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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Na fotografia, a sépia, uma mulher jovem, de traços finos num rosto dominado por expressivos olhos castanhos,

Cristina Ribeiro, 25.01.11

 

 

aparentando entre 25 e 26 anos.

Por essa altura, disse-mo depois a filha, minha mãe, tinha já três filhos. O marido, carpinteiro e garfeiro, atravessara o Oceano, buscando no outro lado, numa fábrica de tabaco, o sustento de todos, que aqui não encontrava. Cartas atravessavam o Atlântico, mas a mulher achava que podia fazer mais para mitigar as saudades que o seu homem protestava a cada volta do correio.
Um dia vestiu a roupa de Ver-a-Deus, apanhou a camioneta para a cidade e dirigiu-se a um estúdio fotográfico: dali sairia com o retrato com que queria surpreendê-lo.Nele, trazido até nós, muitos anos depois, nenhum dos dois viva já, havia muito tempo, por um neto do dono da fábrica de tabaco, um pormenor que ressalta: sobre o coração a mulher prendera um raminho de amores-perfeitos.Eles falariam por ela quando a carta, que acompanhava a fotografia, chegasse ao seu destino, naquela América que já fora portuguesa. Mais eloquentes do que qualquer palavra que nela escrevesse.