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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Que o país está pior do que antes do 25 de Abril

Cristina Ribeiro, 18.01.11

acusam muitos portugueses.

À beira da irrelevância, disse há tempos um sociólogo. Não só irrelevância económica - longe disso -, mas também. Esta é, aliás, apenas uma consequência;

 como escreveu António José Saraiva, " Nunca se viu uma crise económica gerar uma crise moral ou espiritual. O contrário é que é verdadeiro. É sempre a falta de " tónus" moral, a falta de espírito de iniciativa, a falta de confiança em si próprio, a falta de entusiasmo que geram o fracasso(...). Na nossa história, aliás, temos o exemplo disto. Nunca a situação económica de Portugal foi tão catastrófica como na época de D. João I. O País estava em guerra de sobrevivência: os fidalgos que possuíam parte da riqueza tinham emigrado em grande número para Castela; o comércio estava interrompido pela guerra. Todavia, nessa época manifestou-se um Fernão Lopes, construiu-se o mosteiro da Batalha, ganhavam-se duas das batalhas mais importantes da nossa história, Aljubarrota e Ceuta, existiu a Corte mais culta que houve em Portugal. Se a teoria da " crise económica que gera a crise moral" fosse verdadeira, Portugal não seria independente desde o século XIV".

Sei que é uma pergunta inútil

Cristina Ribeiro, 16.11.10

mas sempre que " os " oiço não posso impedir-me de fazê-la: porquê. Estão mesmo a fazer de nós parvos, e, convenhamos, porque contam com a falta de memória de todo um povo, convictos que estão de que uns " rebuçadinhos " às vésperas das eleições o faz esquecer do que antes fizeram - rotativamente, ora um, ora outro, quando um dos dois partidos está no poder diz do outro que se limita ao "  bota-abaixo ", afinal a mesmíssima coisa que fizera alguns anos antes: há poucos minutos foi a vez de Sócrates, mas essa " deixa "  passará, inteirinha, ao senhor que se segue, quando chegar a vez do outro partido ir para o poleiro, e que agora está a " botar abaixo ".

E não se pode mandá-los calar?

 

" Às vezes m'espanto "

Cristina Ribeiro, 24.10.10

Como Sá de Miranda, espanto-me como é que durante anos a fio os escolhidos
pelos timoneiros ( péssimos timoneiros em terra de grandes e imortais navegadores ) para cuidar das finanças deixaram isto ir ao charco, e agora vêm, quais carpideiras dizer que " isto vai dar recessão e séria "

 Sou daquelas que pensam que Salazar falhou em questões essenciais, mas é muito convictamente que digo que todos estes, agora às aranhas, não valem um dos seus dedos mindinhos: razão primeira - não puseram, como ele, o interesse nacional acima de todas as coisas.

Estudos e mais estudos, para quê?

Cristina Ribeiro, 24.03.10

A comparação é inevitável. O governo português encomenda, com o nosso dinheiro, relatórios sobre o estado da economia - a Porter mas também a Medina Carreira - ambos lhe falam na doença estrutural,  e prescrevem as medidas a tomar. O governo trata-os como Cassandras ou Velhos do Restelo, porque essas medidas não lhe trarão os votos de que necessita para voltar à cadeira dourada do poder; logo se verá, quando o futuro chegar... . O futuro chegou e agora estamos a ver e a sentir - primeiro veio o pântano, depois a tanga, sempre, sempre até ao abismo.

Estou indignada! Chove a cântaros

Cristina Ribeiro, 07.11.09

 

 e, numa deslocação à vila vizinha vi, a passar ao longe, um deficiente mal vestido e descalço- indignação imediata, dizendo a mim mesma que esse homem tem as mesmas capacidades de sofrer que esses políticos que se empanturram de benesses à custa dos filhos de deuses menores que, não obstante as promessas feitas há 34 anos já, continuam a proliferar.

 

Fins dos anos sessenta, inícios dos setenta, nesta mesma terra, tantas vezes calcorreada, nunca vi nada igual- não havia luxos, mas não assisti a miséria igual. Conta a minha mãe que viu disso durante a 2ª Guerra Mundial e ainda nos anos cinquenta. Concluo que estamos a regredir.

 

Janeiro de 2009

Ainda a propósito das pessoas de S. Martinho de Sande, a terra dos meus pais,

Cristina Ribeiro, 20.10.09

 

 e de toda a região circundante, rumaram, nos anos sessenta, a França e à Alemanha em busca de " uma vida melhor"- era pequena e ouvia, todos os dias, os adultos comentarem: "- Fulano foi ontem a monte para França; - E sicrano foi anteontem", acrescentava alguém - ; era gente sem qualificações profissionais. Hoje esta vaga de emigração repete-se; só que, além dessas mesmas pessoas desprovidas de qualificações- tem sido enorme a sangria com destino ao Mónaco, mormente- vou ouvindo de muita gente preparada, com cursos superiores, nomeadamente, que segue caminhos idênticos.

 

E ainda se admiram que Salazar tenha tido o voto

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 de uma grande maioria que o considerou o maior português de sempre", disse-lhe eu, no auge da irritação. "Somos muitos os que acreditamos que os valores da Segurança e da Ordem são possíveis numa Democracia em Portugal, mas também são muitos os que se esforçam por demonstrar que eles só são possíveis numa Ditadura, e para isso contam com a conivência das autoridades". Nesse dia tinha havido, numa outra zona da cidade, perto dali, dois assaltos à mão armada, e havia mais de meia hora que ligara para a PSP pedindo-lhes que viessem acabar com a arruaça de altos berros. A escumalha deu-se ainda ao luxo de continuar a gritaria por mais um bom bocado, depois de lhe chamarmos a atenção, porque sabe que mesmo que chamemos a polícia, esta lhe dará ainda muito tempo...; e não se enganou: quando o agente chegou, limitou-se a perguntar se queríamos participar o ocorrido ao Comando Geral; que sim, pelo que preencheu um formulário completíssimo, com nome dos pais, profissão, etc. etc., ao fim do que disse - "vou pôr no relatório que encontrei tudo normal" Fiquei indignada. Depois de lhe ter dito que o colega que atendera o telefone confirmara, porque ouvira, a barulheira, ainda lhe perguntei porque é que nos fizera perder tempo com o tal formulário.Eram quatro horas da madrugada.

 

Setembro de 2008

Retomo a leitura das « Crónicas » de António José Saraiva,

Cristina Ribeiro, 16.10.09

 

 interrompida há tempos, e detenho-me no trecho: " Nunca se viu uma crise económica gerar uma crise moral ou espiritual. O contrário é que é verdadeiro. É sempre a falta de " tónus" moral, a falta de espírito de iniciativa, a falta de confiança em si próprio, a falta de entusiasmo que geram o fracasso(...). Na nossa história, aliás, temos o exemplo disto. Nunca a situação económica de Portugal foi tão catastrófica como na época de D. João I. O País estava em guerra de sobrevivência: os fidalgos que possuíam parte da riqueza tinham emigrado em grande número para Castela; o comércio estava interrompido pela guerra. Todavia, nessa época manifestou-se um Fernão Lopes, construiu-se o mosteiro da Batalha, ganhavam-se duas das batalhas mais importantes da nossa história, Aljubarrota e Ceuta, existiu a Corte mais culta que houve em Portugal. Se a teoria da " crise económica que gera a crise moral" fosse verdadeira, Portugal não seria independente desde o século XIV". E interrogo-me: nesta nossa época, em que estamos a passar uma crise económica, seremos nós capazes de emular os nossos avós, "passando ainda além da Taprobana", teremos nós o valor suficiente, seremos merecedores do seu testemunho, ou a crise moral , que já vai grassando, levará a melhor?

 

E o regresso ao Ideal Olímpico, não?

Cristina Ribeiro, 13.10.09

 

Nunca falho os Jogos Olímpicos; claro que há provas que prezo mais do que outras... . Mas ainda não vi , e acho que não verei, um bocadinho sequer dos que decorrem em Pequim.Porque acho que, por mais que se preze o fenómeno desportivo, lhe temos de antepor a dignidade humana, ou estar-se-á a violentar o alto ideal do Barão de Coubertin, que a teve sempre em mente, quando relançou os Jogos da Grécia Antiga.

 

Agosto de 2008

As "coisas" estão como há cento e dezoito anos.

Cristina Ribeiro, 11.10.09

 

Num artigo datado de 1890, na «Revista de Portugal», Eça de Queirós escrevia: - "As lamentáveis desordens parlamentares, as violentíssimas e desmandadas polémicas, as mútuas e terríveis recriminações com que, obcecados pela paixão, os partidos se feriam uns aos outros na sua honra, deixaram no País que assistia espantado a uma tal lavagem pública de roupa suja, o sentimento desalentado que ele exprimia por esta fórmula- tão bons uns como os outros!" E ainda dizem que a mesma água nunca passa outra vez por debaixo da mesma ponte.

 

 

Junho de 2008