A " minha " Lisboa de meados dos anos sessenta ( 2 )
" ... de que recordo apenas ser muito íngreme ", dizia ontem da rua onde passei algum tempo da mais tenra meninice. Hoje, depois de ter falado com o filho da D. Augusta, que casou cá no Norte, e vive em Braga, sei já que era a Rua Capitão Renato Baptista.
Mas se da Rua não tenho uma lembrança muito nítida, a não ser a de uma mercearia, onde a D. Augusta me levava muitas vezes, e aí recordo o orgulho, quase maternal, com que me mostrava, perguntando se não estava desenvolvida para a idade que tinha, o mesmo não acontece com a casa: nas traseiras, um pequeno pátio com uma pequena capoeira, onde o único habitante, hóspede de luxo, era um galo - o coquinhas - que só pernoitava lá: todo o resto do tempo andava livre pela casa, onde era rei e senhor; quando estávamos à mesa empoleirava-se no ombro de um dos três elementos da família, com um à-vontade de quem sabe que é bem vindo.
Três cágados passeavam-se pachorramente pela casa.
A senhora gostava muito de animais e era incapaz de os matar: uma vez,, o meu pai presenteou-os com um cabrito pequeno, que por lá ficou, até atingir a idade adulta, altura em que o enviaram para a aldeia do senhor Moreira, nas faldas da Serra da Estrela.