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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Foi um comentário no Estado Sentido,

Cristina Ribeiro, 22.05.10

 

 

deixado pelo António: " Pelo que apreendo do seu pensamento que tenho acompanhado ao longo dos tempos, deduzo que a Cristina não se revê em qualquer modelo actualmente existente ".

Depois de ter respondido que, obviamente não, reconhecendo o meu idealismo, o de viver numa monarquia constitucional como a que ( por tão pouco tempo! ) foi protagonizada por D. Pedro V, fiquei a pensar: não é só em termos políticos que me sinto desenraizada - vejo-me a viver num país cuja História me enche de orgulho, ainda que, vistos à luz d'hoje, alguns dos seus episódios não sejam motivo de orgulho, mas, quando olho à minha volta me entristece - muito -: antes do mais porque já tenho idade para ter visto como ele era antes; quando olho para os pedaços da minha aldeia que resistiram à avalanche destrutiva lembro que toda ela era assim, e recordo que, antes desta onda gigante de consumismo, tudo era mais simples, e éramos mais felizes. E lembro que, de certo modo, a qualidade de vida das pessoas era muito melhor: havia muitos menos automóveis nas estradas, mas havia transportes públicos, sem se ouvir a toda a hora buzinadelas, e o caminho, a estrada, era quase toda nossa.

Quase toda a gente na aldeia tinha o seu pedaço de terra, a cujo cultivo se dedicava em exclusivo, ou acumulava com o trabalho nas fábricas vizinhas, enquanto a mulher, em casa, ia trabalhando nessa mesma terra- quem não a tinha, contava muitas vezes com a solidariedade dos vizinhos, para quem, muitas vezes, trabalhava ao jornal.

É a perda deste tipo de vida que explica que já não haja, com poucas excepções, como quanddo os emigrantes vêm de férias, tantos bailaricos, tantas romarias.

Não é saudosismo, é constatar que o desenvolvimento do país poderia ter sido feito sem perda de identidade.