Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Duas tinham sido as duas povoações

Cristina Ribeiro, 19.04.10

 

 

a deixar-nos nesse estado de cansaço, mas daquele cansaço de que se diz " valeu a pena! ".

Uma excursão organizada pelo hotel onde nos hospedámos em Florença organizara para aquele dia de Setembro" caliente, ma non troppo ", uma excursão a duas cidades vizinhas: San Giminiano e Siena.

A partida marcada para bem cedo, a fim de aproveitarmos o máximo. Tendo sido nós as três as primeiras a chegar ao autocarro, sentámo-nos nos lugares da frente, de onde teríamos uma vista privilegiada  do campo, com os característicos ciprestes e as famosas vinhas de chianti.

No fim da contagem dos excursionistas, o guia -Guido - sentou-se no lugar que lhe era destinado: no outro lugar da frente, junto da irmã mais nova e irreverente. Quando nos ouviu falar, abriu um sorriso de ponta a ponta e disse, contente: " Portoghese de Portugallo! "; que gostava muito, e começámos aí uma conversa que, no fim do dia, era já quase amizade.

As pequenas cidades não defraudaram as nossas expectativas; San Giminiano uma povoação pequena, mas tão rica, quer nas construções medievais - onde se destacam as torres, tanto mais altas quanto maior a importância das famílias que as habitavam, quer nas obras de arte nos edifícios públicos.

 

 

E Siena? Que dizer da belíssima catedral medieval, com cúpula de Bernini. Tantas coisas a reter , como a incomparáve Biblioteca Piccolomini...

O tempoo quente convidava agora a um sorvete, sentadas nas escadas da Piazza del Campo- esta mesma da fotografia -, rodeada de edifícios tão magníficos ...

Mas chegara a hora da partida, de voltar a Florença.

Pelo caminho vários Pallazos, que muito contribuem para a beleza daquela região...

" Uma cidade da minha vida "

Cristina Ribeiro, 13.04.10

 

diz o Carlos.

Mil e um afazeres fazem com que só ontem à noite me desse conta do repto lançado.

Muitas, claro; Florença, uma delas. Um momento mágico leva-me a optar pela cidade do Arno: o dia tinha sido cansativo, a calcorrear algumas das pequenas povoações da Toscânia. Já anoitecia quando chegámos ao hotel e fomos comer  a um daqueles restaurantezinhos que guardam o segredo de acolhimento tão familiar. Depois, de tão cansada, uma das irmãs optou por ir descansar para o Hotel. Estava uma daquelas noites quentes de Setembro. Com a outra irmã segui ao longo do rio, iluminado, e vimos a ponte Vecchio a fervilhar de pessoas que vinham das esplanadas da Praça Signoria, algumas ainda com o copo de cerveja na mão. Como se a torre de Babel nunca tivesse existido, todos falavam com todos. Era fim-de-semana, Sábado talvez, e a descontracção era palpável. Como testemunha, e cúmplice, uma lua bem cheia. Não olhámos o relógio - só fizemos o caminho de volta, quando o cansaço nos venceu.

Domingo de Páscoa na vila ( e na aldeia ).

Cristina Ribeiro, 04.04.10

 

 

 

Como já não acontecia há muitos anos ( desde que começámos a passar a Páscoa em vários outros pontos do país, onde esta tradição estava ausente ), acordei, num dia cheio de sol, com as badaladas dos sinos da minha aldeia, e com o foguetório que anunciava a saída das cruzes.

Mas nem sempre foram estes os sinos que marcaram o meu Domingo de Páscoa.

Tendo nascido numa vila, era daí o compasso que nos visitava logo de manhã, tão cedo, que era grande a azáfama para reunir todos os irmãos na melhor sala da casa, onde esperávamos tão ilustre visitante, assim que ouvíamos as campainhas a anunciar a sua chegada. A mesa já posta com o melhor serviço de chá, coberta de doces da época. Sumo de laranja para alguns membros da comitiva, que iam passar o resto do dia a beber cálices de vinho do porto, nas várias casas que visitavam, e cujos donos tomavam como descortesia se o não fizessem; o pão-de-ló caseiro estava presente em todas as mesas. O padre - íntimo lá de casa, velho amigo de tertúlias nocturnas com o meu pai - sensatamente optava pelo chá. Mal o portador da cruz a pousava num dos sofás - a estadia prolongava-se por 20 minutos a meia-hora-, a mãe perfumava-a com um perfume fresco e delicado, tarefa que foi delegando, com o correr dos anos, à filha mais nova da altura.

Era hora do compasso ir visitar outra casa...

 

Por volta do Meio-Dia chegava o compasso da aldeia: é que se a casa principal se encontra em terras da vila, parte do terreno, onde se situa, por ex. a Casa do Forno, pertence a Sande, a terra natal dos pais,  aonde íamos à escola, à igreja, e onde moravam os nossos amigos.

Àquela hora já todos estavam fartos de doces, pelo que a sopa de favas que os esperava lá em casa era como maná caído do céu!

 

 

Era então chegada a hora da fotografia que todos os anos o fotógrafo local nos tirava, todos juntos no jardim. Todos de roupa nova, que era dia de festa: lembro em particular as fitas de seda, aos quadrados ou às riscas, que a mãe havia comprado para fazer os laços que prendiam as tranças das raparigas.

Domingo de Ramos na Aldeia

Cristina Ribeiro, 28.03.10

 

« O povo acolheu Jesus saudando-o com ramos de oliveiras e palmeiras ».

 

 

Levantávamo-nos cedo para colher da grande oliveira do largo um ramo, que levávamos à igreja. Na missa do dia em que começa a Semana Santa, no momento em que o padre dizia " vou proceder à bênção dos ramos ", via-se nas mãos das crianças, que então éramos, um mar de folhagem, bem acima das nossas cabeças.

Finda a missa, levávamos os ramos benzidos, guardando-os até que as trovoadas nos faziam ir buscá-los, pois era com este símbolo da entrada de Jesus em Jerusalém, que rezávamos a Santa Bárbara, para, como dizia a mãe, " nos livrasse de perigos ".

« Memórias de um Burro »

Cristina Ribeiro, 16.03.10

 

É a capa de uma edição anterior, mas foi este o primeiro livro que li da Condessa de Ségur, deu-mo o meu pai numa das primeiras visitas à Feira do Livro do Porto, numa altura em que à minha irmã coube « Os Desastres de Sofia»;

lembro que não gostei mesmo nada da distribuição de títulos, mas lembro também que , quando li o livro, achei que tinha tido muita sorte. Entretanto o livro desapareceu, e hoje tenho uma pena enorme. Coisas do passado que ainda hoje me comovem, e que me fazem pensar que tenho a grande sorte de guardar muito da criança que fui...

Outro dos amores da minha infância:

Cristina Ribeiro, 13.03.10

 

 

 

aquele livro em que Edmundo de Amicis dá voz ao pequeno Henrique, quando este se decide a escrever um Diário, desde a sua entrada na escola.

« Coração » foi um livro que me acompanhou desde os oito anos, e que continua dentro dele.

Porque como diz uma citação de autor desconhecido, referida por Tomaz de Figueiredo, « On ne guérit jamais de son enfance ».

Foi num 31 de Março, não sei já de que ano

Cristina Ribeiro, 13.03.10

 

que o cimo da escrivaninha do meu irmão, que celebra nesse dia o aniversário natalício, se encheu com os livros de Eça de Queiroz editados pela « Livros do Brasil » . Foi uma surpresa não só para ele, mas para os outros irmãos, que já afilavam o dente ao ver aquela colecção inteirinha à nossa espera.

        Mas esperava-me um balde de água fria; Só podes entender estes livros quando tiveres 15 anos, disse o meu pai, quando viu o olhar guloso que lhes deitei.

Deve ter sido por essa altura que comecei a visitar regularmente a escrivaninha do meu irmão.

A " minha " Lisboa de meados dos anos sessenta ( 2 )

Cristina Ribeiro, 07.03.10

 

" ... de que recordo apenas ser muito íngreme ", dizia ontem  da rua onde passei algum tempo da mais tenra meninice. Hoje, depois de ter falado com o filho da D. Augusta, que casou cá no Norte, e vive em Braga, sei já que era a Rua Capitão Renato Baptista.

Mas se da Rua não tenho uma lembrança muito nítida, a não ser a de uma mercearia, onde a D. Augusta me levava muitas vezes, e aí recordo o orgulho, quase maternal, com que me mostrava, perguntando se não estava desenvolvida para a idade que tinha, o mesmo não acontece com a casa: nas traseiras, um pequeno pátio com uma pequena capoeira, onde o único habitante, hóspede de luxo, era um galo - o coquinhas - que só pernoitava lá: todo o resto do tempo andava livre pela casa, onde era rei e senhor; quando estávamos à mesa empoleirava-se no ombro de um dos três elementos da família, com um à-vontade de quem sabe que é bem vindo.

Três cágados passeavam-se pachorramente pela casa.

A senhora gostava muito de animais e era incapaz de os matar: uma vez,, o meu pai presenteou-os com um cabrito pequeno, que por lá ficou, até atingir a idade adulta, altura em que o enviaram para a aldeia do senhor Moreira, nas faldas da Serra da Estrela.

A " minha " Lisboa de meados dos anos sessenta ( 1 )

Cristina Ribeiro, 06.03.10

 

 

E as memórias vieram de novo ter comigo, quando li este post.

 

Quando jogava o Monopólio, a Rua Augusta tinha para mim um duplo valor: o que lhe era reconhecido pelo  jogo, mas também porque a considerava a " minha " Rua:

Quando andou por Lisboa, na tropa, o meu pai tratou de espreitar  as oportunidades para o negócio que tinha em mente; foi assim que conheceu a casa que, durante muitos anos, antes de começar a exportar, foi o seu melhor cliente: o Braz & Braz.

Acabada a tropa, e iniciado o negócio sonhado, começou a visitar aquela grande Casa de Comércio,muito perto da praça da Figueira, aonde fui muitas vezes, muito pequena ainda.

Desde o primeiro momento fez grande amizade com um funcionário, o Sr. Moreira, passando a ser visita assídua da sua casa, enquanto ele, a esposa e o filho vinham passar as férias ao Norte.

Chamava-se a senhora Domina Augusta, e quando nasci estava assente que seria a minha madrinha, mas dois dias antes do baptismo foi vítima de um acidente cardio-vascular que a deixou incapacitada por muito tempo. Herdei-lhe, porém, o segundo nome, e, até ela morrer, considerei-a " a " minha madrinha.

Pequena, e a senhora já recuperada, muitas foram as temporadas que passei na casa de uma rua de Lisboa, de que recordo apenas ser muito íngreme.

E muitas vezes ela me dizia: - hoje vamos até à " nossa" Rua...

Há dias, à conversa, na caixa de comentários,

Cristina Ribeiro, 27.02.10

 

com Helena Branco, falávamos nós nas paragens que o comboio faz nos apeadeiros, referi que quando íamos no da linha do Tua, a caminho de Mirandela, aproveitávamos essas paragens para apanhar nas ramadas os gaipelos que tinham ficado após as vindimas- passava-se isto nos fins de Setembro.

... a lembrar aqueles dias lindos de Outono em que, munidos de canas fendidas, os rapazes, seguidos por um bando de raparigas, que não queriam perder a oportunidade de comer uns bagos, iam fazer a " limpeza " final, prendendo o caule dos pequenos cachos, que, por serem pequenos, tinham sido desprezados pelos vindimadores, na fenda da cana. Os pássaros que por ali tinham ficado, a aproveitar os restos de sol, já nada iriam encontrar.