égua. Já de saída um muito característico espigueiro - canastro, como é mais conhecido na região - bem à sombra de um grande conjunto de penedos sobrepostos, de onde um cão olha com curiosidade, senão suspeita, os forasteiros solitários.

Gente da minha terra. ( 16 de Junho de 2013 )

Cristina Ribeiro, 03.03.15

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" Gostava muito que viessem à minha casinha. Bebiam um copinho de vinho, pão que a padeira me traz, e arranjava-se mais alguma coisinha ". Quem assim falava era a senhora Idalina, a quem perguntáramos o nome da capela ali ao lado. Vi, pelas duas alianças que trazia no dedo, que a senhora Idalina - já por essa altura lhe tinha perguntado como se chamava - era viúva, e, soube depois, muito solitária. Que vivia com um filho, respondeu quando lhe perguntei se vivia sozinha: um filho que nunca quisera casar, e se encontrava naquela altura a trabalhar no campo que o marido lhe deixara. Preocupada porque " não sabia falar muito bem, apesar de ter feito a 4ª classe, saber ler e escrever ": - Não, Dona Idalina, está a falar muito bem, não se preocupe. - Olhe, posso tirar-lhe uma fotografia? - Oh! estou toda despenteada... - Não está nada. Vai ficar frente a essas rosas, e vai ver que vai ficar muito bem! ................................................................................................................................. - Não quero demorá-los mais, mas gostava tanto que fossem à minha casinha!... - Hoje não, Dona Idalina, mas voltamos cá em breve. - Venham, venham! e gostava tanto que ficassem hospedados na minha casinha!... ; e apontava para uma casa feita de granito, de razoáveis dimensões, casa de gente remediada - Está combinado, lá para Setembro voltamos. Estávamos numa das vertentes da serra de Montemuro, concelho de Cinfães, na aldeia de Marcelim, freguesia de Tendais, onde " por entre construções modernas teimam em persistir casas de antigamente, de pedra sobreposta, com telhados de duas águas por onde se escapava o fumo denso da lareira que era a fonte de aquecimento no interior das habitações. "

Lisboa d'outras Eras

Cristina Ribeiro, 02.07.14

O Terreiro do Paço só passou a ter esta designação depois que D. Manuel I, no início do século XVI, mandou construir os Paços da Ribeira. Mas já era conhecido como Terreiro antes disso. Com efeito, Vilhena Barbosa refere-se-lhe como " um terreiro muito vasto, que se estendia por fora da cerca de muros da cidade, banhado pelo Tejo ", ao qual na altura - 1865 - chamavam Ribeira Velha. E acrescenta: " Governando El-Rei D. Afonso V, começaram-se a construir navios na praia, onde agora vemos o Arsenal da Marinha. Porém D. Manuel aumentou e deu uma forma regular a este estabelecimento, em terreno roubado ao Tejo, como o da Praça do Terreiro do Paço, também feita pelo mesmo soberano, em frente dos paços da Ribeira, que mandara edificar para sua residência ". Refere ainda o autor que ao primitivo arsenal, conhecido como Tercenas Navais, se chamou depois Ribeira das Naus, o qual se conservaria até ao terramoto de 1755, tendo então essa mesma denominação passado ao novo arsenal, edificado no lugar onde tinha estado o antigo. Mas, em 1933, quando João Paulo Freire ( Mário ) escreve sobre a Praça, esse nome - Ribeira das Naus -, " só na boca dos eruditos. O povo já dele se esqueceu, e hoje chama-lhe apenas « Arsenal da Marinha ». Resumo de um " olhar " de João Paulo Freire, in « Lisboa do Meu Tempo e do Passado »

" Portugal é nosso e temos obrigação de o conhecer "

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 
Parafraseando Ernest Hemingway, digo - afirmo: - Vieira do Minho é uma festa! 

Diferente daquela a que se referiu o escritor americano, muito diversa, mas uma festa para os olhos e ouvidos, pois por aí o silêncio ainda é rei e senhor. Conheci ainda só algumas das freguesias, mas o que tenho lido, e visto em fotografias, sobre as outras não as desmerecem.

Dessa terra paradisíaca escreve o Padre Vieira Alves, depois de saboroso intróito, sobre a " Terra de Enlevos ", como chama a terras de Portugal, no todo, que acaba a resumir nos versos de A. Correia d'Oliveira:

 

" Portugueses, tocou-nos em partilha

  A terra mais amiga, e bella, e nobre

  Que a rosa do sol cobre

  Com sua eterna luz de maravilha "

 

" Desnecessário se torna elucidar o leitor sobre as raras belezas do nosso país, tão conhecido e louvado pelos de fora, como depreciado pelos de dentro. Por via de regra, os que dizem mal de Portugal só conhecem as suas cidades, mas nunca percorreram as nossas aldeias, nem as nossas montanhas. E contudo, como diz um dos nossos melhores eescritores, « Portugal é tão lindo! Mas que fora feio, o mesmo carinho lhe devíamos.

( ... ). Estas árvores, estas searas, estas flores são nossos parentes próximos ».

Uma ilustre dama inglesa, que nos últimos meses de 1922 esteve em Portugal a colher material para uma série de crónicas para um jornal londrino, um dia subiu ao Monte de Castro, nos subúrbios de Braga. Apesar de ser Outono ficou tão encantada com o panorama oferecido pelas freguesias de Dume, Palmeira, Merelim, Frossos..., que houve de confessar que nunca, em país algum, vira panorama tão surpreendente ( ... ).

Antero de Figueiredo escreveu que « Portugal é uma tira de sol entre dois azuis religiosos: - o do céu e o do mar »... "

 

Escrevia o padre no ano de 1923, mas hoje já não é assim; fogem, no entanto, à triste regra alguns redutos: são exemplos de excepção, precisamente, os que encontramos, ainda, neste concelho, o qual, não obstante,e demasiadas vezes, para quem lê descrições doutros tempos, não escapou à praga do betão, nomeadamente fora das pequenas aldeias, onde oprogresso não deixou de se insinuar.