O reconhecimento tardio.
Cristina Ribeiro, 03.02.14
Lendo a correspondência que, por iniciativa do sucessor de D. Carlos, se encetou entre o Rei exilado e o ministro em que aquele confiara para recolocar o País em boa senda, é notório o trabalho de reflexão feito por D. Manuel II, quando assume que foi mal orientado pelos seus conselheiros.
Logo na primeira carta, que envia para Biarritz, o exilado de Richmond diz pensar muito no ex-estadista que « ainda hoje sofre por ter querido fazer bem ao seu País », que deseja muito ter correspondência com João Franco e poder, dessa forma, « trocar ideias e maneiras de ver» e « saber a sua opinião sobre Portugal e o seu destino ».
Como refere Rodrigues Cavalheiro, o colector destas epístolas, mantidas secretas até muitos anos após a morte do homem de Alcaide, era irremediavelmete tarde; devia " tal diligência, ter sido feita quase três anos antes », quando, na própria noite do regicídio, o Infante " mostrara logo o receio absurdo de manter, com firmeza, à frente do Governo da Nação o homem que a seu Pai merecera até ao fim total crédito como político e como administrador ".
Porque o Rei assassinado, inteligente Rei, viu estar rodeado de falsos monárquicos, e soube destrinçar o trigo do joio. É esta perspicácia que se pede a um Rei.