Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Quando partiu, há quinze dias, levava apenas uma mala.

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

No Domingo trazia, além dessa mala, uma mochila, cheia de livros sobre as Ilhas Azuis. Via-se nos olhos, também eles azuis, o quanto tinha gostado destas férias na terra das brumas, mas, soube depois, onde fora encontrar muito sol, e um céu limpo, a fazer jus ao azul que lhe é associado. Ontem mostrou-me as fotografias, e ouvindo-a falar com tanto entusiasmo, a contar, empolgada, o que sentira quando tirara cada uma delas, lamentei o não ter podido concretizar o projecto de lá ir no Verão passado. Talvez possa repetir aqueles poucos dias de Maio.

 

 

Setembro de 2008

E ainda se admiram que Salazar tenha tido o voto

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 de uma grande maioria que o considerou o maior português de sempre", disse-lhe eu, no auge da irritação. "Somos muitos os que acreditamos que os valores da Segurança e da Ordem são possíveis numa Democracia em Portugal, mas também são muitos os que se esforçam por demonstrar que eles só são possíveis numa Ditadura, e para isso contam com a conivência das autoridades". Nesse dia tinha havido, numa outra zona da cidade, perto dali, dois assaltos à mão armada, e havia mais de meia hora que ligara para a PSP pedindo-lhes que viessem acabar com a arruaça de altos berros. A escumalha deu-se ainda ao luxo de continuar a gritaria por mais um bom bocado, depois de lhe chamarmos a atenção, porque sabe que mesmo que chamemos a polícia, esta lhe dará ainda muito tempo...; e não se enganou: quando o agente chegou, limitou-se a perguntar se queríamos participar o ocorrido ao Comando Geral; que sim, pelo que preencheu um formulário completíssimo, com nome dos pais, profissão, etc. etc., ao fim do que disse - "vou pôr no relatório que encontrei tudo normal" Fiquei indignada. Depois de lhe ter dito que o colega que atendera o telefone confirmara, porque ouvira, a barulheira, ainda lhe perguntei porque é que nos fizera perder tempo com o tal formulário.Eram quatro horas da madrugada.

 

Setembro de 2008

E, claro, também as compotas.

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

. Quando chego do trabalho, sigo o aroma que vem da cozinha, e deparo com o fogão repleto de tachos onde os vários frutos cozem, numa promessa de que esses doces vão enriquecer ainda mais os nossos chás, nos tempos de invernia.Esta é a altura em que a despensa da casa fica mais bonita, cheia de frascos coloridos, como que a guardar um pouco do sol que está prestes a fugir...

 

Setembro de 2008

Outono

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 

Enquanto nos campos , e debaixo deste céu muito azul, continuam as vindimas,

 

 

e começa a apanha do milho,

 

 

 

 

cá por casa mexem-se as grandes panelas da marmelada e da geleia de marmelo, que hão-de adoçar os chás dos fins-de-semana de Inverno, a melhor das molduras das longas conversas, no aconchego que se há-de fazer.

 

22 de Setembro de 2008

Retomo a leitura das « Crónicas » de António José Saraiva,

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 interrompida há tempos, e detenho-me no trecho: " Nunca se viu uma crise económica gerar uma crise moral ou espiritual. O contrário é que é verdadeiro. É sempre a falta de " tónus" moral, a falta de espírito de iniciativa, a falta de confiança em si próprio, a falta de entusiasmo que geram o fracasso(...). Na nossa história, aliás, temos o exemplo disto. Nunca a situação económica de Portugal foi tão catastrófica como na época de D. João I. O País estava em guerra de sobrevivência: os fidalgos que possuíam parte da riqueza tinham emigrado em grande número para Castela; o comércio estava interrompido pela guerra. Todavia, nessa época manifestou-se um Fernão Lopes, construiu-se o mosteiro da Batalha, ganhavam-se duas das batalhas mais importantes da nossa história, Aljubarrota e Ceuta, existiu a Corte mais culta que houve em Portugal. Se a teoria da " crise económica que gera a crise moral" fosse verdadeira, Portugal não seria independente desde o século XIV". E interrogo-me: nesta nossa época, em que estamos a passar uma crise económica, seremos nós capazes de emular os nossos avós, "passando ainda além da Taprobana", teremos nós o valor suficiente, seremos merecedores do seu testemunho, ou a crise moral , que já vai grassando, levará a melhor?

 

"Vai ver se está a chover"

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

Dizia o pai quando não queria que assistíssemos a uma qualquer conversa de adultos. Neste fim de tarde, não preciso de ir ver, porque oiço bater "leve, levemente", e sei que é ela. Quando saímos de manhã, sabíamos já que, se não antes, era certo encontrá-la à chegada. Vou à janela e vejo o céu assim, carregado e ameaçador, e nem sequer posso dizer que tinha " saudades, Deus meu".

 

Setembro de 2008

" Gostava de ler romances "

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

Acaba de contar a minha mãe, uma vez mais. -"Comecei por ler «A Rosa do Adro», ainda era solteira, um presente do vosso pai, quando uma tarde me foi esperar ao rio, e, depois, já casada, e enquanto não tinha filhos, seguiram-se outros. Preferia o Júlio Dinis; lembro-me de ter gostado muito de ler «A Morgadinha dos Canaviais». Depois acabou-se, quando vieram vocês. Nunca mais tive tempo, mas lembro-me de que gostava..."

 

Um grande de Portugal

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

Não me lembro bem do filme de Leitão de Barros, mas retive a imagem de António Vilar a declamar no Paço da Ribeira, na presença da Infanta D. Maria. Recordo tê-lo visto, e ouvido, a pedido das damas do Paço, que lhe propunham um mote, a todos deliciar com um espantoso « Amor é fogo que arde sem se ver ».

O nosso Poeta maior... E é sobre a sua obra maior que leio, na reprodução do prefácio de uma edição d'os Lusíadas, da autoria de Ramalho Ortigão: «Os Lusíadas são a pedra monumental sob que jaz a glória da Pátria, e é nessa pedra que terão de vir afiar as suas espadas de combate todos os portugueses que se armarem para resistir a esta invasão terrível com que lutamos e que se chama- a decadência».

 

Não me lembro muito bem do filme, mas lembro ter ficado fascinada com o que acabara de ver.

 

Fim-de-semana em Saim, Concelho de Terras de Bouro,

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

Percorrido um pedaço da Geira, troço da estrada romana que ligava Braga a Astorga, em que séculos de história são sublinhados pelo esplendor da natureza, ao olhar a aldeia tenho a impressão de que revisito o passado, e volto à terra dos meus pais, na época em que por lá andei na infância: as mesmas casas de granito, à porta de cada uma delas o mesmo tojo, com que se fará a cama dos porcos, as mesmas crianças que brincam no largo.

 

Setembro de 2008

Naquele fim-de-semana em que assentamos arraiais na Ericeira,

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 

o reconhecimento da região não terminaria sem uma visita ao Convento de Varatojo, no Concelho de Torres Vedras. Neste monumento nacional, ligado à Ordem de S. Francisco, e construído no reinado de D. Afonso V, fomos encontrar o pequeno e acolhedor claustro, embelezado por uma florida glicínia, povoado ainda por apressados mas silenciosos monges, ocupados em afazeres diversos. Ali a paz era palpável.

 

Setembro de 2008

Será que também em questões climáticas

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

o primeiro milho é para os pássaros"? É o que me apetece perguntar ao mês de Setembro, que, logo depois de ter dito que era um grande mês, e que "ainda temos dias de sol pela frente" nos prega a partida de trazer um dia cinzento e chuvoso...; a continuar assim, a tarde de Sábado junto ao rio terá de ficar para outra altura...

 

Setembro de 2008

"também para mim o mês de Setembro sempre foi especial",

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

escrevi num comentário ao belo texto de Once, «O Regresso». Com efeito, sempre foi um grande mês: durante os anos que decorreram até ao fim da adolescência, nos primeiros vinte dias apenas o via como o mês da praia; a partir daí já só pensava nos amigos que iria reencontrar na escola, logo no início de Outubro, pois nessa altura as saudades começavam a apertar. Agora vejo-o como o mês em que a natureza começa, timidamente ainda, a mudar de cor, até adquirir aqueles tons castanho-avermelhados do Outono, a estação preferida, mas em que, ao mesmo tempo, ainda temos dias de sol pela frente, bons para um passeio à beira-mar, para passar uma agradável tarde de Sábado junto ao rio..

 

2 de Setembro de 2008