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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Hoje, de manhã, vendo um céu muito azul, e sentindo o sol quente,

Cristina Ribeiro, 05.11.09

 

revi o dia de ontem, e pensei em Scarllet O'Hara, e que " amanhã é ( sempre ) outro dia ". Foram várias as vezes que vi o filme de Victor Fleming,mas nunca li o livro de Margaret Mitchell. Há alguns anos, tinha acabado de ser editado, preparava-me para apanhar o avião para Florença, quando na livraria do aeroporto vi um volumoso livro entitulado «Scarlett» - não retive o nome do autor - ; pretendia ser a sequela da saga centrada na filha de emigrantes irlandeses ; apesar de levar leitura para a viagem, decidi-me pela compra- afinal tinha gostado muito de « E Tudo o Vento Levou»...; iria, por certo, reencontrar a Scarlett de Vivien Leigh, e o Rhett de Clark Gable... O engano não tardou a ser desfeito: lidas duas páginas e o, agora livrinho, era posto de lado, à espera de um caixote de lixo que o recolhesse. Mais uma vez concluía haver coisas nas quais se não deve remexer.

 

Dezembro de 2008

"...do Azul Cinzento do Céu..."

Cristina Ribeiro, 05.11.09

 

Que Invernia. Quando passei pelos montes vi ainda vestígios da sua passagem, nas faldas da serra. Um poucochinho fora dela, senti frio .Apenas. Muito frio. De rachar. Rajadas de vento gelado e uivante. Agora olho as mesmas faldas e já não a vejo. O sol levou-a com ele. Os picos da Cabreira e do Gerês, vejo-os ao longe, continuam brancos. E, certamente, frios.

 

 

Dezembro de 2008

 

E foi num dia assim,

Cristina Ribeiro, 05.11.09

 

em que do azul cinzento e frio do céu caíam farrapos brancos e frios, aos quais se vinha agora juntar uma chuva miudinha, que o Zé Miguel, pequenino ainda, nos mostrou que já sabia ler. Devidamente couraçados contra o frio, que por esta altura é muito intenso na cidade mais alta de Portugal, deambulávamos 'preguiçosamente pelo centro, quando começou a juntar as letras abaixo da estátua d'«O Povoador». Que aprendera com « A Rua Sésamo». Era a estreia em público.

 

Dezembro de 2008

A baía de Tele Aviv é linda,

Cristina Ribeiro, 05.11.09

 

como diz, JMB, e ameno o clima daquela região do mundo; amena e pacífica, senti, também, a convivência, em todos os sítios por onde andei, entre judeus e muçulmanos ( reconhecíveis pelos lenços islâmicos das mulheres ), numa Região que me pareceu vasta o suficiente para todos albergar. Mas os homens têm de estragar tudo, não é?

 

Dezembro de 2008

Quando busquei na Net uma imagem d'« O Nascimento de Vénus «,

Cristina Ribeiro, 02.11.09

 

 para falar da Maria Teresa ( a sobrinha, que Boticelli escolheria, entre todas, para musa, de tão linda que é, no rosto de um oval perfeito emoldurado por longos cabelos louros de suave ondulado ), foi-me muito fácil viajar até Florença, talvez a cidade que me suscita a mais rica amálgama de sensações. Era Novembro, quando lá fui pela primeira vez; estava frio, mas isso não nos impediu de calcorrear aquelas ruazinhas, onde todas as casas eram lojas de antiquários, cheias de gravuras belíssimas da cidade do Arno, em tempos mais remotos. Voltei lá noutras épocas do ano, e foi a altura de seguir os passos de Lucy, a jovem britânica que aí concretizava uma meta do Grand Tour, no Romance de E. M. Forster: Com ela fui até Santa Croce, vagueei pela Piazza della Signoria, e admirei o « David » de Miguel Ângelo. Já com os pés mais na terra, sentei-me com as minhas irmãs nas escadas de Santa Maria del Fiore, a comer pão com mozarella e manjericão, depois de ter comprado, numa livraria ao lado da Catedral, um livro sobre os Medici. Depois voltei a recuar no tempo, mas sempre com o espírito na cidade da Ponte Vecchio, porque tive vontade de procurar na estante o já há muito tempo lido «Quarto Com Vista ».

Hoje, a Maria Teresa, a sobrinha de quatro anos,

Cristina Ribeiro, 02.11.09

 

 a graciosidade em pessoa pequenina, de beleza difícil de descrever, tanto na fisionomia como nos gestos, de uma meiguice que rapidamente se transforma em teimosia- já tinha dito que também é Touro  :) -, foi ao " Senhor Doutor Simpático", numa consulta de rotina: que estava " óptima, uma futura top-model "...; não, Senhor Doutor: fosse Botticelli vivo e teria nela a mais formosa das Musas, com um rosto e uns cabelos que fariam a própria Vénus ficar pálida de inveja. Uma " Boticelli" de lágrima fácil, como hoje, durante o almoço, mais uma vez confirmámos- vale a solícita presença do irmão, o Zé João, sempre pronto a consolá-la, a protegê-la dos grandes males que já a atormentam.

A ler uma novela do escritor de Valdevez,

Cristina Ribeiro, 01.11.09

 

não me resisto a aqui dela trasladar um niquinho, por tão delicioso o topar.

 

« Deste contar do tio Cosme, singelamente lavado, fora tirando o lorde quanto é o povo fiel guardador da portuguesa linguagem, logo nisso encontrando a razão de o seu amigo Camilo tão asseadamente escrever ».

 

E, noutro passo, quando Camilo se suicidara já, « Não hesito em afirmar que, na falta do amigo bem pudera substituir-se-lhe. Grande pena que o não fizesse, pois me tiraria de lhe aguar o chorume da prosa, por certo bem castigada na leitura dos clássicos, tanto que uma só balda lhe encontro: o excesso de adjectivos. Tenho para mim e meu governo que no substantivo e no verbo se encontra a espinha vertebral da expressão ».

 

A tornar notório que esse assear não iria cair em saco roto, pois que nele encontraria herdeiro, no seio de uma escola mais vasta começada pelo homem de Seide.

No dia - 22 de Junho - em que na Grã-Bretanha, a Igreja Católica venera

Cristina Ribeiro, 01.11.09

 

St. Thomas More, designado padroeiro dos políticos ( que os ilumine! ), uma muita rápida passagem de olhos pela biografia que dele escreveu Peter Ackroyd, e a grande pena de não poder rever um filme que passou na televisão, numa daquelas saudosas noites de cinema, na RTP, do qual , além da qualidade da fita, em si mesma, retive a sempre magnífica interpretação de Orson Welles: uma época conturbada da história do País, em que More, pela força dos princípios que revelou, e corajosamente sustentou, até à machadada que lhe faria rolar a cabeça, por contrariar a prepotência, que achava desajustada e imoral, até, do seu rei, Henrique VIII, mereceu o epíteto de « Um Homem para a Eternidade ».

No primeiro ano do Secundário. Éramos 28 alunos na turma,

Cristina Ribeiro, 01.11.09

 

e a professora de desenho, que era também a directora de turma, animou-nos a fazermos um " jornal " intitulado " 28 Num Balão". Para início do dito, sugeriu que cada um de nós procurasse em sua casa um texto, um poema ou um desenho de autores consagrados. Esqueci o assunto, e só me lembrei da incumbência na noite anterior à manhã da entrega do material seleccionado. Apanhei o primeiro livro à mão, que calhou ser a Selecta Literária que no Domingo fui reencontrar na Feira de Velharias e Antiguidades de Vila Verde, e copiei o primeiro poema que encontrei - na secção dedicada a Fernando Pessoa; « Todas as Cartas de Amor são Ridículas ». É provável que tivesse já ouvido falar no poeta, mas nunca me tinha passado pela cabeça que uma pessoa escrevesse com vários nomes, e nem sequer atentei na informação adicional de que o poema fora escrito pelo heterónimo Álvaro de Campos ( hoje estou convencida de que se o tivesse feito ficaria muito confusa ). Mais tarde, porém, soube que não era só eu a ignorar tal facto, porquanto, quando o entreguei à professora, ela atirou com " engraçado, não sabia que Fernando Pessoa tinha escrito este poema ".

Estavam a chegar ao fim os dias que, por convite de uma condiscípula,

Cristina Ribeiro, 01.11.09

 

viera passar à província. Uma descoberta! nunca pensara, quando aceitou o convite, que iria encontrar tamanha beleza. Estava-se na região do Alto Tâmega e Barroso, e agora que chegava ao fim, sentia que se tornara curta a estadia que, quando a amiga lhe falou em lá ir passar as férias, pensou ir tornar-se demasiado longa. Mas antes do regresso havia uma coisa que queria fazer: no dia anterior, numa pequena loja de Chaves, comprara tela e tintas, e, nessa manhã, mal o sol se erguera por detrás daqueles montes, propôs-se pôr na tela, ela que até tinha tido lições de pintura, o que os seus olhos de tão belo viam. Começou a subir o monte, e foi atraída por uma voz infantil, que, àquela hora, estaria já, talvez, a guardar o gado, que, sabia, encontraria ali bons pastos. Andou mais uns metros, e observou, deitado, com o cão ao lado, mas de olho nas vacas à sua guarda, um pastor que cantava " Toda a vida fui pastor / toda a vida guardei gado / trago uma cova no peito / de me encostar ao cajado "; não poderia almejar melhor quadro do que aquele.

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