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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Celebravam-se os 400 anos de Rembrandt.

Cristina Ribeiro, 11.11.10

 

 

Terminava naquele dia a exposição, organizada pelo museu Van Gogh, de Amesterdão, « Rembrandt / Caravaggio », em que se realçava a convergência da técnica pictórica entre os  dois grandes pintores do Barroco , que nunca se tinham encontrado: nem no tempo, nem sequer no espaço, holandês o primeiro, italiano o segundo. E não queríamos perder a mostra, que se previa, talvez, acontecimento único.

 

 

Mas a Margarida, a sobrinha, estava cansada. Acabáramos de chegar de Delft, aonde foramos logo de manhã, e aí andáramos durante todo o dia, debaixo de um sol escaldante. Queria descansar.

Propusemos-lhe então ir eu e a mãe, à vez, visitar a exposição, enquanto a outra ficava com ela sentada no grande relvado. Que estava bem.

Eu seria a primeira a ir para a enorme fila do museu, tão grande que o museu  achara por bem alargar o horário.

Não tinham passado ainda  dois minutos, quando vi a Margarida, com a mãe, juntar-se-me na espera.

Que pensara melhor, e, depois de nos ter ouvido acentuar a  importância da exposição, tivera medo de depois arrepender-se se não fosse.

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

O sol desse mês de Junho estava no pico quando deixámos a fortaleza que Adriano idealisara para ser o seu mausoléu, mas que depois, além de funções militares, foi refúgio de Papas, sempre que se sentiam ameaçados, e que foi chamado de Castelo de Santo Ângelo quando um desses  pontífices afirmou ter visto no cimo do edifício o Arcanjo São Miguel.

 

 

Passámos então, com intenção de acedermos ao centro da cidade, a ponte sobre o rio Tibre, que tem o mesmo nome do castelo, e é decorada por anjos esculpidos por Bernini.

 

 

 

Chegámos assim à  Praça Navona, onde, sentadas numa gelataria, e deliciando-nos com um dos famosos sorvetes italianos, pudemos apreciar a riqueza barroca das suas três fontes - de que se destaca a fonte, central, dos quatro rios, construída pelo mesmo famoso Bernini, e onde estão representados os quatro continentes, por via dos seus rios mais emblemáticos: Europa ( Danúbio ) África ( Nilo ), América ( Rio da Prata ), e Ásia ( Ganges), além da Igreja de Santa Agnese, desenhada pelo rival de Bernini, o também famoso Borromini.

 

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

Depois de, desde bem cedo, ainda a manhã estava uma jovenzinha, termos explorado o Monte Esquilino ( outra das sete colinas de Roma ), e depois de termos visitado aquela que é a maior igreja dedicada à Mãe de Cristo -a belíssima Santa Maria Maggiore -, aí nos encontrámos com outros hóspedes do hotel, com os quais planeáramos uma visita às catacumbas de S. Calisto, das maiores das sessenta existentes nos arredores da cidade

 

Seguimos pela Via Ápia alguns quilómetros,

 

 

 

até encontrarmos um  pequeno casario, onde se encontrava já, à nossa espera, pois que fora previamente contactado, um padre que ia ser o nosso guia num enorme labirinto de corredores estreitos e muito escuros. Depois de nos recomendar que déssemos a mão uns aos outros, como única forma de não nos perdermos, acendeu uma candeia e, sempre em fila indiana, descemos várias escadas.

Bem abaixo do nível do solo, o ambiente, húmido, era quase irrespirável, e só à luz daquela podíamos ver os túmulos escavados nas paredes

 

.

 

Só quando chegámos a um recinto com um altar, um raio de luz nos permitiu ver as pinturas alusivas aos primeiros tempos do Cristianismo: era a Capela onde se rezava a Missa.

Uma vez no exterior, o padre - um alemão que falava perfeitamente o inglês - contou-nos dos riscos que os cristãos primitivos corriam quando, no fim dos " espectáculos " no Coliseu, iam, ao coberto da noite, recolher os cadáveres das vítimas das perseguições religiosas.

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

Cansadas, mas não deixámos ainda aquele que, além de centro de comércio, foi o centro cultural, político e judicial da Roma antiga.

Ruínas da Casa de Lívia, mulher do imperador Augusto, onde se podem admirar ainda pinturas murais, não muito longe das do Palácio de Séptímio Severo ( sendo que o monumento mais bem conservado deste fórum é o Arco erigido em sua honra ), tendo no meio as ruínas da que foi a residência privada dos imperadores - a Domus Augustana -, o belo pátio da Casa das Virgens Vestais, ajardinado e rodeado de formosas estátuas...

Aí terá funcionado também o Senado e os diversos tribunais.

Do outro lado, entre as Colinas Palatina e Aventina, vemos o que resta do que foi o Circo Máximo, a grande arena onde se realizavam jogos e entretenimentos vários, como as corridas de quadrigas, celebrizadas no cinema por «  Ben- Hur ».

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

 

Não foi a primeira cidade que visitei em Itália, mas de tão impressiva que foi essa visita, na melhor das alturas, talvez, - princípio de Junho: tempo quente, mas não muito, bom para, durante oito dias calcorrear aquelas ruas, cada uma mais íngreme do que a outra, não deixando esquecer que, à semelhança de Lisboa estávamos na cidade das sete colinas, todas elas percorridas até me sangrarem os pés.

Comecei pelo Monte Palatino, onde a vista, primeiro diurna, depois nocturna, do fórum romano me deixou boquiaberta, pois se sabia que ia encontrar algo de grandioso, as expectativas foram superadas de forma a deixar-me sem palavras. Ia  munida de um guia, mas deixava a leitura sobre o que tinha visto para quando chegasse ao hotel: tive a consciência de que um simples minuto que parasse para o ler era uma perda de tempo. Apenas o tempo necessário para consultar o mapa, com legendas.

Algures na província da Corunha,

Cristina Ribeiro, 22.03.10

 

no fim do caminho quase escondido por silvas, uma pequena ermida, de arquitectura chã. Mas formosa, no inesperado da clareira que se estendia à nossa frente. Entrámos. Lá dentro apenas um monge, de hábito castanho, sentado no banco em frente de um altar despojado, fazia ouvir uma voz límpida, nos sons do canto gregoriano. Silenciosamente, sentámo-nos no último banco.

Quando acaba vira-se, e vê-nos. Vem ter connosco e fala-nos com um modo afável. Quando lhe perguntámos o porquê de um átrio tão grande, relativamente, numa capela tão pequena, diz-nos que era aí que pernoitavam os numerosos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.

Gostava de todos: Poirot, Tommy, Tuppence

Cristina Ribeiro, 22.03.10

 

mas, sem dúvida, a personagem preferida era Miss Marple, aquela " velha abelhuda " encantadora, que conhecia sempre um " caso " passado na aldeia, ao qual ia buscar a chave para desvendar cada crime novo, que deixava a polícia às voltas, feita barata tonta. Desenvolvera, durante a adolescência, uma paixão pelos livros de Agatha Christie, e como cedo ela passou às minhas irmãs, não foi muito difícil, entre todas, comprar a sua obra, editada pela « Vampiro Gigante ».

E agora ali estava eu, em Harrogate, no North Yorkshire, a cidadezinha termal onde a escritora centrara o mistério do seu próprio desaparecimento. A caminho de York, ia pernoitar num hotel Eduardiano," very cozy ", com as paredes cobertas de hera, o Saint George, e como sabia muitíssimo pouco sobre esse desaparecimento, perguntei à recepcionista se me podia dizer alguma coisa mais. Que não podia acrescentar muito, a não ser identificar o hotel onde se tinha escondido - chamava-se agora Old Swan ( não sabia se fora sempre esse o seu nome ), e disse-me qual o caminho a fazer para lá chegar. Quando o vi, acho que devo ter tido uma desilusão: um hotel normalíssimo, sem nada que fizesse lembrar os cenários descritos nos livros; o meu era muito mais charmoso.

Celebravam-se os 400 anos de Rembrandt.

Cristina Ribeiro, 22.03.10

 

Terminava naquele dia a exposição, organizada pelo museu Van Gogh, de Amesterdão, « Rembrandt / Caravaggio », em que se realçava a convergência da técnica pictórica entre os dois grandes pintores do Barroco , que nunca se tinham encontrado: nem no espaço, nem no tempo no, holandês o primeiro, italiano o segundo. E não queríamos perder a mostra, que se previa, talvez, acontecimento único. Mas a Margarida, a sobrinha, estava cansada. Acabáramos de chegar de Delft, aonde foramos logo de manhã, e aí andáramos durante todo o dia, debaixo de um sol escaldante. Queria descansar. Propusemos-lhe então ir eu e a mãe, à vez, visitar a exposição, enquanto a outra ficava com ela sentada no grande relvado. Que estava bem. Eu seria a primeira a ir para a enorme fila do museu, tão grande que o museu achara por bem alargar o horário. Não tinham passado ainda dois minutos, quando vi a Margarida, com a mãe, juntar-se-me na espera. Que pensara melhor, e, depois de nos ter ouvido acentuar a importância da exposição, tivera medo de depois arrepender-se se não fosse.

Naquela manhã, na Estação Central de Amsterdão,

Cristina Ribeiro, 21.03.10

 

quando vimos o comboio com destino a Antuérpia, nós, as irmãs, porque a sobrinha é ainda muito pequena para saber da importância dessa cidade na nossa História, tivemos o mesmo pensamento: dispuséssemos de mais tempo e iríamos, seguindo os passos dos nossos compatriotas dos séculos XV e XVI, mas de um modo incomparavelmente mais confortável, em demanda da Flandres, ali tão perto; Bruges e Antuérpia, são cidades nossas " conhecidas " desde que ouviramos falar nas Feitorias, onde se comercializavam as riquezas trazidas, depois de muitos trabalhos, da Índia, e desde então a vontade de " voltar " a visitá-las. Não seria ainda desta vez que lá iríamos procurar vestígios da passagem do amigo português de Erasmus e de Dürer.

" Não há tempo. Fica para outra altura; há mais marés que marinheiros ", prometemo-nos.

' Umas fiz, outras ficaram no sonho ',

Cristina Ribeiro, 14.02.10

 

  « Vista de Delft » -  Vermeer

 

dizia há tempos, referindo-me ao programa «Europa de Comboio », que passou, em episódios de mais ou menos uma hora, ao Domingo na RTP2. A última viagem assim feita levou-me ao interior da Holanda, num Junho bem ensolarado, por entre campos verdes semeados de cores mil, que vinham das muitas flores por ali espalhadas. Com uma irmã e uma sobrinha pequena, para quem o assento do comboio constituiu um evidente alívio, depois de tanto ter calcorreado as ruas de Amsterdão, desci, por fim, numa pequena estação de província: chegáramos a Delft, a terra daquele pintor tão apreciado, autor de alguns quadros admirados no Rijksmuseum- uma cidadezinha encantadora, também ela atravessada por canais, e repleta de edifícios, quer públicos quer de habitação, de fazer empalidecer de vergonha um português que se deite a comparar o que por lá se faz em matéria de preservação do património construído. Foi debaixo de um sol no seu máximo esplendor que entrámos na Nieuwe Kerk para olharmos o mausoléu de Guilherme o Taciturno, antes de encetarmos a viagem de regresso. De novo, a visão do comboio foi um colírio para os olhos da sobrinha, a quem, claramente, as pernas já pesavam...