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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

" Guimarães antolhava-se [ a Eusébio Macário ] terra de promissão "

Cristina Ribeiro, 03.12.12
 
 
" Eusébio Macário não conseguia refazer-se à existência de Basto. Faltava-lhe a conversa do « Palheiro », a consideração de um auditório atento e de variegada erudição.
Já não se acomodava a lidar com labregos, encodeados, muito broncos, ele ex-indigitado vereador da Cã,mara do Porto.
Atrigava-se de manipular unguentos e pomadas depois que casara a filha com o barão dom Rabaçal ( ... ). É verdade que a baronesa fugira com o cómico, dera em droga, mas nem por isso Eusébio Macário deixara de ser sogro de um titular, e para mais Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Sentia-se aborrecido, deslocado. Habituado à moleza das poltronas do genro, já não lhe sabiam, como antes, as largas sestas roncadas à porta, no incómodo mocho de cerdeira.( ... )
 
           Um dia, porém, soube-se em Basto que falecera em Guimarães um boticário, o Pereira, o último de uma dinastia afamada, cujo representante da época mesinhara o próprio rei D. José na sua visita ao berço da nação. A família de Pereira resolvida a fechar a farmácia, conservava ainda o praticante à espera da liquidação final das pomadas e unguentos.
Isto fez germinar no cérebro da mulher de Macário, a Eufémia Troncha, uma ideia genial: - porque não haviam de ir para Gimarães, boa terra, muito dada a comesainas, terra de soldados e mais civilização? ( ... ) 
Eusébio rendeu-se e escreveu à viúva do Pereira, a saber se a farmácia se alugava.
Veio a resposta pronta: - que sim, que se alugava...; que fosse lá...
 
Eram 5 horas da tarde de um sábado quando Eusébio Macário entrou no Toural ( ... ). A farmácia era na Porta da Vila ( ... ). A freguesia, segundo Eusébio colheu da boca do praticante, era da melhor. A Casa do Arco, a do Toural, a de Vila Pouca, a do Cano sortiam-se lá. E, antes de entrar em mais ajustes, que lhe não faltaria a dos dois hospitais das Ordens Terceiras... ( ... )
                      Macário voltou a Basto radiante, cheio de projectos, de esperanças de vida regalada, com muito pinto e sonecas tranquilas. ( ... )   "
 
 
Já Camilo, o feliz criador da burlesca e interesseira personagem do boticário de Basto, tinha morrido, quando o futuro patrono da minha Escola Preparatória engendrou este seu regresso ao Minho, depois de uma saída pouco airosa da capital nortenha: corria o ano de 1902 quando este livrinho encheu os escaparates das movimentadas livrarias da cidade de Afonso Henriques. Por então o autor tinha já lugar cativo entre uma geração de homens que muito trouxeram às letras e cultura em geral.
Com efeito, podemos ler no " site " do Agrupamento de Escolas João de Meira, entre outras coisas que indiciam um Grande, escolhido para continuar a obra de grande fôlego, iniciada pelo Enorme abade de Tagilde, Vimaranis Monumenta Historica: " Possuidor de larga cultura, a sua vocação literária manifestou-se quando, ainda estudante, principiou a colaborar em jornais académicos e de província, primeiro com versos bem trabalhados e depois em prosa, fácil e de vivo colorido. Em 1902 publicou Influências Estrangeiras em Eça de Queirós, curioso estudo revelando profundo conhecimento da obra do romancista, e mais tarde Eusébio Macário em Guimarães, à guisa de capítulos suplementares à Corja, de Camilo, e ainda Cartas de Camilo Castelo Branco a Francisco Martins Sarmento, com prefácio e notas. Cedo, porém, se manifestou a sua predilecção pelos estudos históricos e escreveu: Subsídios para a História Vimaranense; O Claustro da Colegiada de Guimarães e Estudos da Velha História Pátria - O Livro da Mumadona. "
Mais um vulto de que nos podemos orgulhar; mais um Grande Português.