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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

Camilo e Gertrudes da Costa Lobo

Cristina Ribeiro, 09.10.09

 

As minhas últimas férias foram enriquecidas pela leitura de um livro, da autoria de Manuel Tavares Telles, que trata da paixão platónica que por Camilo Castelo Branco manteve, três anos antes do encontro deste com Ana Plácido, em 1856, uma poetisa portuense, a qual viria a traduzir-se numa razoável quantidade de cartas de amor e num diário íntimo, reunidos em «Os Manuscritos Gertrudes». Começou Gertrudes por se dirigir ao escritor, solicitando a publicação de duas poesias, no jornal em que este trabalhava à época, 1853,- «O portuense». Seria a partir deste primeiro contacto que se iria desenvolver a dita paixão. "Que sentes?" é o título do segundo desses poemas. "Que sentes por mim? amor extremoso Ou fria indif'ença tua alma gelar?... E, quando meus olhos teus olhos encontram, Não sentes mil chamas teu peito escaldar? Se um brando sorriso de meiga ternura Meus lábios agita, que sentes então? Não sentes de orgulho, prazer e ventura No peito agitado profunda emoção? Se vai revelar-te furtivo suspiro Esta ânsia d'amar-te, em vão reprimida, Não sentes...oh! Dize...não sentes, qual sinto, De amar um desejo, uma ânsia insofrida? Se rápida foge uma hora a olhar-te, Em êxtase ardente, em vago ansiar De mil corações não sentes a vida Nessa hora em delírio viver e gozar? Se, às vezes,ao peso de mágoas ocultas, Eu pendo a cabeça febril e cansada Quiseras que eu fosse, buscando refúgio Poisar-te no ombro a fronte abrasada? Se, alegre me rio, se, triste, suspiro, Não sentes, qual sinto, pesar ou ventura? Se enfado, ou amor meus olhos revelam Não sentes, não sofres, , enfado ou ternura? Se olhando das nuvens as formas aéreas Contemplo, absorta, do espaço a amplidão Seguindo esse olhar, não sentes, qual sinto, A mente confusa, turvada a razão? E, quando se escuta do bronze a pancada, Que à prece nos chama, e as mãos ergo aos céus, Não sentes também de impulso suave Tua alma elevar-se aos tronos de Deus? Que sentes ao ver-me...que sentes oh! dize... Por mim o que sentes?...não queiras calar... Preciso que o digas...preciso...compreendes?... Que a vida ou a morte me dês n'um olhar!

 

 

 Abril de 2008

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