Como gosto de ler Vitorino Nemésio ( 3 )
« ' Terra de verdura e de névoa: terra sem ossos ' - chamou Miguel de Unamuno, espanhol nosso amigo, ao Minho e à Galiza. Mas os ossos que faltam à terra húmida e fértil, sobram ao homem próvido. O Minho é a província da pobreza seivosa e dos lameiros quase humanos. Ali, a gente e a terra fundem-se numa harmonia profunda e sofrida. A vida é dura mas alegremente levada. O cabaneiro agarra-se com igual denodo à soga dos bois, ao sacho do milho regadio e à tesoura de podar. No dia de festa do santuário larga tudo pela maceta do bombo ou pelo fole da gaita céltica. De Barcelos a Viana e de Braga a Monção estrugem foguetes de arraial, os caminhos enfeitam-se da saia barrada de Afife e dos peitos constelados de cordões »
Assim começa uma nova página do diário de bordo deste « ilhéu embarcadiço », quando, na esteira do por ele apanhado desprevenido, subindo o Chiado, Garrett, se recusa a viajar no seu quarto, antes decide empreender estas « Viagens ao Pé da Porta ». Viagens que, iniciadas em 1935 , em Azeitão, só virá a concluir trinta anos depois, mais precisamente a 20 de Junho de 1966, em São Miguel de Seide, na « Meca de Camilo ».
Março de 2009