Agradeço, penhorada, a gentileza do Presidente da Sociedade Martins Sarmento, António Amaro das Neves, o ter-me permitido " surripiar" este texto da sua lavra, concretamente do seu blogue pessoal Memórias de Araduca, a fim de adornar este nosso «Estado» com a referência que se impõe, a este grande vimaranense. " Francisco Martins Sarmento nasceu em 9 de Março de 1833, no seio de uma família abastada de Guimarães, com raízes em S. Salvador de Briteiros, onde fica a sua casa solarenga, em que se costumavam contar histórias dos "mouros" da Citânia, uma povoação cujas ruínas se podiam ver no Monte de S. Romão, ali bem perto. Por não ter que se preocupar com questões financeiras, estava-lhe destinado um futuro semelhante a boa parte dos jovens endinheirados do seu tempo: mergulhar na ociosidade e esbanjar a fortuna que recebeu em mãos. Mas este Sarmento, mais do que de bens de fortuna pessoal, era dotado de um espírito inquieto que o empurrava para a aventura do conhecimento.Era um filósofo que buscava permanentemente a erudição. Começou por se fazer poeta, chegando a publicar um livro, mas acabaria por renegar a poesia. Os seus estudos encaminharam-no então para a História. A partir dos finais da década de 1860 começa a cultivar a arte da fotografia. Seria a paixão por estas duas disciplinas que iria fazer dele arqueólogo. Em meados da década de 1870, começou a estudar metodicamente a Citânia de Briteiros, procurando desvendar os segredos que aquelas velhas ruínas ocultavam. Para tal, recorria ao registo fotográfico. Através de dois álbuns fotográficos que enviou a instituições e cientistas do seu tempo, Sarmento atraiu as atenções do mundo para a sua Citânia. Para a compreender, Martins Sarmento começou por caminhar por terrenos ainda desbravados, e a recolher informes sobre as velharias e tradições (encobertas) (...). A sua experiência de caçador de perdizes e coelhos armava-o com a resistência suficiente para aguentar longas caminhadas exploratórias. De novo caçador, mas agora de ruínas e notícias arqueológicas, ao longo de duas décadas(...) Inicialmente, o âmbito das suas pesquisas limitou-se aos territórios circunvizinhos; com o decorrer do tempo, e os avanços dos estudos, foi alargando o campo de trabalho, mas as suas principais referências foram sempre a Citânia de Briteiros e o Castro de Sabroso (situado num monte próximo). As notas dessas excursões (...) estão registadas em cerca de mil páginas distribuídas por nove cadernos, sob o título de « Antiqua». Compõem uma espécie de diário, que deveria servir de base aos livros que tencionava escrever. Entre finais de 1881 e o início de 1882, Sarmento entendeu que as notícias de carácter etnográfico que ia obtendo justificavam um tratamento autónomo, separando-as das de natureza arqueológica. Registou então, numa das folhas de Antiqua: "As tradições e superstições serão de ora em diante recolhidas em livro especial". Desta forma, iniciou um novo volume de apontamentos, intitulado «Contos e Tradições Populares». (...)Estes manuscritos que, desde sempre, têm sido preciosas fontes de informação para arqueólogos e etnógrafos, encontram-se entre os maiores tesouros que se guardam no Arquivo da Sociedade Martins Sarmento. Recentemente, libertados da caligrafia obscura do seu autor,foram publicados em dois volumes, um com os apontamentos de natureza arqueológica, outro com os apontamentos etnográficos."
Outubro de 2008