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O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

O Tempo Esse Grande Escultor

Um arquivo dos postais que vou deixando no Estado Sentido, mas também um sítio onde escrever outras coisas minhas..Sem Sitemeter, porque pretende ser apenas um Diário, um registo de pequenas memórias...

E ouviu a voz de Scarlett O'Hara: " amanhã é outro dia! "

Cristina Ribeiro, 30.06.10

 

 

Lembrava-se de ter andado toda a noite, e de ter visto no alto da montanha, que o mar ladeava, uma luzinha intermitente. Tentou lá chegar, na busca de um abrigo, mas depois de ter andado um bom bocado nessa direcção, deu-se conta de que era apenas um farol, sem ninguém lá dentro -fora em vão que chamara...

Sentiu frio, apesar de ser Junho, e a fome não ajudava. Sentiu cansaço, e deitou-se naquela posição fetal, que lhe era tão peculiar. Os olhos começaram a ceder, e a fecharem-se as pálpebras. Foi então que, vinda de algures dentro de si, ouviu aquela frase de esperança que ouvira à sulista no cinema.Mais nada.

Quando acordou, já o sol aparecera, mas ainda espreitava só, por detrás do monte. Era, na verdade, outro dia que começava, e a primeira coisa a fazer era procurar comida; depois, logo se veria. O importante é que saíra da bruma.

Um presente.

Cristina Ribeiro, 29.06.10

 

Há dias, quando me viram olhar o telemóvel a fim de saber as horas, perguntaram-me: - mas tu não tens relógio?

-Há muito tempo, respondi; e dei comigo a sorrir, a pensar no meu primeiro relógio: foi o presente que me deu o meu pai, quando fiz, com resultados satisfatórios, o primeiro  exame no secundário.

Era um Yema, tal como esse aí, mas, obviamente, num modelo anterior. De correia azul, caixa cor de prata, e fundo azul, era o meu orgulho. Chegava ao fim das aulas, em Junho, e tirava-o, porque me me fazia sentir calor no pulso, e só o ia buscar à gaveta, onde o guardara, em Outubro, quando voltava o tempo mais fresco. Memórias que fazem sorrir, na verdade...

Ainda sobre a preparação académica de D. Afonso.

Cristina Ribeiro, 29.06.10

" Na senda de D.Pedro V, quando visitou Vitória e Alberto...; bom augúrio ", foi o que se me ofereceu  dizer quando o Nuno anunciou que o Príncipe da Beira iria prosseguir os seus estudos na Grã Bretanha, e foi logo o que me veio à mente, sabida que é a minha admiração pelo Esperançoso, pelo Muito Amado.

A propósito, permito-me recorrer a um excerto do livro de Filipa Lowndes Viicente « D.Pedro V na Europa do SéculoXIX ».

 

" O principal objectivo dos Grands Tours de D. Pedro V era adquirir um tipo de instrução que não seria possível obter ficando em casa. O estrangeiro surgia como o lugar para completar a educação previamente recebida ( ... ) Viajar significava verificar o mundo ( ... ) Se para muitos viajantes contemporâneos de D. Pedro as suas referências incluíam sobretudo escritores e poetas, no caso do príncipe os livros que leva na sua bagagem mental eram essencialmente análises contemporâneas nas áreas da história, política, economia e cultura.

Com a aquisição dos conhecimentos práticos e experimentais, o príncipe completava a sua educação com um propósito bem definido: ser usada em benefício da nação em que iria reinar ".

 

Assim se faz um Chefe de Estado.

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

O sol desse mês de Junho estava no pico quando deixámos a fortaleza que Adriano idealisara para ser o seu mausoléu, mas que depois, além de funções militares, foi refúgio de Papas, sempre que se sentiam ameaçados, e que foi chamado de Castelo de Santo Ângelo quando um desses  pontífices afirmou ter visto no cimo do edifício o Arcanjo São Miguel.

 

 

Passámos então, com intenção de acedermos ao centro da cidade, a ponte sobre o rio Tibre, que tem o mesmo nome do castelo, e é decorada por anjos esculpidos por Bernini.

 

 

 

Chegámos assim à  Praça Navona, onde, sentadas numa gelataria, e deliciando-nos com um dos famosos sorvetes italianos, pudemos apreciar a riqueza barroca das suas três fontes - de que se destaca a fonte, central, dos quatro rios, construída pelo mesmo famoso Bernini, e onde estão representados os quatro continentes, por via dos seus rios mais emblemáticos: Europa ( Danúbio ) África ( Nilo ), América ( Rio da Prata ), e Ásia ( Ganges), além da Igreja de Santa Agnese, desenhada pelo rival de Bernini, o também famoso Borromini.

 

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

Depois de, desde bem cedo, ainda a manhã estava uma jovenzinha, termos explorado o Monte Esquilino ( outra das sete colinas de Roma ), e depois de termos visitado aquela que é a maior igreja dedicada à Mãe de Cristo -a belíssima Santa Maria Maggiore -, aí nos encontrámos com outros hóspedes do hotel, com os quais planeáramos uma visita às catacumbas de S. Calisto, das maiores das sessenta existentes nos arredores da cidade

 

Seguimos pela Via Ápia alguns quilómetros,

 

 

 

até encontrarmos um  pequeno casario, onde se encontrava já, à nossa espera, pois que fora previamente contactado, um padre que ia ser o nosso guia num enorme labirinto de corredores estreitos e muito escuros. Depois de nos recomendar que déssemos a mão uns aos outros, como única forma de não nos perdermos, acendeu uma candeia e, sempre em fila indiana, descemos várias escadas.

Bem abaixo do nível do solo, o ambiente, húmido, era quase irrespirável, e só à luz daquela podíamos ver os túmulos escavados nas paredes

 

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Só quando chegámos a um recinto com um altar, um raio de luz nos permitiu ver as pinturas alusivas aos primeiros tempos do Cristianismo: era a Capela onde se rezava a Missa.

Uma vez no exterior, o padre - um alemão que falava perfeitamente o inglês - contou-nos dos riscos que os cristãos primitivos corriam quando, no fim dos " espectáculos " no Coliseu, iam, ao coberto da noite, recolher os cadáveres das vítimas das perseguições religiosas.

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

Cansadas, mas não deixámos ainda aquele que, além de centro de comércio, foi o centro cultural, político e judicial da Roma antiga.

Ruínas da Casa de Lívia, mulher do imperador Augusto, onde se podem admirar ainda pinturas murais, não muito longe das do Palácio de Séptímio Severo ( sendo que o monumento mais bem conservado deste fórum é o Arco erigido em sua honra ), tendo no meio as ruínas da que foi a residência privada dos imperadores - a Domus Augustana -, o belo pátio da Casa das Virgens Vestais, ajardinado e rodeado de formosas estátuas...

Aí terá funcionado também o Senado e os diversos tribunais.

Do outro lado, entre as Colinas Palatina e Aventina, vemos o que resta do que foi o Circo Máximo, a grande arena onde se realizavam jogos e entretenimentos vários, como as corridas de quadrigas, celebrizadas no cinema por «  Ben- Hur ».

Na cidade que foi o centro do mundo: porque todos os caminhos lá vão dar

Cristina Ribeiro, 27.06.10

 

 

 

Não foi a primeira cidade que visitei em Itália, mas de tão impressiva que foi essa visita, na melhor das alturas, talvez, - princípio de Junho: tempo quente, mas não muito, bom para, durante oito dias calcorrear aquelas ruas, cada uma mais íngreme do que a outra, não deixando esquecer que, à semelhança de Lisboa estávamos na cidade das sete colinas, todas elas percorridas até me sangrarem os pés.

Comecei pelo Monte Palatino, onde a vista, primeiro diurna, depois nocturna, do fórum romano me deixou boquiaberta, pois se sabia que ia encontrar algo de grandioso, as expectativas foram superadas de forma a deixar-me sem palavras. Ia  munida de um guia, mas deixava a leitura sobre o que tinha visto para quando chegasse ao hotel: tive a consciência de que um simples minuto que parasse para o ler era uma perda de tempo. Apenas o tempo necessário para consultar o mapa, com legendas.

Um dos foliões que, nas décadas de quarenta e cinquenta

Cristina Ribeiro, 17.06.10

 

 

 

 

do século passado, no meio daquele carvalhal " pintavam a manta ", é hoje um dos meus tios, e continua o exímio tocador de cavaquinho, que já era então.

Desde pequena lembro-me dele a alegrar qualquer reunião com o som desse pequeno instrumento musical, mormente a grande romaria que ainda hoje faz as alegrias da população local, principalmente dos muitos emigrantes, que nessa altura - 29 de Julho- se encontram cá de férias - a da Santa Marta da Falperra.

Mestre também no " cantar ao desafio ", esse tio, que agora se empenha em ensinar a arte aos netos, ainda pequenos, é um daqueles a quem os tempos modernos não mataram a imaginação exigida pelos ócios agradáveis, de que fala Nemésio.

"Eu acompanhei, e também acho que valeu a pena;- Pronto, então podemos voltar lá?; - Força! "

Cristina Ribeiro, 12.06.10

 

 

 

 

 

 

 E quem resiste a este incentivo do Daniel?

Por isso voltamos atrás: depois de visitar a Ribeira Grande, o destino era o vale das Furnas, ver a linda lagoa, comer o famoso cozido nas pequenas crateras fumegantes, ver as caldeiras.

 

 

 

Depois deste primeiro dia, perfeito, e dos que se lhe seguiram a ver toda a ilha, era inevitável o fim da estada na ilha verde.

Esse começaria com o almoço na inigualável Freguesia das Sete Cidades, a que se seguiu a dificilmente contável visita à Baía do Silêncio, na Lagoa Azul da Lagoa das Sete Cidades; já várias vezes falei nos Campos Elísios, mas estou agora convencida que nenhum lugar se aproxima tanto desse campo mítico como este sítio paradisíaco 

 

 

 

 

                                                                                           

     

 

 

                                                                                                   

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