Na fotografia, a sépia, uma mulher jovem, de traços finos num rosto dominado por expressivos olhos castanhos,

aparentando entre 25 e 26 anos.
Por essa altura, disse-mo depois a filha, minha mãe, tinha já três filhos. O marido, carpinteiro e garfeiro, atravessara o Oceano, buscando no outro lado, numa fábrica de tabaco, o sustento de todos, que aqui não encontrava. Cartas atravessavam o Atlântico, mas a mulher achava que podia fazer mais para mitigar as saudades que o seu homem protestava a cada volta do correio.
Um dia vestiu a roupa de Ver-a-Deus, apanhou a camioneta para a cidade e dirigiu-se a um estúdio fotográfico: dali sairia com o retrato com que queria surpreendê-lo.Nele, trazido até nós, muitos anos depois, nenhum dos dois viva já, havia muito tempo, por um neto do dono da fábrica de tabaco, um pormenor que ressalta: sobre o coração a mulher prendera um raminho de amores-perfeitos.Eles falariam por ela quando a carta, que acompanhava a fotografia, chegasse ao seu destino, naquela América que já fora portuguesa. Mais eloquentes do que qualquer palavra que nela escrevesse.