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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

De D. Carlos dizem alguns adversários contemporâneos:

Cristina Ribeiro, 31.01.11

Fialho de Almeida ( que viria a " reconciliar-se com o regime tradicional, depois de um encontro com o ministro de D. Carlos " ) : - " Superior, inteligente, culto, bravo e generoso...enjoado da torpitude dos partidos, e tendo da ideia de pátria um culto inverosívelmente alto e absorvente "

 

Homem Cristo : -" Tinha defeitos, mas, no meio dos seus defeitos, foi o político mais inteligente do seu tempo "

 

João Chagas, a propósito das cartas a João Franco : - " Aliviam a memória de D.Carlos de um grande peso "

 

 

 

 

 

Foi este " homem forte de vontade, enérgico e decidido nas atitudes, largo nas ideias e profundo no saber " ( « D.Carlos »- Casimiro Gomes da Silva ), que um bando de conspiradores que tinham escapado à prisão a 28 de Janeiro do mesmo ano assassinaram faz amanhã 103 anos.

 

" À noite, nas  Necessidades, o Conselho de Estado reunido persuade o novo Rei, infante D. Manuel, a afastar João Franco e a formar ministério novo. Faz-se a vontade ao inimigo, abatem-se bandeiras perante o crime. « Os regimens sucubem e desaparecem, menos pela força do ataque que pela frouxidão da defesa » - dirá o próprio João Franco. Resume, muito exactamente, um jornal, meses depois: - ' O Rei morreu na tarde de 1 de Fevereiro, no Terreiro do Paço. A Monarquia morreu nessa noite, no Paço das Necessidades ', precisamente quando a Realeza se erguia unida a um governo sério e forte. Eliminado da cena e lançado para o exílio o único homem de pulso, não há em torno de D.Manuel senão os velhos homens dos partidos, sempre envolvidos em querelas de vaidades, sempre obcecados pelo fito de conquistar o mando para si e para os seus amigos  " ( João Ameal )

 

Os partidos que aquele chamara de " rotativos ", aproveitam-se assim da inexperiência bem intencionada do Infante adolescente para voltarem ao mesmo regabofe, depois dos esforços do rei e do seu 1º Ministro para fazerem de Portugal um país decente.

Continuando a viagem há pouco encetada com Séneca,

Cristina Ribeiro, 27.01.11

através das cartas que escreve, o encanto imorredouro dos clássicos, desta feita na forma de uma chamada de atenção a Lucílio, que acusa de volúvel na amizade, no passo em que o diz desconhecedor do que, verdadeiramente, é esse sentimento.

" Dizes-me que entregaste a carta a um amigo teu, para me trazer, mas em seguida aconselhas-me a não trocar impressões com ele sobre quanto te diz respeito, pois nem tu próprio o costumas fazer. Quer dizer, na mesma carta deste-lhe e recusaste-lhe o título de ' amigo '. Ora bem, se tu usaste esta palavra não no seu verdadeiro sentido mas antes em sentido genérico, e lhe chamaste " amigo " tal como a todos os candidatos chamamos " respeitáveis cidadãos ", ainda é aceitável; se consideras, porém, amigo alguém em quem não confias tanto como em ti próprio, então cometes um erro grave e mostras não conhecer o significado da verdadeira amizade . "

 

É bem o  « filósofo da condição humana », como lhe chamou o Padre Manuel Antunes, que nos fala de valores inerentes ao ser moral que habita em cada um de nós.

Muito consciente da maior das ignorâncias em Filosóficas,

Cristina Ribeiro, 27.01.11

 

 

 

muito fruto da total inaptidão de um " professor ", daqueles que a confusão que se instalou no ensino no seguimento do 25 de Abril encarregou de leccionar uma disciplina em que, claramente, se sentia como peixe fora d'água, o interesse que mais tarde essa matéria me suscitou foi sempre sendo objecto de um " mais tarde ", até porque consciente da dificuldade do autodidactismo em tal sede. É assim que, nomeadamente do estoicismo apenas retenho, de leituras avulsas e muito superficiais, noções muito vagas, excessivamente vagas. Vem este mal-amanhado arrazoado a talho de foice, pois que entre os livros que ontem me calharam em sorte, um título me atiçou a curiosidade a pontos de com ele iniciar a leitura que uns dias de férias permite; « Cartas a Lucílio », de Séneca, de quem sei apenas ter sido um dos maiores expoentes dessa escola filosófica, de onde retiro este saboroso excerto: " Tanto aquilo que me escreves como o que oiço dizer de ti fazem-me ter boas esperanças a teu respeito: não viajas continuamente nem te deixas agitar por constantes deslocações. Um semelhante deambular é indício de uma alma doente.: eu, de facto, entendo que o primeiro sinal de um espírito bem formado consiste em ser capaz de parar e de coabitar consigo mesmo. " E convenço-me de que esta " amostra " promete belas viagens.

 

O sentido de Nação, que se esvai.

Cristina Ribeiro, 27.01.11

Muita gente  pergunta por que motivo os governos ocidentais autorizam representantes de minorias a manifestarem um ódio e uma agressividade,que, noutros tempos teria levado à prisão qualquer britânico ou francês ", escreve Roger Scruton em « O Ocidente e o Resto », numa alusão aos mullahs que, aproveitando a liberdade de expressão que não existe nos seus países de origem, incitam, com o sucesso que se tem visto, nomeadamente nessa Inglaterra que os acolheu, " à violência e à guerra santa " contra um Ocidente manietado pelo politicamente correcto.

E ele mesmo responde: " perda de identidade nacional, e do velho sentido de pertença que a acompanha.

Em busca de leituras nunca perdidas.

Cristina Ribeiro, 27.01.11

 


 

 

Continua o labor de colocar os livros na estante, mas, uma vez limpo, é mais um livro que não via " há séculos ", de que  tenho boas recordações, e lá me sento a folheá-lo, a reler bocados de uma escrita bem conhecida, pois que nele aparece já o Proust que encontrei, e nele me espelhei, mais tarde no « Em Busca do Tempo Perdido »; a melancolia introspectiva que despontava já, as memórias de infância a que então voltaria.

E, como a manta  que tecia aquela que nunca deixou de acreditar no regresso de Ulisses, nunca mais a tarefa a que deitei mãos chega ao fim.

 

Dele me lembro ao atravessar terras de Amares.

Cristina Ribeiro, 26.01.11

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Por aqui, onde se guarda, contra ventos e marés, e apesar dos pesares, muito do pitoresco da Região, retém-se a memória de um grande Poeta- Poeta do Neiva-, contemporâneo de Bernardes, o Poeta do Lima posto que a este anterior no nascimento, e de Bernardim, de quem foi  amigo dilecto, e que tendo começado o seu versejar à moda antiga, acabaria, também ele, por seguir por caminhos do Renascimento.

Recorda-o, em forma de livro, o aqui nascido, e nosso contemporâneo,  Agostinho Domingues, o filólogo que comemorou em 2008 o 450ºaniversário da sua morte com a « Nova Homenagem a Sá de Miranda ».

É aqui que encontro, inserido numa mais vasta recolha de textos a ele dedicados,  o excerto de um estudo de Carolina Michaelis, que vejo como paradigmático: « A sorte da nação não lhe era indiferente. De longe ( do Minho ) seguia com interesse os menores incidentes políticos. Os favores e as desgraças, que assinalavam a existência dos homens que tinham entre as mãos os destinos do País, comoviam-no profundamente»,  detectando, assim, nesse atento seguir do que na corte sucede « a vigilância do patriota ».

Na fotografia, a sépia, uma mulher jovem, de traços finos num rosto dominado por expressivos olhos castanhos,

Cristina Ribeiro, 25.01.11

 

 

aparentando entre 25 e 26 anos.

Por essa altura, disse-mo depois a filha, minha mãe, tinha já três filhos. O marido, carpinteiro e garfeiro, atravessara o Oceano, buscando no outro lado, numa fábrica de tabaco, o sustento de todos, que aqui não encontrava. Cartas atravessavam o Atlântico, mas a mulher achava que podia fazer mais para mitigar as saudades que o seu homem protestava a cada volta do correio.
Um dia vestiu a roupa de Ver-a-Deus, apanhou a camioneta para a cidade e dirigiu-se a um estúdio fotográfico: dali sairia com o retrato com que queria surpreendê-lo.Nele, trazido até nós, muitos anos depois, nenhum dos dois viva já, havia muito tempo, por um neto do dono da fábrica de tabaco, um pormenor que ressalta: sobre o coração a mulher prendera um raminho de amores-perfeitos.Eles falariam por ela quando a carta, que acompanhava a fotografia, chegasse ao seu destino, naquela América que já fora portuguesa. Mais eloquentes do que qualquer palavra que nela escrevesse.

Que o país está pior do que antes do 25 de Abril

Cristina Ribeiro, 18.01.11

acusam muitos portugueses.

À beira da irrelevância, disse há tempos um sociólogo. Não só irrelevância económica - longe disso -, mas também. Esta é, aliás, apenas uma consequência;

 como escreveu António José Saraiva, " Nunca se viu uma crise económica gerar uma crise moral ou espiritual. O contrário é que é verdadeiro. É sempre a falta de " tónus" moral, a falta de espírito de iniciativa, a falta de confiança em si próprio, a falta de entusiasmo que geram o fracasso(...). Na nossa história, aliás, temos o exemplo disto. Nunca a situação económica de Portugal foi tão catastrófica como na época de D. João I. O País estava em guerra de sobrevivência: os fidalgos que possuíam parte da riqueza tinham emigrado em grande número para Castela; o comércio estava interrompido pela guerra. Todavia, nessa época manifestou-se um Fernão Lopes, construiu-se o mosteiro da Batalha, ganhavam-se duas das batalhas mais importantes da nossa história, Aljubarrota e Ceuta, existiu a Corte mais culta que houve em Portugal. Se a teoria da " crise económica que gera a crise moral" fosse verdadeira, Portugal não seria independente desde o século XIV".