viu matarem-se entre si milhões de homens que, ainda na véspera, juravam « guerra à guerra » (...) Após 1918, transformados em antigos combatentes, nem uns nem outros puseram em dúvida a legitimidade do seu sacrifício: haviam combatido pela defesa da pátria e a guerra que tinham feito era uma « guerra justa ». Durante cinquenta anos não pararam de o repetir .Porém, ainda no decorrer das hostilidades, uma dúvida nasceu nalguns deles: teria algum sentido a continuação da guerra? "
" Comparando os efeitos do tratado de Versalhes ( 1919 ) aos do Congresso de Viena ( 1815 ) , Henry Kinssinger, no seu livro« O Mundo Restaurado », observa que este último garantiu à Europa várias décadas de paz, ao passo que, desde o primeiro dia após aquele fez-se sentir um cheiro a guerra, que acabou por deflagrar menos de vinte anos após a sua assinatura(...) porque em 1815 as potências vitoriosas sobre Napoleão souberam poupar a França, país vencido (...) Essas potências tinham combatido e agido em nome da legitimidade, e em seu nome restabelecersam quase todas as fronteiras de 1792, e devolveram o trono ao legítimo herdeiro da monarquia, Luís XVIII. Em 1919, as potências vitoriosas longe de pouparem os vencidos, humilharam-nos." Uma visita à livraria revelou-se deveras frutífera, pois que, entre outras aquisições, estes dois volumes de Marc Ferro prometem algumas horas de proveitosa leitura. São os primeiros que dele leio, mas o que já tinha lido sobre o historiador francês situam-no na linha de Jacques Le Goff e de Fernand Braudel, esses sim, já conhecidos, o que é já uma garantia de honestidade histórica. O que acabo de confirmar após uma rápida leitura das páginas iniciais.
Aditamento: oportuno comentário do João Pedro " Eu não diria que nas décadas após o Congresso de Viena a paz se tenha espalhado: passámos nós, os portugueses, por muitos anos de árdua guerra civil, assim como os espanhois, e em 1848 deu-se o "ano das Revoluções". Depois disso, e tirando a Guerra Franco-Prussiana, é que se pôde dizer que houve uma era de paz, até à explosão que deflagrou em Sarajevo. Marc Ferro é um historiador muito recomendável, e parece-me que agora tem tido mais atenção editorial. No livro "Sete Homens em Guerra", que apenas li em parte, chamo a atenção para as primeiras impressões que Mussolini teve de Hitler ".