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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Sabedoria popular: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Cristina Ribeiro, 27.04.10

Tinha eu 10 /11 anos quando sofri uma humilhação que nem consigo adjectivar, no salão onde fazíamos ginástica. Já vestidas as alunas,à espera do toque de saída, e a professora, sentada na secretária, reparou que a minha bata estava mais curta do que a saia. Aos berros,literalmente, começou a dizer que a minha mãe devia ser uma daquelas mulheres de soalheiro, que " passavam a vida a dar ao serrote ", em vez de baixar a baínha da minha bata; com um nó na garganta, e, talvez umas lágrimas nos olhos, eu pensava " trabalhasses tu como a minha mãe, desde madrugada à meia-noite ! ; ela nem tempo tem para ver o comprimento da minha bata "; isto numa altura da vida em que as crianças crescem tão rapidamente, que, quando menos esperamos, a roupa deixa de nos servir. E, suprema maldade, disse a uma minha colega para me deitar toda a bainha abaixo. E eu sem coragem para dizer nada ( quantas vezes me penitenciei pelo facto - mas tive medo! )

Voltei a lembrar-me deste episódio ontem, quando aquelas duas alunas se dirigiram à professora naqueles termos, em que agora a humilhada era a professora.

 

 

*Quero frisar que essa professora de ginástica era a excepção; as alunas não o serão...

E ainda se admiram que Salazar tenha tido o voto

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 de uma grande maioria que o considerou o maior português de sempre", disse-lhe eu, no auge da irritação. "Somos muitos os que acreditamos que os valores da Segurança e da Ordem são possíveis numa Democracia em Portugal, mas também são muitos os que se esforçam por demonstrar que eles só são possíveis numa Ditadura, e para isso contam com a conivência das autoridades". Nesse dia tinha havido, numa outra zona da cidade, perto dali, dois assaltos à mão armada, e havia mais de meia hora que ligara para a PSP pedindo-lhes que viessem acabar com a arruaça de altos berros. A escumalha deu-se ainda ao luxo de continuar a gritaria por mais um bom bocado, depois de lhe chamarmos a atenção, porque sabe que mesmo que chamemos a polícia, esta lhe dará ainda muito tempo...; e não se enganou: quando o agente chegou, limitou-se a perguntar se queríamos participar o ocorrido ao Comando Geral; que sim, pelo que preencheu um formulário completíssimo, com nome dos pais, profissão, etc. etc., ao fim do que disse - "vou pôr no relatório que encontrei tudo normal" Fiquei indignada. Depois de lhe ter dito que o colega que atendera o telefone confirmara, porque ouvira, a barulheira, ainda lhe perguntei porque é que nos fizera perder tempo com o tal formulário.Eram quatro horas da madrugada.

 

Setembro de 2008

Muito mais do que um lugar comum.

Cristina Ribeiro, 09.10.09

 

 

Dizer-se que o mundo se tornou um lugar muito perigoso é a maior das verdades. Ontem, como doutras vezes, veio à baila o tema da insegurança, concretamente dos perigos a que estão sujeitas as crianças. E então lembrei-me da despreocupação que marcou a minha infância : quando tinha dez anos, saía de casa para as aulas ainda escuro como breu, e percorria, sozinha, um quilómetro de monte, sem que encontrasse vivalma, para apanhar a camioneta que me levaria à cidade. Nunca tive medo, nem os meus pais se preocupavam, como acontece nos dias de hoje...

 

 

Abril de 2008