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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Os dois Grandes vistos pela lente de um grande do nosso tempo;

Cristina Ribeiro, 01.03.12

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João Bigotte Chorão propõe-nos a incursão pela faceta ficcionista de cada um deles:

De  um diz o escritor da Guarda « A impassibilidade do narrador é atitude alheia a Camilo - Camilo que nunca é escritor objectivo, mas sempre parte interessada. E de tal modo pleiteia,, que o leitor acaba por se render a essa eloquência e por tomar também partido. Há nele um pendor moralista que não lhe permite a indiferença quanto ao destino das suas criaturas, menos filhas da sua imaginação que do seu sangue ( ... ). Oprimido pelo fardo do sofrimento humano, Camilo nada mais vê nem nada mais sente, pouco lhe importando o jogo subtil de processos literários ( ... ) A novela Camiliana não se recomenda tanto pela subtileza dos processos como pelo engenho e arte do autor. ( ... ) Se a mesma vida de Camilo ultrapassa a ficção, porque é que as suas personagens não hão-de aparecer, elas próprias, singularmente romanescas? Feliz sobretudo na pintura de retratos femininos - ele são as Ricardinas, as Josefas, as Martas, as Marianas, toda uma espantosa galeria de mulheres votadas à desgraça, como se a fúria do destino se exercesse de preferência nos seres mais amoráveis e delicados -, nenhuma personagem, porém, é tão complexa e sedutora como a do próprio autor  », enquanto, diferentemente, de Eça resume « Não são de ordem estilística as restrições que lhe possam ser feitas ( ... ) Onde Eça me parece passível de mais reservas é como ficcionista. Ele não é o grande romancista que os seus devotos proclamam. D'O Crime do Padre Amaro, até A Cidade e as Serras, quantos romances abortados, quantas personagens à procura de autor, quantas criaturas sem alma!

- Mas Os Maias?  perguntarão. Sim, Os Maias é um notável e vasto fresco de toda uma sociedade, mas, ainda como pintura de costumes, como descrição de tipos e paisagens, vale o livro de Eça. Mais do que um subtil dissecador de almas, Eça foi um admirável crítico de costumes. Ora, como ele diz nas Prosas Bárbaras, em carta a Carlos Mayer, « na arte só têm,  importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes »    »

 

Também na Literatura « Tomamos Partido », e torna-se notório o partido tomado pelo escritor beirão. O mesmo em que me filio. Pelo menos no que ao romance, em geral, respeita. Sem embargo de reconhecer a grandeza do polemista, do cáustico observador da sociedade do seu tempo, de que deixou inestimável testemunho escrito.