Naquela altura as esperanças nos partidos
estavam ainda intactas. É certo que para o meu pai o CDS nunca passou de " um mal menor ", mas os meus irmãos viam-no como algo de redentor, tal como aconteceria comigo mais tarde, até que fui confrontada com a evidência de que " são todos iguais ".
Naquele dia ( de 1975 ou 76? ) ia haver um comício no Teatro Jordão, em Guimarães. As ameaças a quem nele participasse sucediam-se. Foi pois com grande apreensão que a minha mãe, eu e as minhas irmãs, os vimos sair. Algum tempo depois tocou o telefone: era um amigo, que vivia na rua do Teatro, dizendo-nos que aquilo estava um pandemónio. Cheias de medo, ouvíamos os tiros, que se sucediam sem intervalo. Só descansámos quando os vimos- já muito pela madrugada dentro - entrar em casa, altura em que nos puseram a par das cenas Far-Westianas por que tinham passado. Deve datar dessa altura, embora de uma forma muito inconsciente, a convicção de que em Portugal se estava a brincar à democracia.