No dia em que se comemora o Santo, lembrar o Herói.
Cristina Ribeiro, 06.11.13
" Como não é possível separar o santo do herói, o homem de Estado do homem de Religião, o monge do paladino, tendo em vista que durante toda a sua vida foi Nun'Álvares o mesmo em santidade, em belicosidade e em acção política, parece estranho, à primeira vista, que elevemos aos altares um guerreiro que desembainhou a espada, não em luta contra os inimigos da Fé, mas contra um povo irmão em cristandade e além do mais aparentado com os portugueses pelos vínculos étnicos e históricos. ( ... ) Eram os de Castela bons cristãos, e no entanto se atiravam contra Portugal numa invasão sob todos os títulos injusta. ( ... ) Ao contrário do que sucedeu com muitos nobres, a intuição popular logo sentiu que se jogava , afinal, com a integridade da própria personalidade política da Pátria, sujeita a ser absorvida e para sempre apagada. E Nun'Álvares, não somente pelo seu génio, como pelo contacto com o povo nos tempos de lavrador nas suas terras de Entre Douro, viu claramente do que se tratava e rompendo laços fraternos, pôs-se a caminho de Lisboa, onde jurou fidelidade ao Mestre de Avis. Vêmo-lo, daí por diante, a batalhar no Alentejo, a comparecer na grande Assembleia de Coimbra, onde se discute o problema da sucessão. ( ... ) Tinha já Nun'Álvares bem feita a ideia de que Portugal era uma Nacionalidade, com marcada missão no mundo e destino muito próprio.
............................................................................................................... A lição maior de todas as que nos legou Nun'Álvares é, entretanto, a da sua própria santidade. Ele nos ensinou que tudo o que se faz na terra deve ser com os olhos e o coração postos no céu. Sendo rico fez-se pobre, e sendo grande fez-se pequeno. Ensinou-nos que o supremo destino do homem está em Deus. "
Plínio Salgado in Revista « A Nação »
Plínio Salgado in Revista « A Nação »