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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Domingo de Páscoa na vila ( e na aldeia ).

Cristina Ribeiro, 04.04.10

 

 

 

Como já não acontecia há muitos anos ( desde que começámos a passar a Páscoa em vários outros pontos do país, onde esta tradição estava ausente ), acordei, num dia cheio de sol, com as badaladas dos sinos da minha aldeia, e com o foguetório que anunciava a saída das cruzes.

Mas nem sempre foram estes os sinos que marcaram o meu Domingo de Páscoa.

Tendo nascido numa vila, era daí o compasso que nos visitava logo de manhã, tão cedo, que era grande a azáfama para reunir todos os irmãos na melhor sala da casa, onde esperávamos tão ilustre visitante, assim que ouvíamos as campainhas a anunciar a sua chegada. A mesa já posta com o melhor serviço de chá, coberta de doces da época. Sumo de laranja para alguns membros da comitiva, que iam passar o resto do dia a beber cálices de vinho do porto, nas várias casas que visitavam, e cujos donos tomavam como descortesia se o não fizessem; o pão-de-ló caseiro estava presente em todas as mesas. O padre - íntimo lá de casa, velho amigo de tertúlias nocturnas com o meu pai - sensatamente optava pelo chá. Mal o portador da cruz a pousava num dos sofás - a estadia prolongava-se por 20 minutos a meia-hora-, a mãe perfumava-a com um perfume fresco e delicado, tarefa que foi delegando, com o correr dos anos, à filha mais nova da altura.

Era hora do compasso ir visitar outra casa...

 

Por volta do Meio-Dia chegava o compasso da aldeia: é que se a casa principal se encontra em terras da vila, parte do terreno, onde se situa, por ex. a Casa do Forno, pertence a Sande, a terra natal dos pais,  aonde íamos à escola, à igreja, e onde moravam os nossos amigos.

Àquela hora já todos estavam fartos de doces, pelo que a sopa de favas que os esperava lá em casa era como maná caído do céu!

 

 

Era então chegada a hora da fotografia que todos os anos o fotógrafo local nos tirava, todos juntos no jardim. Todos de roupa nova, que era dia de festa: lembro em particular as fitas de seda, aos quadrados ou às riscas, que a mãe havia comprado para fazer os laços que prendiam as tranças das raparigas.

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