Ler. Sempre gostei de ler, desde que aprendi a fazê-lo.
E esse meu gostar sempre foi incentivado pelo meu pai: do mesmo modo que é agora o meu, adulto já, gostava de livros infantis, pelo que saíram da sua então pequeníssima estante os primeiros livros que li, antes ainda de recorrer à Biblioteca Itinerante da Gulbenkian. Gostava de ler, e de ver os filmes que passavam na televisão, Domingo à tarde. Era do que mais gostava.
Veio depois a fase de gostar de escrever: escrevia diários em cadernos escolares, e nas férias escrevia - e gostava de receber - cartas aos amigos. Até que, quando fiz 16 anos, a turma me ofereceu um Diário a sério, lindamente ilustrado. Quando o acabei, voltei aos cadernos escolares, e agora, que tinha ido para Lisboa, já não esperava pelas férias para escrever cartas.
Como acontece com muitos adolescentes, começara a escrevinhar aquilo que, pomposamente, chamava de poemas. Mas depressa me deixei disso, por cedo ter chegado à conclusão de que quem nasceu para sapateiro, a mais não deve almejar. Voltei, pois, aos meus cadernos de escrita diarística, para consumo interno, sempre com os livros dos meus autores preferidos ao lado. Preferências que, naturalmente, se renovavam com o passar do tempo e das próprias leituras. Mas as palavras escritas, pelos outros, ou por mim, sempre me foram necessárias.
E é esse imperativo que ainda hoje me impele a escrever, num blogue que não nasceu sob esse signo, das páginas do meu diário, das coisas da vida, das memórias, da infància, das coisas de que gosto, ou das histórias que os meus pais contam.