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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

A Tormes de Eça e de Jacinto.

Cristina Ribeiro, 10.10.09

 

 

Há uns anos estive na Quinta de Vila-Nova, em Stª Cruz do Douro, na casa que pertencera a Emília de Castro, mulher de Eça de Queirós, depois de a receber em herança de sua mãe, a Condessa de Resende, já então transformada num museu dedicado ao escritor: a Fundação Eça de Queiroz. Seria este lugar imortalizado no romance «A Cidade e as Serras», como a Quinta de Tormes, aonde Jacinto "regressa", depois de sempre ter vivido no nº 202 dos Campos Elísios, em Paris, a fim de assistir à trasladação dos ossos dos antepassados para a Capela de Família. Uma vez chegado à estação de caminho de ferro que servia o local, o dono da Quinta teve de subir a serra numa égua, seguido pelo amigo José Fernandes, montado num jumento, por um caminho "íngreme e alpestre"; mas em breve os seus males "esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita", onde "para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço"; "Jacinto, adiante, na sua égua ruça, murmurava: - Que beleza!" e José Fernandes, " atrás, no burro de Sancho, murmurava: - que beleza!". De tal forma que o "Príncipe da Civilização" irá trocar definitivamente a Cidade Cosmopolita pelo "Castelo da Grã-Ventura", que é afinal a Serra do Douro, depois de uma primeira impressão negativa, quando encontrou um casarão "inabitável", o que faz com que logo manifeste vontade de partir para Lisboa no primeiro comboio. É esta mesma impressão que Eça faz chegar a sua mulher, numa carta endereçada da Quinta de Vila Nova, aquando de uma segunda visita, em 1898, após lá ter ido com a cunhada Benedita, seis anos antes, e ter afirmado o quão maravilhoso era o caminho percorrido a cavalo: achava agora a serra " um pouco banal e mesquinha", mas tratava-se, também aqui, de "impressão pouco duradoura", tendo bastado dois ou três passeios para o fazer experimentar"l'ancien charme".

 

Maio de 2008