Aprendera com o velho pastor,
com quem começara a guardar cabras, lá na Serra da Cabreira, e mesmo sabendo que aquele era um parente pobre dos demais instrumentos musicais, vistos de relance no livro do filho do Mestre-Escola, para ele não haveria nunca som mais bonito do que o que arrancava da gaita de beiços. Era então que esquecia os seus numerosos males...
E quando não conseguia adormecer era muito vulgar ouvir-se, e nisso rasgava o silêncio da noite, que até as relas respeitavam, o som da melodia que muitas vezes o acompanhava, noite adentro. Nessas alturas, o velho, que com ele partilhava o leito de folhelho, limitava-se a abanar a cabeça, num gesto de compreensão.E de olhos fechados, na escuridão daquele pequeno quarto sem janelas, pensava que só o tempo o ajudaria. Sabia - já passara pelo mesmo, e ali estava, rijo, pronto para lhe estender a mão, e assim guiá-lo até à claridade que, e ele sabia-o bem, não estava pronto ainda para enxergar.O tempo, a cura de todos os males...
Conhecesse o velho Marguerite Yourcenar, e pensaria, certamente, " O Tempo Esse Grande Escultor "...