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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

" Ouvi: eu planjo, eu planjo as badaladas!/Tombam, compassadas tombam,/lágrimas ermas, tombando/ sobre as almas alarmadas/ escutando... *

Cristina Ribeiro, 14.10.13

Na secção dedicada aos livros que por então iam sendo editados, João da Rocha, colaborador da « LÍMIA- Revista mensal ilustrada de letras, ciências e artes », propõe, no nº 8 da Revista, de Maio de 1912, entre outras a leitura do livro que, no ano anterior, dera ao prelo Afonso Lopes Vieira. Livro de poesia, género em que o multifacetado escritor de Leiria se estreara em 1897, com « Para Quê? ».
Nessas " Impressões Pessoais " discorre dest'arte o referido jornalista: " ... Curtas e leves, as poesias das frescas e radiosas « Canções » são como brancas ou irisadas borboletas voejando entre as verduras olorosas dum jardim. Lê-las é amá-las, decorá-las, repeti-las lentamente como quem sorve, a golos inteligentes, um licor precioso, feito de sucos e essências naturais. Há uma sã alegria neste livro ( ... ), e se por vezes a contemplativa melancolia ou a piedosa ternura, como um óleo doce e brando se entorna, se derrama sobre a agudeza e a amargura dos espinhos e das dores, logo um sorriso de alada ironia vem temperar a sensibilidade que se queda e esquece... "

 

Assim são os versos daquele que, nas palavras de Hipólito Raposo, " foi sagrado Grão-Mestre de Portugalidade.

Profeta e apóstolo descendente de Bandarra, em nenhum outro português contemporâneo mais viveram e latejaram as pulsações do coração da Pátria "

    
              *in « Canções do Vento e do Sol »

Viagens na minha Terra.

Cristina Ribeiro, 12.10.13
" Todos os anos, em meados de Setembro, no remoto Douro Superior de Portugal, pode ouvir-se o som de cantares festivos que ecoam suavemente sobre o rio Douro à noitinha. É tempo de vindimas na Quinta do Vesúvio e a voz do capataz pode ser ouvida dentro da adega, incitando os pisadores enquanto fazem o corte. Repetindo um ritual anual que atravessou gerações, a pisa das uvas acabadas de vindimar não é feita por máquinas mas sim pelos pés de homens e mulheres em tanques de pedra, abertos, chamados lagares. O dia foi longo e o grupo de pisadores passou o dia nas vinhas a vindimar as uvas à mão. Este é o motivo porque cantam, incentivando-se mutuamente para continuar a pisar as uvas frequentemente até altas horas da noite "
Artigo sobre a Quinta do Vesúvio – revista "World of Fine Wine", citado no sítio desta  quinta.

Chegáramos ao concelho de Vila Nova de Foz Côa. O mapa que nos orientava dizia-nos que à nossa frente estava a freguesia de Numão, de  que tinha lido referências abonatórias o bastante para uma visita. A fome era grande já, mas não podíamos deixar de a visitar, embora não tão demoradamente como depois vimos ela merecer; para uma próxima vez?...

Quando procurávamos o afamado castelo de Numão, uma placa a desviar-nos da rota: « Quinta do Vesúvio »... Que reminiscências estas simples palavras: D. Antónia Ferreira, o Barão de Forrester... - uma quinta quase lendária, a primeira que nos vem à memória quando falamos em " Douro ". O estômago teria de esperar um bocado mais!

Mas se valeu a pena!...

Ao espírito de quem vê tamanha beleza natural fluem as palavras do visconde de Vila Maior: «Imaginem, se puderem, uma vinha contendo entre os seus muros sete montes e trinta vales!»

Um aniversario Real e uma batalha decisiva ( 25 de Julho ).

Cristina Ribeiro, 03.10.13

Sabe-se que quando um facto histórico não tem prova documental a atesta'- lo, o historiador apenas pode socorrer-se da tradição; tradição que pode ter uma base documental pouco segura e até contraditória , ou, na falta de qualquer pista escrita, que se limita 'a transmissão oral através dos tempos; parece-me estar neste caso a efeméride hoje comemorada, que nos diz ter D. Afonso Henriques nascido num 25 de Julho. 
Menos consensual parece ser o ano de tal acontecimento. Aprendi na escola prima'ria ter tido o nosso primeiro Rei nascido em 1111, baseando-se tal tese em refer^encias vagas na Crónica dos Godos, o que explica que, 'a margem das comemorações oficiais, em 2009 , um grupo alargado de vimaranenses, para quem a Tradição fala mais alto, festejassem os 900 anos de D. Afonso I em 2011. Não e', porém, essa a opinião quer de Alfredo Pimenta, quer do Padre e historiador Luís Gonzaga de Azevedo, que, baseados, nomeadamente,no relato da vida do primeiro santo português, S. Teoto'nio, contemporâneo de D. Afonso Henriques - nasceu em 1107 - e seu amigo, dão o futuro Rei como nascido em 1106.



Anos mais tarde em 1139, tinha sido já dado o primeiro passo no caminho da Fundação da nacionalidade em S.Mamede, travou-se no lugar de Ourique ( " situado quer no Baixo Alentejo, quer no Cartaxo, cerca de Santarém , quer junto 'as nascentes do Lis, próximo de Leiria ". -João Ameal ) uma importante batalha, pois " 'a semelhança do filho de D. Urraca, anos antes coroado imperador após os seus triunfos contra os Almora'vidas também o nosso D.Afonso parece ter-se atribuído o título de Rei- título que muitos lhe dão desde 1128, tanto aqui como além-fronteiras " )
Escreve Alfredo Pimenta no seu < Elementos de História de Portugal > : " A 25 desse mês de Julho, o exe'rcito português encontrava, a barrar-lhe o caminho, no lugar de Ourique, um exe'rcito de mouros. Deu-se a batalha de que sai'u completamente vitorioso o português "

" Se se analisam e decompõem os elementos orgânicos dum Estado, encontraremos em toda a parte o município " *

Cristina Ribeiro, 03.10.13

" O POVO PARA GOVERNAR-SE NÃO PRECISA DE INTERMEDIÁRIOS (os partidos) " - grande frase, grande verdade, esta evidência relembrada por Nuno Cardoso da Silva ( Acção Monárquica Tradicionalista ) .

Basta procurarmos na História pátria, e temos a resposta no municipalismo.


                                 « A Tradição que merece ser Futuro »




 * Savigny

Viagens na minha Terra.

Cristina Ribeiro, 03.10.13

Estávamos novamente no Parque Natural do Alvão. Desta vez o percurso para a ele chegar fora outro: havia muito que esse era um destino adiado, as Fisgas de Ermelo, no concelho de Mondim de Basto.A maior queda de água de Portugal, e das maiores da Europa, alimentada pelo rio Olo, que nasce ali perto, na linda aldeia de Lamas de Olo, já no concelho de Vila Real, que visitáramos em tempos.

Num leito de xisto, é impressionante o espectáculo que oferece aos nossos olhos maravilhados.

Mas nem tamanha beleza faz esquecer o outro espectáculo que a esses mesmos olhos se deparou no caminho montanhoso que lá nos levou: um espectáculo dantesco de terra queimada, escura, de onde se desprendia ainda o cheiro a fumo, tão recentes eram as marcas dos fogos que por lá lavraram, ainda não há muitos dias.

O belo de mãos dadas com o horrível.

« Por essa immensa abobada de estrellas, Por esse mar de fogo viajando... » *

Cristina Ribeiro, 03.10.13

" Quando o anno de 1868 pertencia já ao passado, scismavas á meia noite sobre o mau rumo que te pareceu levarem as nossas letras. Eu sou um pouco mais crente, e menos atrabiliario: á entrada de 1869, estendo os olhos ao futuro, e espero e creio muito, porque já não são de pouca monta as primicias que nos offerece o anno litterario de 1869. Falo das Flores do campo de João de Deus. ( ... ) não escolho, para te escrever, a hora lugubre dos phantasmas. Coméço a escrever-te ás horas d’uma esplendida manhã, espalhando os olhos por aquellas duas margens do nosso Mondego: a relva rasteira que as veste, e que me fala de vagas esperanças, ha de desentranhar-se em flores e frutos. Deixa-me crer muito no dia de ámanhã.
E porque não virão as flores da poesia derramar perfumes sob este céu de Portugal, neste jardim da Europa, onde já suspirou melodias Bernardim, Camões, Garrett, Castilho! Não morre a poesia portugueza: a estaturada deusa ainda não tremeu na peanha; e quando os iconoclastas do bello quizessem contra ella erguer braços profanos, a quantos apostolos da arte não teriam de suffocar a voz!
Deixa pois cantar os poetas que levantaram a vista do pó da terra, onde tudo é limitado como a materia, e vil como o gusano das ossadas. Deixa que eu te fale de um poeta, cujo espirito é aguia que raro avisinha a ponta das azas aos marneis da sociedade. A gente pasma da altura a que se eleva aquelle espirito, e acontece ás vezes que a nossa vista não pode acompanhar tão levantados vôos: perde-se elle no vacuo, e, quando divaga em mares de luz, ficamos nós em trevas, sem ver a direcção que elle toma…
João de Deus não canta para a sociedade, canta para si. Quer discorra por vergeis de poesia singela e perfumada, quer se eleve a alturas desmedidas, não se importa de que não lhe oiçam nem entendam o canto sempre harmonioso. É talvez por isso que elle não publicou, nem publicaria as Flores do campo.
Ao amigo que lh’as estampou, muito devemos nós todos os que presamos as nossas boas letras. "

Cândido de Figueiredo," Cartas a J. Simões Dias ", in « A Folha »
 
 
                   * « Flores do Campo »

...

Cristina Ribeiro, 03.10.13

As primeiras fotografias do álbum mostram um bebé no meio de quatro rapazes mais velhos, nos penedos da praia da Póvoa de Varzim. Mais tarde viriam as irmãs. Foi aí que passei todos os meses de Setembro, até aos dezasseis anos. Junho era o mês em que a mãe tratava de arrendar a casa. Quando encontrámos a ideal, passou a ficar reservada para o ano seguinte, o que faciltou muito as coisas. Era um mês inteirinho de brincadeiras com os amigos que se encontravam todos os anos, no sítio do costume. É com um grande sorriso que relembro aqueles dias, sempre tão cheios, em que até os banhos na água gelada eram motivo de alegria e algazarra saudável. Ao banho de mar seguia-se o ritual, ansiosamente esperado, do "pãozinho de leite ó pastéis fresquinhos", anunciados pelas mulheres de branco e de cesto de vime, logo rodeadas pela criançada toda. Mais fundo na memória, só o gemido da ronca, que, nas manhãs de nevoeiro, guiavam os barcos, e nos anunciava que naquele dia tudo começaria mais tarde. Saíamos da praia já com o sol quase a tocar no mar, mas sempre com a sensação de que era ainda pouco.
( já editado )


Passaram vários anos até voltar a passar as férias na praia, trocada por uma quinta em Valença do Minho. Também o mês já não era o de Setembro, mas o de Agosto, e seria em Agosto que, passados anos, iria voltar à praia, mas agora a praia já não era a da Póvoa de Varzim; a de A Ver- o-Mar era mais sossegada, e era ali vizinha, um pouco mais a Norte...
Não demoraria muito, porém, e senti o cansaço da praia- era o chamamento do campo, da natureza verde das árvores e das serras. Voltei agora ao mar e a Setembro, que, como dizia um título de Odette de Saint-Maurice, continua a ser " um grande mês ".

Viagens na minha Terra.

Cristina Ribeiro, 03.10.13

Continuávamos na grande região do Douro, mas o distrito era já o de Bragança. Estávamos, pois, na " Terra Quente " do Nordeste Transmontano.
Para trás tinham ficado o miradouro das " Curvas ", a Porca de granito e o Pelourinho de Murça. Depois de nos deliciarmos nessa vila do concelho de Vila Real com uma bela posta " tipo mirandês ", seguimos por uma estrada montanhosa sempre ladeada de vinhas, oliveiras e figueiras, e agora a placa informava-nos de que acabáramos de entrar no concelho de Carrazeda de Ansiães. 
À direita, o rio Douro; pela esquerda passava um dos seus afluentes - o Tua.
Uma informação de que ali perto poderíamos ver um belo espécime de moinho de vento, modelarmente recuperado, leva-nos, já o sol começava a baixar, bem ao cimo do monte...

O regresso haveria de ser feito de novo pelo distrito de Vila Real: por Alijó, de onde desceríamos ao Peso da Régua.

Viagens na minha Terra.

Cristina Ribeiro, 03.10.13

" ... Segue-se demoradamente ao longo da encantadora e ampla toalha do Alto-Rabagão. Formoso lago de altitude! ( ... ) Passa-se junto à aldeia de Veade de Baixo. De um lado outro, pequenos lameiros, modestos retalhos de centeio ou de milho anaínho, um ou outro tufo de carvalhiços. Ao longe, do outro lado do lago, permanece o harmonioso desenho da Serra das Alturas, com as suas duas inconfundíveis corcovas. ( ... ) Logo após Travassos ( onde subsiste um bom pedaço de estrada de macadame, da era do Fontismo ), a nova rodovia inflecte para Nordeste, na direcção da aldeia de S. Vicente de Chã, a fim de contornar um extenso tentáculo azull da grande laguna de altitude. "

Sant'Anna Dionísio descrevia assim, em 1965, a região do Barroso, ora visitada, e foi, em grande parte, com excepção de algumas casas de habitação que, por certo, o Autor nem imaginaria por lá encontrar, esta a paisagem serrana que aos nossos olhos se deparou.
Depois de visitarmos o mosteiro de Santa Maria das Júnias, e a vizinha cascata, alimentada pelas águas cristalinas do ribeiro do Campesinho, que já antes nos refrescara a vista, quando o vimos passar mesmo ao lado do mosteiro, seguimos estrada fora, mas ainda no concelho de Montalegre. Na nossa frente, uma das suas muitas freguesias, a cuja beleza já nos tínhamos rendido - Chã e os seus diversos lugares ou aldeias. 
Primeiro a aldeia de Peirezes, onde, percorrido paradisíaco caminho atapetado de verde, e ladeado de verdes árvores, pudemos admirar belíssima ponte, dita romana ( mas que, li em blogue dedicado à localidade, terá sido " erigida na Idade Moderna, o que não invalida que não tenha existido outra em época romana pois é um local confirmado da passagem da via romana " ); depois, a de Travassos de Chã, com casas de sabor rústico bem conservado, como o forno comunitário.
A tarde chegava ao fim quando chegámos a uma outra freguesia, onde, por caminhos enlameados, se passeavam vários exemplares de nutrido gado, bois e cabras. Nela se destacava a linda capela da Senhora do Rosário: chegáramos a Veade de Baixo, que, havendo ensejo,merece mais demorada visita, a horas do dia mais favoráveis.

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