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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Dos livros, da Língua Portuguesa.

Cristina Ribeiro, 23.12.13

Em 1885, ainda o autor do livro que venho de ler, « Coisas Espantosas », vivia em Seide, escrevia Manuel Pinheiro Chagas algo que qualquer leitor de Camilo tem como inatacável: " a opulência da linguagem só tem por igual a riqueza do seu estilo ".

É, porém, em Revista bem posterior, porque vinda a público apenas em 1916 - « Camiliana- Archivo de Materiaes Para Um Monumento Litterario Ao Grande Escriptor » que leio tal apreciação do seu contemporâneo. E mais diz o autor do polémico « Poema da Mocidade »:

" Ao percorrermos rapidamente a lista enorme das obras de Camilo pasmamos! Que espírito fecundíssimo e vário! Que talento tão maleável! ( ... ). Como pode o escritor vigoroso e terrível que descreve os dramas do adultério e do crime traçar ao mesmo tempo as páginas castas e suaves d' « O Bem e o Mal »!

E no meio de tudo isto aparecem livros que só Camilo sabe escrever: são os romances humorísticos no género da « Queda de  um Anjo »...................

E todas estas obras, o romance, o panfleto, o drama, o folhetim..., em que maravilhosa linguagem são escritas. Nunca a Língua Portuguesa se mostrou no nosso tempo mais nervosa, mais rica, mais maleável! "

Por tudo isto, mas também por muito mais do que isto, vimos nos dias de hoje uma escritora que a ele por bastas vezes foi beber - a consagrada Agustina - lapidarmente proclamar: " 

'Quando o coração me falha neste dialecto de escrever livros, volto-me

para Camilo, que é sempre rei mesmo em terra de ciclopes "...

A todos um Santo e Feliz Natal!

Cristina Ribeiro, 20.12.13
" Dezembro. Véspera de Natal. Quasi meia-noite. 
Na mesma casa, na aldeia. Interior a um tempo sala e lareira, parte em sobrado, parte em ladrilhos. 
Porta e janelas dando para o vale, mas agora cuidadosamente fechadas.
Ao cimo, contra a parede, a enorme chaminé de granito, avançando sobre o lar em esteios de pedra lavrada. Sob a chaminé arde um grande fogo, esperto e doirado como o sol de Junho. À roda, bancos de encosto, negros pelo fumo de muitos anos. Pertences domésticos: - a masseira, a talha da água, armários envidraçados onde alvejam as toalhas de linho, ou fartam os olhos abundosas e morenas boroas de pão ( ... ) . Em volta da fogueira um pequeno e familiar grupo de gente rústica. Os homens aquecem ao lume as mãos endurecidas pelos trabalhos da terra, consolados e felizes. As mulheres fiam, no mesmo gesto luminoso e rítmico, o linho das suas rocas.
( ... ). Sente-se que, lá fora, a noite é um vivo e glacial arrepio de frio e luar. O fogo da lareira incensa a casa no seu resinoso, sadio aroma........................................................................................................................................................................................................................ " 
António Corrêa d'Oliveira, « Auto das Quatro Estações »
E vêm-me à memória aquelas noites de Inverno passadas ao redor da lareira, na saudosa Casa -do- Forno da minha meninice. As noites de Natal, em que o Pai era o perfeito maestro, tentando disciplinar as vozes infantis que entoavam os cânticos que, pacientemente, nos ensinara. 
No espírito de cada um de nós, a esperança de que, mais uma vez, o Menino se não esquecesse de deixar um presente nos sapatinhos que, " com muito carinho e cheios de fé ", iríamos pôr na chaminé...

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Cristina Ribeiro, 19.12.13
" Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar "
 Uma máxima que faço minha quando se trata de ajuizar sobre um assunto. Para tanto, até que me sinta capaz de o avaliar, só um caminho se me abre: estudá-lo, pensá-lo, e, desse modo, aprender; como digo muitas vezes, e nisso aproprio-me do pensamento inscrito num  blogue amigo, por o achar tão verdadeiro, " Dia em que se não aprende nada é um dia perdido ".
Não raro chego a conclusões que fazem com que muita gente me olhe de esguelha:" como é que pode pensar assim??? " leio em muitos olhos e entrelinhas. Porque, a dado passo da minha vida, comecei a querer, repetindo José Régio, " não ir por aí "; seguir pela estrada " por onde me levam meus próprios passos ".
E quando vejo que me olham de esguelha, lembro-me de Schopenhauer:
 "Toda a Verdade passa por três fases!
Primeiro, é ridicularizada.
Segundo, é violentamente atacada.
Terceiro, é aceite como evidente"

A Igreja e " a condição dos operários "

Cristina Ribeiro, 17.12.13
O fim do século XIX estava quase no fim, quando o Papa Leão XIII publicou uma nova encíclica: a « Rerum Novarum », em que, e ao contrário do que pensa tanta e tanta gente, a Igreja demonstra preocupações sociais.
A dado passo lê-se nessa Carta do Pontífice: " O que se pede aos governantes é um curso de ordem geral, que consiste em toda a economia das leis e das instituições; queremos dizer que devem fazer de modo que da mesma organização e do governo da sociedade brote espontaneamente e sem esforço a prosperidade, tanto pública como particular. Tal é, com efeito, o ofício da prudência civil e o dever próprio de todos aqueles que governam. Ora o que torna uma nação próspera, são os costumes puros, as famílias fundadas sobre bases de ordem e de moralidade, a prática e o respeito da justiça, uma imposição moderada e uma repartição equitativa dos encargos públicos, o progresso da indústria e, do comércio, uma agricultura florescente e outros elementos, se os há, do mesmo género: todas as coisas que se não podem aperfeiçoar, sem fazer subir outro tanto a vida e a felicidade dos cidadãos. Assim como, pois, por todos estes meios, o Estado pode tornar-se útil às outras classes, assim também pode melhorar muitíssimo a sorte da classe operária, e isto em todo o rigor do seu direito, e sem ter a temer a censura de ingerência; porque, em virtude mesmo do seu ofício, o Estado deve servir o interesse comum. "
                     " Sobre a Condição dos Operários " era o seu subtítulo.
 

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Cristina Ribeiro, 12.12.13

" Um partido é ditadura; dois ou mais é " democracia "*; nenhum é monarquia, pois o Povo não precisa de intermediários para governar. "

 

* As aspas são minhas: tenho, temos os monárquicos tradicionalistas, os partidos como sinónimos de " governemo-nos a nós mesmos " e, obviamente, de corrupção. Democracia, o governo pelo povo, encontramo-la na Monarquia, no Municipalismo. Só.

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Cristina Ribeiro, 10.12.13
" Participante da natureza da Nação e da natureza do Poder Real, a Lei nem por isso se deve confundir com este ou com aquela.Quando D. João II cria a divisa inultrapassável do Poder Real -« Pela Lei e pela Grei » - exprime com rara clareza que não basta ao Rei amar o Povo; importa que esse seja um amor ordenado. ( ... )
D. Miguel foi Rei não apenas porque as Leis Fundamentais o chamaram ao Trono, mas também, acima de tudo, porque restaurou a Constituição Histórica, atacando sem mercê o Absolutismo e o Liberalismo - ambos ideológicos.
Por amor da Grei, salvou a Lei. No respeito pela Lei, salvou a Grei. "

Henrique Barrilaro Ruas, « A Liberdade e o Rei »

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Cristina Ribeiro, 06.12.13
Eu quero ouvir-te, meu Gonçalo Eanes,
- quero aprender a contigo profetar.
Tu, sim, que nos dirás, sem que te enganes
o dia em que o Encoberto há-de tornar!
Porque possues o espírito dos Manes,
ele te fez um bruxo singular.
Que o meu saber ao teu saber irmanes
quero aprender contigo a profetar!
E profetizo. E escuto Pero Jaco
a profetar também do seu buraco
e toda a gente a responder: « Amen! »
Ergo a peneira. Sob a lua, longe, 
lá vejo vir, vestido como um monge,
esse que está p'ra vir e nunca vem!
   António Sardinha, « O Bandarra »

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Cristina Ribeiro, 02.12.13
" Na minha inteligência ardem as luminosas verdades políticas do Integralismo, que são não só a verdade, mas também a salvação. Posta como axioma a necessidade de salvar a Pátria, a necessidade da Monarquia demonstra-se como um teorema ( ... )
                          Desentulhado o crapuloso caos da democracia, e seus mentirosos ideais e seus escandalosos factos; provada à luz da razão, a ignomínia de mentiras como a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, a Soberania do Povo, o Sufrágio Eleitoral, a Bondade do Indivíduo, a Omnisciência do Parlamento, a Omnipotência do Governo sem Rei; reveladas à luz da História a corrupção, a baixeza, a alta-traição, o carácter anti-nacional...desentranhadas as tenebrosas psicologias dos políticos da democracia, as manigâncias torpes, as lutas imorais dos seus partidos, a comédia trágica do seu parlamentarismo, a asfixiante tirania da sua centralização, a incompetência dos seus governos, os seus mações, os seus plutocratas, os seus traidores, os seus demagogos... "
De todo este dantesco cenário nos avisou o esclarecido, porque ensinado pela História, a grande Mestra por tantos ignorada, José Pequito Rebelo; acaso o ouvimos? não! - para que de novo voltássemos a viver o caos...