Durante toda a noite a chuva caíra com a mesma intensidade.
Mas agora o sol iluminava o quarto- bem lhe dizia o Eduardo que depois da tempestade vem sempre a bonança.Sorriu quando pensou no amigo, e, instintivamente, olhou pela janela, procurando por entre as árvores a casa grande, no fim da alameda, dos donos da quinta. Sempre a receberam bem, aceitando-a lá em casa como a amiguinha do filho, desde quando eram pequenos. E com que ansiedade aguardava, de cada vez, as próximas férias, quando ele vinha de Lisboa com os pais...
Olhou para a posição do sol e pensou que o pai estaria a trabalhar nos campos havia muito tempo já, e que estava na hora dela se levantar também, mas permitiu-se mais um tempo de devaneio. Como gostava de falar com ele. Animou-se com o pensamento de que as férias da Páscoa não tardariam muito... Entretanto, a vida chamava-a, e lembrou-se de que teria de falar ao vizinho para dar uma olhada no telhado: com a tempestade dos dias anteriores nunca se sabia...