Os dois Grandes vistos pela lente de um grande do nosso tempo;
João Bigotte Chorão propõe-nos a incursão pela faceta ficcionista de cada um deles:
De um diz o escritor da Guarda « A impassibilidade do narrador é atitude alheia a Camilo - Camilo que nunca é escritor objectivo, mas sempre parte interessada. E de tal modo pleiteia,, que o leitor acaba por se render a essa eloquência e por tomar também partido. Há nele um pendor moralista que não lhe permite a indiferença quanto ao destino das suas criaturas, menos filhas da sua imaginação que do seu sangue ( ... ). Oprimido pelo fardo do sofrimento humano, Camilo nada mais vê nem nada mais sente, pouco lhe importando o jogo subtil de processos literários ( ... ) A novela Camiliana não se recomenda tanto pela subtileza dos processos como pelo engenho e arte do autor. ( ... ) Se a mesma vida de Camilo ultrapassa a ficção, porque é que as suas personagens não hão-de aparecer, elas próprias, singularmente romanescas? Feliz sobretudo na pintura de retratos femininos - ele são as Ricardinas, as Josefas, as Martas, as Marianas, toda uma espantosa galeria de mulheres votadas à desgraça, como se a fúria do destino se exercesse de preferência nos seres mais amoráveis e delicados -, nenhuma personagem, porém, é tão complexa e sedutora como a do próprio autor », enquanto, diferentemente, de Eça resume « Não são de ordem estilística as restrições que lhe possam ser feitas ( ... ) Onde Eça me parece passível de mais reservas é como ficcionista. Ele não é o grande romancista que os seus devotos proclamam. D'O Crime do Padre Amaro, até A Cidade e as Serras, quantos romances abortados, quantas personagens à procura de autor, quantas criaturas sem alma!
- Mas Os Maias? perguntarão. Sim, Os Maias é um notável e vasto fresco de toda uma sociedade, mas, ainda como pintura de costumes, como descrição de tipos e paisagens, vale o livro de Eça. Mais do que um subtil dissecador de almas, Eça foi um admirável crítico de costumes. Ora, como ele diz nas Prosas Bárbaras, em carta a Carlos Mayer, « na arte só têm, importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes » »
Também na Literatura « Tomamos Partido », e torna-se notório o partido tomado pelo escritor beirão. O mesmo em que me filio. Pelo menos no que ao romance, em geral, respeita. Sem embargo de reconhecer a grandeza do polemista, do cáustico observador da sociedade do seu tempo, de que deixou inestimável testemunho escrito.