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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

" Portugal é nosso e temos obrigação de o conhecer "

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 
Parafraseando Ernest Hemingway, digo - afirmo: - Vieira do Minho é uma festa! 

Diferente daquela a que se referiu o escritor americano, muito diversa, mas uma festa para os olhos e ouvidos, pois por aí o silêncio ainda é rei e senhor. Conheci ainda só algumas das freguesias, mas o que tenho lido, e visto em fotografias, sobre as outras não as desmerecem.

Dessa terra paradisíaca escreve o Padre Vieira Alves, depois de saboroso intróito, sobre a " Terra de Enlevos ", como chama a terras de Portugal, no todo, que acaba a resumir nos versos de A. Correia d'Oliveira:

 

" Portugueses, tocou-nos em partilha

  A terra mais amiga, e bella, e nobre

  Que a rosa do sol cobre

  Com sua eterna luz de maravilha "

 

" Desnecessário se torna elucidar o leitor sobre as raras belezas do nosso país, tão conhecido e louvado pelos de fora, como depreciado pelos de dentro. Por via de regra, os que dizem mal de Portugal só conhecem as suas cidades, mas nunca percorreram as nossas aldeias, nem as nossas montanhas. E contudo, como diz um dos nossos melhores eescritores, « Portugal é tão lindo! Mas que fora feio, o mesmo carinho lhe devíamos.

( ... ). Estas árvores, estas searas, estas flores são nossos parentes próximos ».

Uma ilustre dama inglesa, que nos últimos meses de 1922 esteve em Portugal a colher material para uma série de crónicas para um jornal londrino, um dia subiu ao Monte de Castro, nos subúrbios de Braga. Apesar de ser Outono ficou tão encantada com o panorama oferecido pelas freguesias de Dume, Palmeira, Merelim, Frossos..., que houve de confessar que nunca, em país algum, vira panorama tão surpreendente ( ... ).

Antero de Figueiredo escreveu que « Portugal é uma tira de sol entre dois azuis religiosos: - o do céu e o do mar »... "

 

Escrevia o padre no ano de 1923, mas hoje já não é assim; fogem, no entanto, à triste regra alguns redutos: são exemplos de excepção, precisamente, os que encontramos, ainda, neste concelho, o qual, não obstante,e demasiadas vezes, para quem lê descrições doutros tempos, não escapou à praga do betão, nomeadamente fora das pequenas aldeias, onde oprogresso não deixou de se insinuar.

" Portugal é nosso e temos obrigação de o conhecer "

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 

" Oh! mas que immensa riqueza naquelle immenso valle!. Esse valle que naquelle dia estava coalhado de cabras e ovelhas. Onde o valle é mais largo, suamos as estopinhas para fazer parar aquelle exercito de chifres, anciosos por se deitar à urze e ao matto.

Ao deixar Lamalonga encontra-se uma chã enorme  e nella o maior carvalhal que temos visto. Antes de deixar Campos, vamos mais uma vez provar que não se trata de um lugarejo para se desprezar. Antes pelo contrario.Alem da sua riqueza em cereais, lá, a poucos metros do concelho de Montalegre, houve mminas de volframio ( ... )

Padre Alves Vieira, « Vieira do Minho »

 

Havíamos deixado para trás a freguesia de Ruivães e agora, antes que iniciasse a província de Trás-os-Montes, uma placa indicativa de que entrávamos na ultima freguesia do concelho, que o mesmo é dizer que era o fim da província do Minho. E de novo aflorou à minha mente: isto é uma festa! Uma festa de granito e de verdes campos.

" Portugal é nosso, e temos obrigação de o conhecer "

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 

" A chamada Terra de Basto, genuíno átrio de Trás-os-Montes, é um quadrilátero montanhoso e austero, recortado por alguns vales verdejantes de recatada feição rústica, humedecidos por frescos regatos afluentes do rio Tâmega e pelo próprio Tâmega. ( ... )

Meio ocultos entre os possantes raizeiros das serras da Cabreira, do Barroso e de Alvão, dois dos concelhos de Basto - Cabeceiras e Celorico -, situados na margem direita do Tâmega, consideram-se ainda dentro dos limites do velho Entre Douro e Minho; na margem esquerda, o de Mondim diz-se já em Trás-os-Montes. "

 

  Assim escrevia Sant'Anna Dionísio em 1965, acerca da região onde me perdi, muito recentemente; e digo " perdi " porque estava pensada apenas como local de passagem, a caminho de outro destino. Mas ou era uma placa apelativa que nos fazia entrar por um caminho diferente, um rio, visto ao longe, que nos fazia mudar de rota, ou, ainda, a vista de um mosteiro ou de uma linda casa apalaçada que nos fazia parar.

 

No essencial foi o mesmo " quadrilátero montanhoso e austero, recortado por alguns vales verdejantes  humedecidos por frescos regatos " que fomos encontrar. Apenas as casas de habitação já não são como as que o escritor viu, por certo. Com algumas excepções, principalmente fora dos centros urbanos, onde ainda pudemos descansar os olhos, magoados com a visão de " kafkianos pombais ", nas formosas e velhas casas de minhoto granito.

Varas da Real Justiça.

Cristina Ribeiro, 19.06.14

 


" De entre os numerosos testemunhos que marcaram a assimiladora expansão dos Portugueses durante os séculos XVI e XVII, pelos continentes da África, da Ásia e da América, pelas Ilhas do Atlântico e do Pacífico,não têm sido dadas merecidas notícias dos pelourinhos ultramarinos, irmãos daqueles que na Idade Média, à voz dos forais, se foram levantando nas praças de todas as cidades e vilas do Reino.

Esse poste ou coluna, monumento singelo ou obra de arte, representava a força e prestígio da autoridade, ao serviço da Lei, e em formas semelhantes foi erguido nas cidades e praças de Além-Mar.

Quando Afonso de Albuquerque, após a conquista de Ormuz, mandou construir a picota no bazar da nova cidade, ajoelhou no primeiro degrau, com o barrete na mão, e assim saudou o novo monumento: "Deus te salve para sempre e acrescente em verdade, vara da real justiça d'El-Rei nosso Senhor . "


Hipólito Raposo, « Oferenda »

E tudo poderia ser diferente. Sem partidos.

Cristina Ribeiro, 19.06.14
" O Rei começava a fatigar-se das manigancias dos politicos, a sentir nausea das ambiciunculas e baixeza, a descrer do estado apathico das gentes, do caracter escorregado sem lealdade - sim, sim, a desconfiar de todos (... ).
A sua phrase - isto é uma monarchia sem monarchicos - clamada n'um colapso d'angustia, ao cabo d'algum demorado exame ás forças defensivas do throno, grita a clareza cutilante com que elle sente o seu isolamento, entre o egoismo abjecto no completo alheamento da patria. ( ... ) O Rei assassinado no dia 1, se ressuscitasse, poderia ver, no dia 2, no governo os mesmos homens, a mesma graxa nas almas, mesma passividade nas ruas, mesmo palavreado nos comicios...
Pobre, pobre D. Carlos! quando se pensa que afinal era mais inteligente e teve virtudes superiores ás dos seus adversarios e seus cumplices. "
Fialho d'Almeida, « Saibam Quantos... »
 
O « Caluniado », como se lhe referiu Ramalho Ortigão, e que, na « Nação Portuguesa », António Sardinha considerou o primeiro dos Integralistas Lusitanos, quis fazer renascer a pátria, fazendo-a voltar à senda do Tradicionalismo, que a fez grande; mas venceu a ideia dos que a queriam pequena, ainda que para isso houvessem de recorrer à maior das baixezas humanas.

" Há tanto tempo a não via, e que saudades, Deus meu! "

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 
Saíramos de Braga com um ventozinho, é verdade, e tinha ouvido que vinha aí " uma frente polar " e com ela uma vaga de frio, de muito frio, pelo que até íamos preparados para o enfrentar. Mas, mesmo assim, não a esperávamos, não no último fim-de-semana de Abril. É certo, também, que quanto mais nos aproximávamos das terras altas mais negras víamos as nuvens e quando fomos almoçar naquele restaurante junto ao castelo começámos a sentir uma baixa acentuada da temperatura. 
Ainda no concelho de Montalegre, seguimos para Tourém; lá perguntaríamos o caminho para a agora espanhola Rubiás, outrora um microestado, espécie de terra de ninguém, o Couto Misto encravado entre Portugal e Espanha, até que, pelo Tratado de Lisboa de 1864, foi integrado no município galego de Calvos de Randin.
E foi precisamente na aldeia de Randin, já na província de Ourense, que começou a cair, primeiro " leve, levemente ", depois nem tanto assim. Rapidamente se formou à nossa volta um lençol branco que nos fez adiar a busca do antigo Couto para tempos mais propícios a explorações pedestres. 
Regressávamos à cidade de Montalegre, repetindo-se o mesmo cenário branco por toda a serra.
Na cidade o frio continuava a ser muito, mas só voltámos a reencontrar a neve na belíssima e típica aldeia de Padroso. 
Na mala vinha o pretexto para voltar a terras de Barroso.
 
 

Ainda por terras de Barroso.

Cristina Ribeiro, 19.06.14
 

" À entrada da aldeia transpõe-se a pequena ribeira da Ponte Pequena ( ... ). Tourém , terra de gente dotada de virtudes genuinamente trasmontanas [ aquando ] da eliminaçãodo « couto misto » e da consequente da linha de fronteira, optou pela nacionalidade de aquém-Gerês e aquém Larouco, muito embora estivesse, como está, ao Norte da linha da cumiada do Larouco e do Gerês, a cavaleiro do rio Salas, castiçamente galego.

Por uma espécie de referendum o povo de Tourém quis continuar a ser português "

Sant'Anna Dionísio

 

Daqui resultou o actual desenho cartográfico, em que essa aldeia agro-pastoril, por então foreira do Duque de Bragança, donde que o seu nome tenha sido aí perpetuado em nome de rua, surge como um dedo a entrar em território de Espanha.
 
     Hoje, diversamente do que sucedia no século XIX, as relações entre ela e a vizinha aldeia galega de Randim caracterizam-se pela boa vizinhança.

« És Português, filho meu. E basta! ninguém é tanto »

Cristina Ribeiro, 18.06.14
" ... António Corrêa de Oliveira, é, porém, especificamente português. As figuras que apresenta e levanta, os horizontes que desvenda, a própria atmosfera ao mesmo tempo fervorosa, heróica e melancólica evocada nos poemas, pertencem, de raiz, a Portugal. ( ... ) ... entusiasta pela nossa gente, os nossos costumes, as nossas paisagens "
João Ameal

Caminhos do vale em monte,
Caminhos do monte em serra:
Como eu vos sei, passo a passo,
Caminhos da minha terra!

Como eu vos amo e conheço,
Caminhos dos pinheirais, 
Onde hão-de vir os meus filhos,
Por onde andaram meus pais.

Altos caminhos da serra,
Quem vos abriu e riscou?
- Ou foi sombra de águia, aos voos
Ou foi Jesus que passou... -

Caminhei... De pequenino,
Fui de ladeira em subida; 
Agora, vou a descer-vos, 
Caminhos da minha vida!

Que triste e bom, ao voltar,
Ao descer lá dos altos cimos,
Ir encontrando as pegadas
Dos passos com que subimos...

Não há caminho em nossa alma,
Não há caminho no chão,
Sem eco, sem sombra, ou saudade
Dos tempos que já lá vão.

Todas as veias do corpo
Ao coração vão parar:
- Caminhos, veias da terra
Ao derredor do meu lar! -

Viajar com os outros na minha Terra

Cristina Ribeiro, 18.06.14
 
" O domingo era também o dia do barbeiro. Fui lá depois do almoço, no primeiro domingo em que assisti à Missa. Já tinha feito a barba de manhã, mas a ida ao barbeiro era, para além de tudo, um acontecimento social importante. É verdade! Até barbeiro tínhamos na nossa pouco sofisticada aldeola, para além de muitas outras coisas igualmente necessárias, como mais tarde viria a saber. Não era um barbeiro a tempo inteiro, porque era agricultor e caçador como todos os outros homens. "

 

                                        Trata-se de um pequeníssimo excerto de um relato de viagens. Uma viagem pelo Douro, levada a cabo por um inglês, em 1939. Antigo funcionário do British Museum, John Gibbons tornou-se um pouco conhecido escritor, a quem o editor sugeriu esse relato. Escolheu Portugal porque o baixo custo de vida era mais consentâneo com a sua modéstia, e o Douro por ter aí nascido, e aí possuir uma pequena casa, um seu amigo, que vivia por então em Londres, para onde emigrara muito jovem ainda.

Um livro cativante, onde se espraia a vida no dia-a-dia das gentes dessa região, escrito depois de uma estadia de quatro meses na povoação de Coleja, na freguesia de Seixo de Ansiães, concelho de Carrazeda de Ansiães. Livro que lhe valeu um prémio, dado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, " para a melhor crítica em língua estrangeira sobre o nosso país ".  

                          Foi sem saber ainda da sua existência que, começos deste ano, visitei Coleja. O que vi não o encontro espelhado, totalmente, no « Não Criei Musgo », mas, aqui e ali, dou conta de que " nem tudo o vento levou ", lá, no pequeno povo bem encravado na serra, onde o progresso encontra ainda alguns baraços.

Os « Franciscos Gomes » de Tomaz de Figueiredo ( 2 )

Cristina Ribeiro, 18.06.14
 
" Esperemos que a RDP ainda guarde as charlas radiofónicas do Tomaz, que deram origem depois à edição impressa do Diconário Falado. Que bom que era podermos ouvi-lo! ", escrevia há tempos um caríssimo amigo na caixa de comentários do blogue. Como me lembrei desta esperança quando há pouco liguei a televisão - só politicozinhos, desses que fazem a politicazinha que inça o nosso quotidiano. Programa de verdadeiro serviço público, como deveria ostentar a televisão estatal? Pois continua a sonhar!...

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