Também a mim o presente
pouco diz, Miguel. Sinto que é mau, porque afinal é este o meu tempo, mas, à parte o que me é próximo, seja em termos humanos ou não, não consigo vislumbrar a mais pequena réstia de algo que faça por ele interessar-me. Nem sempre foi assim, e tempos houve que vivi o presente com interesse; tempos houve em que esperei muito dos meus contemporâneos.E envolvi-me .Muito. Vencida pelo cansaço, na actualidade vejo só motivos de desencanto e indiferença. Refugiar-me no passado, esperando nele ver reflectido o futuro, é o que me anima, enquanto, a par desse refúgio,vou driblando o malfadado presente, ao embrenhar-me nas palavras escritas, muito no papel, um bom bocado neste suporte que foi criando afinidades mais ou menos virtuais.