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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

A caminho de Barroso, com Antero de Figueiredo.

Cristina Ribeiro, 20.09.13

" ( ... ) Agora, para as Alturas, é a cavalo, através da serra quase sem árvores, em chão roxo pelas flores das queirogas e amarelo pelas flores da carqueja: - montes de mosto onde chovesse saraiva de enxofre...

Ao redor, montanhas altas e varridas. Começa a ver-se, à esquerda, em baixo, um longo vale abeberado de verdura e de fartura, que se prolonga, formando o planalto da aldeia das Alturas, e se estende para lá, até às veigas fartas de Boticas. Serras em torno. ( ... )

E neste ondulante mar esverdido, de montes vagueiros e baldios, sobe aos céus, contra os homens, a queixa amargurada das terras que querem ser mães de florestas úteis e belas, que aproveitam às gentes e, em sua beleza basta e religiosa, agradem a Deus. "

« Jornadas em Portugal »

Regresso à serra, agora nas palavras do escritor, e encontro S. Bernardo de Claraval.

Cristina Ribeiro, 20.09.13
 

Desta feita é a visão da serra do Gerês, passava o Autor por Terras de Bouro, que inspira a Domingos M. da Silva esta « Apologia da Montanha »:

" A sua presença obriga a estacionar aqui, ao menos por uns momentos, na arrebatadora contemplação de uma das mais caprichosas formas e belezas da Terra.

    O perfil gigantesco e bizarro da serra geresiana, sem parelha no sistema orográfico das montanhas peninsulares, deixa impressão indelével na alma do visitante. .............................................................................................................................................................................................................
 
É a montanha boa inspiradora e conselheira. Na profundeza dos vales isolados entre montanhas, à funda solidão a que voltava sempre que  precisava de inspirar-se, saindo depois com o ânimo confortado e a vontade decidida para trovejar contra os desmandos da sua época, o abade insigne de Claraval, o intensificador da vida monástica, o que ditou as leis da cavalaria das cruzadas, o homem que recusou o supremo pontificado e foi mais glorioso na sua grande humildade e simplicidade, deveu o segredo da sua descomunal estatura moral ao retiro do mundo. Altíssimo monte de santidade, como lhe chama Frei Luís de Sousa na História de S. Domingos, também a estas longínquas paragens dos vales de Bouro, nas solidões do áspero Gerês, chegou o eco da sua incomparável actividade, quando o primeiro Afonso interveio na restauração do  velho mosteiro das montanhas. "

« Entre Homem  e Cávado »

Frases com Sentido.

Cristina Ribeiro, 20.09.13
A dignificação política do nosso País conseguir-se-á quando os homens bons de Portugal se resolverem a arrancar os Municípios das mãos em que caíram, cortando pela raiz o partidismo."
António Sardinha

         Num ensaio que intitulou de « Teoria do Município », António Sardinha, depois de evocar o Municipalismo de Alexandre Herculano - " O estudo do Município, nas origens dele, nas suas modificações como elemento político, deve ter para a geração actual subido valor histórico, quando a experiência tiver demonstrado a necessidade de restaurar esse esquecido mas indispensável elemento de toda a boa organização social " - , e de asseverar que a concepção de sociedade que viria, pelo contrário, a triunfar " gerou, como não podia deixar de gerar, o cesarismo - e com ele o absolutismo mascarado de centralização ", ' convoca ' os depoimentos de pensadores tais como Savigny ( " Se se analisam e decompõem os elementos orgânicos dum Estado, encontraremos em toda a parte o município " ), Tocqueville ( " É a primeira escola onde o cidadão deve aprender os seus deveres políticos e sociais " ), Royer-Collard ( " O município, tal como a família,existiu antes do Estado. Não foi a lei política que o constituiu, porque foi achá-lo já formado " ) ou Cânovas del Castillo - fundador do Partido Liberal Conservador de Espanha - ( " Um pueblo que no tiene liberdades locales, carece de hogar " ).
                                              ( antes editado no blogue Guimarães da Liberdade )

Como se fora hoje.

Cristina Ribeiro, 20.09.13

" Hoje, quando teríamos de reconcentrar a seiva da velha raça, como as árvores que se restauram no Inverno, eis-nos pulverizando em vis discórdias as forças sobreviventes, esgotando-as em lutas fratricidas, desnacionalizando-nos em contacto com doutrinas dissolventes, apossadas de um delírio suicida, atraiçoando as virtudes tradicionais.
Chegou a hora intransferível de voltarmos a ser portugueses, despojando-nos das várias denominações sectárias que nos esfarrapam, pois só na unidade da acção e patriotismo encontraremos as forças resistentes e estimulantes da salvação. "

 

 

    Escrevia assim, em 1925, Carlos Malheiro Dias na « Exaltação à Mocidade », mas, como acontece com tantos escritos contemporâneos, ou anteriores, estas palavras poderiam bem ser proferidas em dias de hoje, flagrante que é a similitude entre os tempos então vividos, com os mesmos males a afligirem a sociedade portuguesa, e os que hoje, desgraçadamente, vivemos.

Nada aprendemos.

« Bucólica »

Cristina Ribeiro, 18.09.13
Que paisagem tão bela!

Podia um Corot pintá-la!

Vem tu, Carmen, contemplá-la,

Daqui, da minha janela.

 

 

Além, perto daquela cancela,

Canta e fia uma zagala;

Ao pé, um cordeiro bala,

É todo o rebanho dela;

 

 

Num campo um jumento zurra;

Cantam grilos no montado;

Batem-se cabras à turra.

 

 

Tu, dança um sapateado,

Enquanto eu gemo à bandurra

Saudades do meu passado!

      

                         João Penha, « Últimas Rimas »

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