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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Como gosto de ler Vitorino Nemésio ( 3 )

Cristina Ribeiro, 26.10.09

 

« ' Terra de verdura e de névoa: terra sem ossos ' - chamou Miguel de Unamuno, espanhol nosso amigo, ao Minho e à Galiza. Mas os ossos que faltam à terra húmida e fértil, sobram ao homem próvido. O Minho é a província da pobreza seivosa e dos lameiros quase humanos. Ali, a gente e a terra fundem-se numa harmonia profunda e sofrida. A vida é dura mas alegremente levada. O cabaneiro agarra-se com igual denodo à soga dos bois, ao sacho do milho regadio e à tesoura de podar. No dia de festa do santuário larga tudo pela maceta do bombo ou pelo fole da gaita céltica. De Barcelos a Viana e de Braga a Monção estrugem foguetes de arraial, os caminhos enfeitam-se da saia barrada de Afife e dos peitos constelados de cordões »

Assim começa uma nova página do diário de bordo deste « ilhéu embarcadiço », quando, na esteira do por ele apanhado desprevenido, subindo o Chiado, Garrett, se recusa a viajar no seu quarto, antes decide empreender estas « Viagens ao Pé da Porta ». Viagens que, iniciadas em 1935 , em Azeitão, só virá a concluir trinta anos depois, mais precisamente a 20 de Junho de 1966, em São Miguel de Seide, na « Meca de Camilo ».

 

Março de 2009

Como gosto de ler Vitorino Nemésio ( 2 )

Cristina Ribeiro, 26.10.09

 

« Recém chegado à Terceira, passo uns dias na Praia, para ver os parentes, e logo volto a Angra, onde me instalo uma semana, em casa de família também. Venho achar tudo intacto: a ilha perpetuamente redonda e cinzenta no horizonte ( verificação de bordo ); os montes, carnudos e cínzeos, embrulhadoa num eterno pano de névoa; e os campos, quietos, talhados aos quadradinhos nas achadas e nos vales. Mas a maior constância (...) é a das pessoas, a dos hábitos, a das coisas e casas (...) - o corpo da ilha e a sua alma estão concordes comigo: Nada aqui se alterou »

( Vitorino Nemésio in « Corsário das Ilhas » - Encontro de Angra - )

E, do mesmo modo, como gostaria de ouvir este Homem,cujos dotes comunicativos, de uma cultura tranbordante, me foram asseverados por quem teve o privilégio de assistir aos seus « Se Bem Me Lembro »; isto se a nossa Televisão a tanto se dignasse- saudades de um futuro que só pode existir no nosso imaginário.

 

Dezembro de 2008

Não é apenas o romancista, de por exemplo «Mau Tempo no Canal», que me encanta;

Cristina Ribeiro, 26.10.09

 

 

 

 

 

é, também, o que escreve: "Este homem elegante e amadurecido que sobe o Chiado de mão metida no colete e vai parando nalguns escaparates para fingir que não tem pressa de chegar lá a cima, às Portas de Santa Catarina, o que tem são falhas de coração. Se não está velho, está gasto. É o ano da graça de 1852: façam os senhores um esforço e sejam, comigo,desse tempo. O nosso elegante, mais tarde, vai dar o nome à rua que hoje lhe custa a subir. Em vão. Será batido pelo revisteiro do século XVI que por ali andou. O elegante transeunte está com cinquenta e três anos, mas faz-se distraído de idades e nunca passa dos quarenta. No fundo mente mal; porque na alma, na verdura, no sangue, está com os vinte e três que tinha quando, casado de fresco, fugiu para Inglaterra, ou com a idade de Cristo que levou para Bruxelas como Encarregado de Negócios, para florear na conversa e dançar com uma ponta de fastio e um ardor secreto, triste." Vemos, pois, pelos seus olhos, um Almeida Garrett longe dos fulgores da juventude, ou nem tanto assim.

Ouvir o recital de piano, do norueguês Leif Ove Andesnes,

Cristina Ribeiro, 26.10.09

 

 vencedor de vários prémios Gramophone, e descrito pelo New York Times como " o mais completo pianista da nova geração " só podia mesmo ser " música para os ouvidos ", mormente quando fez soar no instrumento as notas escritas por Beethoven para a Sonata op.27, «Quasi una Fantasia ». Mas esta minha primeira incursão pela Casa da Música não teve para os olhos a mesma impressão divina: antes me fez suspirar pelo velhinho Coliseu. Confortável e com boa acústica, senti-lhe,no entanto, a falta do ambiente visualmente acolhedor.

 

Dezembro de 2008

De que vos rides vós, Mestre Gil, que vos vejo tão folgazão?

Cristina Ribeiro, 26.10.09

 

- Estou aqui há um bom bocado, divertindo-me ao ver aquela donzela teimando montar o cavalo, que a não suporta no lombo...

-Ah! sei de quem se trata; até parece ter apostado com alguém que o conseguiria...

- Não achais que seria uma boa acção dizer-lhe que mais vale burro que a leve do que cavalo que a derrube?

-Hmm! está-me cá a parecer que vos preparais para escrever uma das vossas famosas sátiras. Só espero que não ponhais na boca da pobre Inês aquela linguagem brejeira...