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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Era uma casa grande, de granito, com portas e janelas verdes,

Cristina Ribeiro, 19.10.09

 

 

 

 

 

 

e com muitos quartos, porque era grande a prole. Descendia de uma família de moleiros e padeiros, e quando casou com o avô, carpinteiro que trabalhava então no Teatro Circo de Braga, começaram a construi-la, e aí montaram uma padaria, onde a avó iria dar continuidade ao negócio familiar. Alguns anos passados, e já com três filhos, o avô rumou ao Brasil, onde trabalhou numa fábrica de tabaco na Baía. Enquanto isso a avó, uma mulher cheia de garra, criou uma mercearia, onde, além do pão de trigo e das broas que cozia, vendia azeite, café e bacalhau. Era a Venda da avó, onde eu comi as primeiras bolachas Maria... Na altura da II Guerra, quando os alimentos eram racionados, o meu avô, que entretanto regressara, e era " um Homem bom" nunca deixou que nenhum vizinho passasse fome, mesmo quando não tinha com que pagar: como dizia a avó, " tinha os seus protegidos". A minha mãe e tios dizem o melhor possível desse avô, de quem não guardo lembrança, pois que morreu cedo. A avó viveu ainda por muitos anos, sempre a trabalhar na Venda. Nos seus últimos tempos, já eram os próprios clientes que se serviam: "Srª Aninhas vou levar um litro de azeite; assento no livro e pago no próximo mês". Sentada num banco a avó acenava com a cabeça: "Está bem". Quando, há tempos, fui em busca da minha Escola Primária, para a fotografar, passei pelo lugar onde estava a casa, mas agora estava lá outra, bem diferente; e pensei "ainda bem que o nosso amigo pintor a fixou naquela aguarela".

 

Novembro de 2008