Era sempre no dia dezasseis
Já todos em férias escolares, primeiro os mais velhos, que já frequentavam o Secundário, em Guimarães, depois nós os que ainda éramos alunos da D. Maria ou da D.Laurinha, na Escola Primária de Sande. Nesse dia, que é também o do aniversário duma irmã, a programação televisiva, até ao cair da tarde, era preenchida pelo " Natal dos Hospitais ".
Bem agasalhados, lá nos dirigíamos para o Souto, aqui perto, para apanharmos musgo, o melhor das redondezas: rasteiro e muito verde, era difícil arrancá-lo dos penedos onde crescera- lembro-me de uma vez ter dito ao irmão mais velho que " aquele " era realmente o mais bonito, mas o quão dificultoso ele era, e ele me ter respondido, com o saber de rapaz que já estudava na Cidade, " tudo o que é bom, é difícil"-
Musgo na caixa de papelão, chegara a hora de começar o Presépio: primeiro, desembrulhar as figuras, que a mãe tinha guardado no ano anterior, e eram muitas- além da Sagrada Família, havia os Reis-Magos, os pastores, as ovelhas...
A cabana, sempre muito elaborada, feita com canhotas, era o pai que a fazia.Depois podíamos dar asas à imaginação: lagos com papel de prata, caminhos demarcados com serrim...
Com o passar dos anos, o Presépio foi-se simplificando, até chegar à forma actual, em que só a Sagrada Família, o burrinho e a vaquinha aparecem, mas à volta dela os pequeninos ainda se extasiam.